No dia em que eu sumir...

268 18 9
                                    

Os conhecimentos de Nathalie sobre toda a rotina dos Agreste a fazia estar cinco passos à frente, sempre. Ela sabia do tempo que os ensaios matutinos ao ar livre demoravam, sabia perfeitamente o tempo que levariam de volta para casa e sabia que o atraso de mais de dez minutos era injustificável, ou melhor, só poderia ser causado por uma variável que ela nunca conseguiu controlar completamente:

— Félix... — ela disse baixo, observando o filho sair do carro que acabara de entrar pelos portões da mansão.

O loiro mal havia notado ela, estava ocupado demais conversando algo com o "irmão mais novo". Ele parecia estar verdadeiramente focado no assunto, despertando uma picada de curiosidade na mãe. Para a sorte dela, quando os garotos chegaram às escadas da entrada, ela ainda conseguiu ouvir uma parte da conversa:

— E é por isso que você não pode falar absolutamente, não queremos que a minha mãe se preocupe atoa. Principalmente porque eu seria obrigado a não ser tão amável com você, Adrien... — o olhar do mais velho focava inteiramente no Agreste, ignorando o mundo à volta e deixando parte de todo o ressentimento que ele sentia fluir na ameaça.

O mais novo, alheio a tudo aquilo, estava perdido entre memórias de um passado dolorosamente distante e novidades que passariam a fazer parte de sua vida agora:

— É a primeira vez que vem me esperar do lado de fora, mamãe!

Foi tudo o que ele disse enquanto acabava de subir os degraus saltitando, como se a assistente de seu pai fosse sumir a qualquer momento junto com aquela "brincadeira" de família. Ele a agarrou e abraçou, como se em um passe de mágicas ela realmente fosse sua mãe, como se ela realmente estivesse ali de novo.

Nathalie se controlou para não demonstrar surpresa alguma com todo aquele estardalhaço, ela simplesmente deixou ser abraçada e apoiou uma das mãos sobre a cabeça de Adrien. Ela não tinha como ser mais doce do que isso, não naquele momento.

— Quantas vezes eu tenho que falar que ela é minha mãe, não sua!?

— Ela é nossa!

— Minha, a sua..!

— Félix Sancoeur — a foz fria da mulher fez com que a disputa acalorada se transformasse em silencio.

— M-Mamãe... Mamãe, eu não faço ideia do que aquele motorista idiota contou a você, mas eu não tive culpa nenhuma! Eu só fui comprar um sorvete e quando voltei, eles estavam agindo como loucos! A culpa nem foi minha, o meu azar fez com que eu tivesse que andar atrás do sorveteiro por quase duas quadras e...

— Félix — novamente, aquilo bastou para que tudo retornasse ao silencio — Estava me referindo ao café da manhã com pelos de gato, mas agora que você tocou no assunto...

Ela conhecia o filho melhor do que qualquer outra pessoa, bastava dar corda e ele mesmo se enforcaria. Por mais inteligente que Félix Sancoeur pudesse ser, o nervosismo deixava-o embaralhado.

— Então o Gorila não falou sobre eu ter desaparecido no parque? — um aceno negativo da mãe fez com que ele suspirasse, abaixasse a cabeça e pensasse em alguma desculpa válida — Eu apenas devo ter confundido as tigelas de café da manhã, e sobre o parque: como eu disse, a culpa é do meu azar...

— Adrien, o seu irmão pediu permissão para comprar sorvete?

O Agreste, que a todo custo tentava se manter fora de tudo aquilo, apenas encarou o "irmão" por alguns segundos, a "mãe" e por fim acenou negativamente enquanto escondia o rosto na assistente.

— Então acredito que ele mereça um castigo adequado.

Adrien olhou mais uma vez para Félix, sentindo-se em parte culpado. O mais velho, por outro lado, encarava o Agreste de um jeito que não cabe descrição melhor do que uma comparação: "eram os mesmos olhos azuis de Gabriel quando irritado".

Mãe SolteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora