— Bia, mi hija. — Pilar evocou pelo seu segundo rebento, ao pisar o interior do quarto do hospital e encontrar a médica veterinária com o olhar vazio fixo no céu cinzento. — Cariño, necessitas de repousar. São ordens médicas. — Afagou os magros ombros de Rúbia, beneficiando da proximidade para depositar um terno beijo nos negros cabelos dela.
— Porque não trouxeste o vestido preto que te pedi? — Com uma frialdade – que lhe era pouco caraterística –, a mãe de Valentina inquiriu a progenitora, que não refreou um suspiro pela questão colocada.
— Rúbia, já discutimos o tópico... — A portadora do defeito genético da heterocromia obstruiu a que a cirurgiã prosseguisse com o diálogo.
— Sim, ma, já o fizemos e não vou permitir que decidam por mim. — Incapaz de conter o choro, rendeu-se a ele. — É última oportunidade que possuo para despedir-me dele. — Concedeu autorização ao seu primeiro soluço para que se libertasse.
— Meu amor... — Inapta a mascarar as emoções, a esposa de Eduardo atraiu a cria para o seu peito, permitindo que a mesma desabasse no seu enlace.
— Por favor, mamã, diz-me que este é um pesadelo do qual estou prestes a acordar. Eu não quero acreditar que nunca mais o vou voltar a amar. Por favor, fá-lo. — Rogou, segurando — com desmedida força — a camisola que a licenciada em medicina trajava. — Por favor, ma, diz-me que o meu Deco está vivo. — Num derrotado murmúrio, implorou. — Por favor...
— Lamento imenso, mi niña. — Segurou-a nos seus, cada vez mais, cansados braços – mas sempre fortes o suficiente para amparar os seus rebentos. — O André será sempre teu para amar. Tu sabe-o. E ele partiu a sabê-lo. — Face às palavras sussurradas e impactante palavras da progenitora, o aperto no lado esquerdo do peito de Rúbia intensificou.
— Mas eu queria dizê-lo. Mais do que isso. O André já sabia que seria o único homem que, para sempre, vou amar. Só desejava que aqui ele estivesse para que o pudesse mostrar. — Com a réstia de força que possuía, a especializada em saúde animal afastou-se e regressou àquele que, desde que conhecera o óbito do internacional português, era o seu refúgio.
O céu escuro havia sido invadido pelos raios de sol, formando um arco-íris. Ainda assim, chovia. Rúbia não chorava sozinha.— Bia, por favor, tens de comer. — Eduardo interviu, voltando ao espaço, após haver recorrido aos serviços da pastelaria encerrada no rés do chão do edifício sevilhano, com o objetivo de adquirir nutrientes que fortalecessem a sua fraca menina — para que a própria fosse capaz de sobreviver à tempestade. — Lembra-te, hijita, já não se trata apenas de ti e da tua saúde. — Quando confrontada com a advertência do arquiteto, a segunda herdeira dos Garcia conduziu a sua mão direita ao – ainda pouco visível – ventre, acariciando-o.
Após breves instantes sem proferir o que quer que fosse, rodou a sua esguia fisionomia na direção do casal, marcando encontro com as lágrimas de Pilar e a veemente apreensão no verde de Eduardo – este que possuía em mãos uma taça que dava guarida a um conjunto das mais diversas frutas.
Reduziu o espaço disponível entre ela e o casal e segurou a refeição, extraindo o papel que possibilitava a sua conservação. Engoliu em seco e sentiu o seu estômago revirar, contudo, e ciente do esforço que necessitava de empregar, conduziu uma unidade à boca, não refreando a contração do seu rosto, por consequência da amargura que caracterizava o ananás.— Bia. — Uma rouca voz que, pouco escutava mas, da qual sempre se lembrava, penetrou os seus tímpanos, provocando o erguer do seu olhar na direção da porta, até então depositado no concentrado.
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Errado | André Silva
Фанфик"Tu és perfeitamente errada para mim, Por isso é tão difícil ir embora."