D E Z A N O V E.

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Rúbia não o queria largar. E ele, certamente, não queria que ela o fizesse. Contudo, a necessidade que a espanhola possuía de questionar o jogador, na busca por respostas às inúmeras interrogações que pairavam na sua mente, coagiu-a a afastar-se, ainda que minimamente, dele.

Como é que é possível estares aqui? — Ainda desacreditada, quis conhecer, permitindo que o polegar do jogador deslizasse pelas suas bochechas, com o propósito de interceptar o trajeto das lágrimas que por elas fluíam. — Quer dizer, eu observei-te a caminhares para a zona dos seguranças. — O confuso reparo da médica veterinária provocou no primogénito de Anabela e Álvaro um divertido sorriso, que acabou por a contagiar.

E, para lá, fui. — O jovem avançado corroborou, conduzindo uma mecha dos negros fios da jovem para trás da sua orelha. — Aguardava a minha vez na fila de espera, apesar do considerável número de aparelhos de controlo ativos, quando a Jade enviou-me inúmeras mensagens a informar-me que encontrava-se no exterior do aeroporto e que era urgente a sua necessidade de conversar comigo. Honestamente, preparava-me para recusar o contacto mas ela não me concedeu, sequer, qualquer oportunidade para isso. Ligou-me e, no exato momento em que atendi e escutei a palavra "bebé", não hesitei em virar costas e esquecer que tinha uma viajem a fazer. Apesar de ter clarificado a minha situação e, consequentes intenções, para com a tua irmã prometera-lhe a minha disponibilidade e suporte. Jamais negligenciaria o meu filho pelo simples facto de não amar a mãe dele. — Por breves instantes, o desportista remeteu-se ao silêncio, ainda que intensidade e o brilho encerrados no, sempre, encantador castanho do próprio prosseguissem com o diálogo. E, mais uma vez, recordavam a Rúbia que, nunca, poderia ser Jade quando já era ela. Ciente das palavras não proferidas mas, certamente, lhe dirigidas, a especializada em saúde animal moveu, ligeiramente, o seu rosto para o lado direito, dispondo um beijo na palma da mão do português que, entretanto, havia repousado na sua bochecha.

Como te sentiste quando ficaste a conhecer que, na realidade, não eras o pai do bebé? — Por intermédio de um murmúrio, a sevilhana interrogou, ainda que consciente que aquela era uma questão que poderia, muito bem, ter permanecido guardada. No entanto, a sua curiosidade havia-a instigado a questionar.

Tenho a perfeita noção que foi errada a minha reação mas, num primeiro momento, só fui capaz de pensar em ti. Apenas em ti, Bia. E na oportunidade que surgia de podermos resultar. Exatamente porque sabia que ser o pai do bebé da tua irmã era a barreira que persistias em entre nós colocar. — O irrefletido transladar do olhar da veterinária para o chão de tijolo apenas ratificou o que o já era do conhecimento do atleta. — Posteriormente, e ao compreender que, durante todos estes meses, a real razão da nossa separação era, afinal, uma mentira, mostrei-me inábil a esconder a minha ira, Rúbia. Culpei a Jade que, de imediato, tomou essa mesma culpa. Porque, no fundo, ela sabia que eu tinha razão. Confesso que, também fui invadido por um ligeiro vazio pois, e afinal, já me encontrava convencido e, totalmente, pronto para aventurar-me, pela segunda vez, no universo da paternidade. E estava, genuinamente, feliz com essa realidade. No entanto, e apesar de não se concretizar, continuo a querer manter a promessa que fiz à tua irmã, estando disponível para o que quer que necessite. Porque ela foi parte da minha vida e tem um grande papel na tua. E, se um dia, ou quando, precisar de um ombro amigo, sabe que tem aqui um. —O amplo sorriso que habitava o bonito rosto da espanhola transmitia ao português, tudo o que ela manifestava-se incapaz de proferir. Voltou a colocar-se no enlace do mesmo sendo, de imediato, envolvida pelos tonificados braços do atleta. Sentiu um demorado e sensual beijo ser depositado na curvatura do seu pescoço, que era, indubitavelmente, demonstrador das nítidas intenções do futebolista para com ela. As borboletas conquistaram a liberdade desejada e dançaram, fervorosamente, no seu ventre, ao mesmo tempo que o seu coração parecia pronto para saltar-lhe do peito. A insigne capacidade que o irmão de Afonso possuía de lhe proporcionar as mesmas e aprazíveis sensações, como da primeira vez que se haviam encontrado, apenas ampliavam o profundo sentimento que a veterinária nutria pelo jogador de futebol.
Assim que os dentes de André capturaram a morena pele da espanhola, a própria foi incapaz de conter um suspiro de pura languidez, ao mesmo tempo que cravava as suas bem-tratadas unhas nos músculos desprotegidos pela camisola de mangas curtas que o atleta trajava, numa clara expressão à forma como o gesto dele a havia afetado.

Errado | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora