Surpresas e coincidências de Dia das Mães

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Em uma noite de tempestade, em que os relâmpagos lançavam sua claridade pelos vidros da janela e geravam sombras monstruosas, apenas dois cômodos da grande mansão Agreste continuavam com suas luzes acesas: a entrada, onde Emilie tentava se distrair com um livro de contos; e o ateliê, onde Gabriel e Nathalie continuavam seus respectivos trabalhos.

— Senhor... — Nathalie chamou pelo superior o mais baixo possível, não queria deixa-lo irritado, ou melhor, mais irritado do que o normal.

— O que você quer? — A voz dele soou ranzinza como sempre.

— Já passa das dez, eu preciso ir para casa.

— Você ganha por horas extras — foi tudo o que ele se limitou a responder.

Ambos voltaram a trabalhar sem falar absolutamente nada, com apenas o som da tempestade e dos raios ecoando pelo ambiente. Alguns minutos se passaram e a porta foi suavemente aberta, Emilie entrou e encarou os dois:

— Já passa das dez, Nathalie. Você deveria ir para casa antes que o metrô pare de funcionar por causa da chuva...

— Querida, a Nathalie está ocupada — Gabriel tentou controlar o tom claramente irritado.

— Meu amor, a Nathalie tem a vida dela! Ela com certeza não é uma pessoa viciada em trabalho como você. — Emilie não tentou mascarar o tom cítrico das palavras.

— A Nathalie, quer dizer, eu gostaria realmente de ir para casa agora. Posso até mesmo terminar o que estou fazendo, mas se eu não for logo...

— Se quer tanto assim ir, então vá! Mas não faça questão alguma de voltar amanhã pela manhã! — O homem se levantou, apoiando as mãos na mesa — Eu sabia que esse tipo de trabalho não era para uma qualquer, eu preciso de alguém com motivação e não mais uma das suas amiguinhas cabeça de vento, Emilie!

— Nathalie é perfeita para o trabalho, você que é um péssimo chefe!

— Por favor! — A assistente interrompeu os dois — Eu preciso ir, mas volto segunda-feira no horário de sempre, pronta para terminar todo o trabalho e dentro do prazo. Gostaria que não brigassem por...

— Quem você pensa que é para me pedir algo, assistente!? — O Agreste voltou a se sentar.

— Vamos, Nathalie... — Emilie a puxou por uma das mãos — Deixa esse artista frustrado sozinho que é melhor.

Um trovão impediu que um murmúrio de Gabriel fosse ouvido pelas mulheres enquanto elas saiam do ateliê. Não era novidade para nenhuma das duas que todo aquele mal humor era devido ao prazo para um dos desfiles estar se esgotando, mas mesmo assim a Agreste não conseguia entender o motivo de tanta irritação com a assistente.

Nathalie era educada, inteligente, centrada e está sempre um passo à frente de tudo. Diferente de todos os outros candidatos à vaga, ela tinha conseguido se manter por meses, lidando perfeitamente bem com a pressão e o chefe ranzinza. Entretanto, Gabriel continuava tratando ela como uma desconhecida, um perigo em potencial.

— Obrigada por me tirar de lá — a assistente sussurrou quando soltou a mão da amiga.

— Quer que eu peça ao motorista para te deixar em casa? — A loira segurou-a mais uma vez, mas agora com um abraço — Está chovendo tanto e você mora tão longe...

— Não precisa, eu vou ficar bem — um tanto sem jeito, Nathalie retribuiu ao abraço.

Depois da despedida terna, Emilie observou a amiga seguir pela rua enfrentando a tempestade até que a perdeu de vista. Ela suspirou pesadamente, ponderando se voltaria para a sua leitura em uma das poltronas ou se exigiria explicações do marido sobre aquele comportamento.

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