Eles crescem tão rápido...

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Eram quatro e quarenta e seis da manhã e Felix estava começando a ficar nervoso.

Nathalie tinha tido duas crises de tosse, fortes o suficiente para que ambos acordassem, mas não necessariamente preocupante para que ela desse alguma explicação. No entanto, Felix se manteve acordado depois da segunda e lutou contra o sono ao máximo possível: precisava notar qualquer padrão anormal no sono da mãe.

Agora, quase uma hora depois, ela estava começando mais uma crise. Rapidamente, ele se levantou e a ajudou a se sentar na cama. Ela dormia sempre como uma pedra, mas uma vez que estava acordada de novo, era possível notar sinais preocupantes: ela parecia perder completamente o ar durante as crises – coisa que ele não conseguiu notar antes-; também parecia se incomodar com as tosses... dor, talvez?

— Água... — ela pediu assim que as tosses ficaram mais repassadas.

— Água? Quer água? — depois de um aceno positivo, ele apressadamente saiu do quarto.

Finalmente sozinha, Nathalie enterrou o rosto no travesseiro e tentou abafar ao máximo a continuação da crise de tosses. Aquilo já estava começando a incomodar mais do que ela estava disposta a permitir.

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Gabriel estava olhando para o teto do próprio quarto, seguindo os relevos decorativos do gesso e tentando ignorar ao máximo os ruídos estranhos e as sombras ameaçadoras que estavam ao seu redor. Aquilo era o resultado de horas e mais horas assistindo filmes de terror.

O papel com o placar para o figurino dos personagens estava jogado no mesmo lugar onde a lista de crueldades estava. Já não eram mais as roupas o objeto de frustração satisfatória para o estilista, agora eram as criaturas horripilantes e mal configuradas o seu alvo.

Porém, como bom criacionista que é, ele parou de prestar atenção no enredo dos filmes e começou a fantasiar sobre quais histórias de terror aquela mansão já presenciou. Era antiga, provavelmente centenária, palco para intrigas e traições da família Agreste por gerações... talvez também fosse o local de um crime ou um assassinato.

E se, por ventura, em algum lugar do subsolo houvesse uma bela dama perdida em um sono profundo provocado por um tirano? Quem sabe a alma dela estivesse pronta para assombrar qualquer um que fosse em busca de ajuda...

Só de pensar todas essas coisas, Gabriel sentiu a garganta ficar seca. Os relevos do teto não seriam mais o suficiente, ele precisava de água. Provavelmente de um exorcista também.

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A tremedeira pelo nervosismo fez com que Felix jogasse mais água no chão do que dentro do copo. Agora, ele estava bisbilhotando nas gavetas em busca de algum remédio qualquer para gripe – já tinha visto uma caixa de primeiros socorros por ali, mas não deu a atenção suficiente e agora não se lembrava de onde ela poderia estar.

Quando ele finalmente encontrou a bendita caixa, quando estava prestes a jogar o conteúdo de uma das cápsulas junto à água, ouviu passos se aproximando. O desespero fez com que ele esparramasse tudo na pia em uma tentativa falha de esconder o que estava fazendo pelas costas da mãe.

— filho?

A voz paciente e ligeiramente preocupada de Gabriel Agreste foi mais do que o necessário para que Felix sentisse o corpo inteiro se congelar. Ele estava acabado, arruinado, ele e a mãe. Nathalie iria esfregar a culpa na cara dele até a morte, a menos que...

— Oi... pai... — o rapaz loiro sussurrou sentindo a voz sair falhada pelo pânico. Jamais imaginou chamar alguém desse jeito, ainda mais se fosse um Agreste.

Mãe SolteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora