Manhã no parque

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O costume de seguir a mesma rotina durante anos fez com que Nathalie acordasse às cinco e pouca da manhã. Ver a hora estampada na tela do celular do filho – 05:22 – fez com que ela levantasse em um pulo: era cedo, mas não era o horário em que ela sempre acordava.

Outra coisa fez com que Nathalie se assustasse naquela manhã: ela não estava no próprio quarto, tão pouco no quarto do filho. Demorou alguns segundos – tempo o suficiente para que ela pensasse várias coisas absurdas – até que se lembrasse do motivo de estarem em um quarto minúsculo e tão diferente: Félix a arrastou para a mansão Agreste para que ela pudesse descansar um pouco mais.

Automaticamente, as feições de espanto se tranquilizaram e esboçaram um sorriso.

Apesar de Félix não gostar nem um pouco do trabalho dela naquela casa, preferia estar lá com ela apenas para que a mãe conseguisse dormir algumas horas a mais. Mesmo sendo um tanto teimoso e ciumento, ele era um filho maravilhoso.

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Gorila acordou no mesmo horário de sempre – por volta das 06:00 – e seguiu a mesma rotina de todos os dias naquela mansão: se preparou para ficar horas de pé como uma estátua decorado a porta do quarto de Adrien. Na melhor das hipóteses, o garoto iria ter um dia atarefado e ele seria uma estátua no estacionamento. Ao menos agora, com suas teorias sobre Nathalie, ele ficava distraído o suficiente para que as horas do expediente passassem mais rápido.

Era um trabalho entediante, mas pagava bem. Claro, não bem o suficiente para compensar os aborrecimentos que Gabriel ocasionava, mas era suficientemente bem para permanecer ali.

Quando o grandalhão chegou na cozinha, ansiando pelo café da manhã que o chef sempre preparava, se deparou com uma cena de guerra apocalíptica. Dava para dedicar um capítulo inteiro do seu futuro livro para aquilo:

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"A artilharia de pães estava completamente armada e carregada com geleia de frutas e mel.

A guerra contra os presuntos foi vencida, com direito aos resquícios das fatias de queijo e demais frios assassinados esparramados pelo campo de batalha, vulgo: chão. Um dos cabos estava cuidando da limpeza: Plagg parecia estar adorando tudo aquilo.

A grã soldado daquela guerra, Nathalie, estava tentando esconder as provas do tráfico de pó de café arremessando algumas colheradas dentro da água fervente. Ao lado, ela tentava lidar com os respingos de óleo quente proveniente de alguma coisa fritando, provavelmente batatas – elas queriam vingança pelas verduras que tinham sido esquartejadas"

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Sem saber exatamente o que a colega estava tentando fazer, além de cozinhar para o que parecia ser um exército, ele ousou perguntar:

— Nathalie, quer ajuda?

— Tudo sob con... Droga! — ela esfregou uma região perto do pulso, provavelmente foi ferida com um dos respingos — Félix faz tudo isso parecer tão fácil... — a mulher resmungou, sem saber ao certo qual prato do café da manhã deveria focar a atenção.

— Tem certeza que não quer ajuda?

Mesmo sabendo que oferecer ajuda para Nathalie era praticamente duvidar das capacidades de ser impecavelmente eficiente que ela tinha, Gorila estava preocupado com o desfecho que aquela guerra poderia ter – principalmente caso a colega colocasse fogo em toda a mansão.

— Por que você não vai acordar o Félix?

Ele apenas acenou positivamente e saiu da cozinha. Talvez não fosse seguro acordar aquele projeto de mafioso, Agreste mirim e tantas outras mais derivações que correspondiam à Felix, mas era mais seguro do que continuar ao lado de Nathalie naquela batalha contra a comida.

Mãe SolteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora