Ela tem vida pessoal

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Já era fim de tarde e o céu de Paris estava pintado dos mais diversos tons alaranjados. Porém, o ateliê da mansão Agreste continuava preenchido em uma luz branca e forte, algo que poderia até mesmo cegar os que não estivessem habituados. O cômodo também estava mergulhado no mais absoluto silencio, que só era interrompido vez ou outra pelo barulho de um digitar delicado e rápido.

Aquela paz foi interrompida rudemente por um toque de telefone. Era um toque discreto, não tão alto quanto a quebra do silencio fez parecer, mas mesmo assim era um som completamente desconhecido para o Agreste.

O homem encarou a assistente, deixando nítido o desagrado. Ela, por sua vez, encarava o aparelho celular com nervosismo, tomando-o entre as mãos de uma forma apressada e atrapalhada. Em seguida, Nathalie deu passos apressados para fora do ateliê, ignorando completamente o superior e sua possível curiosidade em saber o que era, mas deixando claro que parecia ser importante para ela.

Não é como se a assistente fosse proibida de receber ligações pessoais, o que não quer dizer que acontecia com frequência – ou que ao menos já tivesse acontecido alguma vez. Nathalie era extremamente profissional, mantinha sempre sua máscara de frieza intacta, o que só fez com sua saída de forma alarmada virasse um foco para a curiosidade de Gabriel.

Seria rude caso ele tentasse ouvir atrás da porta, mas nada poderia impedi-lo de ouvir algo se passasse por Nathalie para pegar uma xícara de café. A ideia o agradava, faziam algumas horas desde que ele deu uma pausa no trabalho... e seria interessante descobrir o que deixava a assistente nervosa.

Entretanto, quando Gabriel abriu as portas de seu santuário, encontrou a assistente zanzando de um lado ao outro no que parecia ser o fim da ligação:

— Sim, sim! Irei o mais rápido possível! Obrigada por avisar. — A voz dela saia repleta de preocupação, enquanto o aparelho era afastado de seu rosto — Devo levar uma hora de ida, depois vinte minutos até chegarmos e mais uma hora de volta — começou ela a murmurar, ainda andando sem rumo pela entrada da mansão enquanto fazia seus cálculos.

— Nathalie, — Gabriel finalmente se fez ser notado — devo supor que seja uma emergência?

— Sim! Eu preciso ir até... — ela suspirou e acenou negativamente com a cabeça antes de continuar. Mais uma vez sua máscara de frieza estava colocada, acompanhada de uma voz calma e apática — Não, não é nada realmente urgente. Eu posso resolver em alguns minutos fazendo ligações.

Era como se a curiosidade do Agreste estivesse sendo posta em jogo: caso permitisse a ida de Nathalie, provavelmente não saberia o que ela foi fazer até que ela voltasse; caso ela ficasse e fizesse as ligações, talvez conseguisse ouvir alguma coisa. Em todo caso, ele deixou seu bom senso falar mais alto – seja o que for, parecia ser sério.

— Pode encerrar seu expediente mais cedo hoje. Aproveite sua folga de amanhã para resolver seu assunto particular. — As palavras foram ditas com desinteresse, disfarçando perfeitamente a curiosidade latente de Gabriel. Quando este notou a assistente tentar ordenar algo na tela do celular com as mãos tremulas, percebeu o quão sério deveria ser o problema e quão nervosa ela realmente estava sob a aparência que queria passar — Você... — ele encarou o guarda-costas do filho, que durante todo o tempo esteve de pé em frente a porta do quarto do rapaz — Acompanhe-a. — Ordenou, deixando implícito que Nathalie deveria ser acompanhada para onde e por quanto tempo fosse necessário.

— Obrigada, senhor Agreste — agradeceu a mulher, esperando até que o chefe adentrasse o ateliê e fechasse a porta antes de deixar a máscara cair novamente.

A caminhada até o carro foi feita de forma silenciosa. A preocupação de Nathalie estava estampada em seu rosto, mas o colega de trabalho sabia perfeitamente que perguntar algo agora só iria deixa-la incomodada. De qualquer jeito, havia uma coisa que ele precisava saber e fez questão de perguntar enquanto ainda afivelavam o sinto de segurança:

Mãe SolteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora