Quero café!

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Não eram nem cinco da manhã quando o alarme despertador começou a soar no quarto. Nathalie buscou rapidamente o celular na cômoda, tateando todo o móvel, até que apanhou o aparelhou e o desativou antes que Félix acordasse.

Mais uma vez, o rapaz havia dormido com ela. Tal fato não era nenhuma surpresa ou algo fora do normal: desde sempre eles dormiam juntos, Félix não ser uma criança não mudava o fato de que gostava de ficar com a mãe, assim como Nathalie ter que acordar as quatro e cinquenta não mudava o fato de gostar de ficar com o filho.

Com todo o cuidado possível, ela se levantou e começou a aprontar-se para o trabalho. Sua rotina matutina não incluía nada de muito sofisticado, apenas um banho, café da manhã, uma maquiagem rápida e grampos segurando o cabelo.

Félix estar em casa só acrescentavam alguns minutos de demora para ela sair, minutos estes que ela gastava se despedindo do filho. Seria fácil se acostumar com uma "nova" rotina durante as férias dele, ao menos mais fácil do que acostumar a tropeçar em Plagg várias e várias vezes pela manhã desde que o bichano chegara lá.

O trajeto de quase quarenta minutos até a Mansão Agreste era silencioso. Nathalie nunca puxava assunto com os motoristas de taxi, a única coisa que ela falava era "Desligue o GPS, pegue a A-13 ou A-14, eu aviso quando precisar mudar a rota". Ela passava o resto da viagem ocupada, arrumando e reorganizando a agenda de Gabriel e Adrien.

Normalmente, ela chegava alguns minutos antes das seis – jamais atrasada. Tal fato fez com que ela recebesse as chaves do portão na primeira semana. Eram raros os empregados que não se atrasavam simplesmente para evitarem ver Gabriel logo pela manhã.

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De todos os outros dias, aquela segunda-feira era diferente: Gabriel Agreste fez questão de esperar Nathalie logo hall.

Ele estava ansioso demais para colocar seu plano maquiavélico em ação. Todas as etapas escritas em um lindo papel acinzentado de gramatura 120, caligrafia rebuscada, tinta preta com adornos dourados; pequenos quadradinhos desempenhando a função de marcadores de progresso para cada um dos itens de sua lista de maldades, sendo os primeiros deles:

"Livre-se de todo o pó de café da mansão".

"Receba Nathalie, avisando-a que não terá mais café".

O homem sorriu de canto, ouvindo a porta ser aberta. Ele já havia riscado o primeiro quadradinho e agora estava prestes a riscar o segundo.

Com total ausência de delicadeza, Nathalie entrou na mansão parecendo um urso de circo: tentava equilibrar a bolsa, carteira, celular e chaves, tudo isso enquanto mandava uma mensagem de áudio.

— ... eu já cheguei. Me avisa se precisar de algo! — e, com a mensagem gravada, ela enviou. Nathalie estava tão ocupada tentando desgarrar a chave da fechadura e não deixar nada cair que nem havia notado que era observada.

— Vejo perfeitamente que você chegou, Nathalie. Eu realmente preciso avisar algo a você — Gabriel usou do seu melhor tom apático, quando na verdade, estava se corroendo de raiva por dentro.

Suas suspeitas estavam comprovadas.

Era isso.

Nathalie tinha um namorado!

Ela nunca, NUNCA, mandava mensagens de áudio. O que levaria ela avisar alguém que já tinha chego onde trabalhava, se não fosse a necessidade de compartilhar sua vida com um amante!? Não tinha nada relacionado com ela estar com as mãos ocupadas! Aquilo era culpa da paixonite!

Mãe SolteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora