Rúbia remexia o garfo na comida que, apesar do delicioso aspecto e do aprazível cheiro manifestava-se incapaz de consumir.
O choro preso na garganta almejava por escape, as borboletas - que, em anterior momento tinham conquistado a sua liberdade e dançado o samba com todo o zoo aquando do contacto com André - haviam-se escondido e o seu peito apertava cada vez que a morena idealizava o almoço que Jade e o pai da sua filha partilhavam alegremente.Nunca, se havia imaginado numa situação como a que se encontrava. Desejava arduamente a total felicidade da sua única irmã mas a parte egoísta que todo o ser humano possuía pretendia, igualmente, ser feliz. E mesmo ciente de que não necessitava do jogador para alcançar a plenitude da sua vida, conhecia que ele, certamente, a tornaria uma melhor experiência de ser vivida.
Findou o restante do líquido incolor inserto no copo de vidro e decidiu dar por terminada a refeição, ainda que, praticamente, intocada. A voz da mãe, munida de severidade, aquando dos raspanete, devido aos acessos de fúria tanto dela como a irmã por não quererem comer a refeição confeccionada pela progenitora, sobretudo quando se tratava de algo que ambas não apreciavam, como a sopa, na sua infância, entoou na sua mente, e o sentimento de culpa atingiu-lhe de rajada.
- Já terminou? - O súbito reviver das suas memórias foram afastadas pela receosa voz de uma das funcionárias, do restaurante situado no coração de Sevilha. - Foi do seu desagrado? Há alguma coisa que possamos fazer para reverter a situação e a sua insatisfação? - De imediato, as diferentes íris de Rúbia focaram o rosto da jovem que, por sua vez, intercalava o seu olhar, dotado de ansiedade, entre o prato, quase, intacto e a médica veterinária.
- Está tudo bem, Letizia. - A progenitora da pequena Valentina procurou tranquilizar a rapariga, mencionando o seu nome, este visível e susceptível de leitura, por consequência do crachá fixo na camisola de manga curta. - A culpa é, totalmente, minha. Encontro-me sem fome. - A portadora do defeito genético da heterocromia justificou, endereçando um sorriso amarelo à assalariada. - Mas, na maior parte das vezes, não é assim. A minha mãe tem por hábito dizer que reside um buraco no meu estômago. - A de vinte e três anos de idade acrescentou, provocando uma risada à moça e, daquela forma, manifestando-se capaz de atenuar o constrangimento daquela que, visivelmente, mais aliviada, iniciou a limpeza da mesa.
- Tudo bem. Sendo assim, posso trazer a conta? - Com a sua singular simpatia, a empregada questionou.
- Por favor. - Igualmente afável, Rúbia concedeu-lhe uma afirmativa resposta, observando-a afastar-se.
No momento em que trajava o seu casaco, o genérico toque de mensagem do seu dispositivo eletrónico, bem como a vibração que o acompanhava, fez-se escutar no bolso interior do agasalho. Resgatou-o e engoliu em seco ao vislumbrar o conteúdo remetido por Jade, via rede social WhatsApp. Um vídeo de pequena duração exibia as escolhas do menu feitas pelo casal e finalizava com a imagem de André que, confrontado com a câmera, reagiu com o seu - sempre - bonito sorriso, acompanhado de uma piscadela. A descrição consistia num pedido para que a veterinária os brindasse com a sua companhia.
A feliz risada que a irmã libertava aquando da reação do namorado apertou o coração da morena. Ela conhecia aquela sensação. Havia-a sentido em Portugal, de forma constante e quatro anos antes, quando na aprazível companhia do irmão de Afonso.Involuntariamente, o seu polegar premiu o botão da curta gravação, repetindo-o, por diversas vezes, a fim de vislumbrar com maior pormenor os traços faciais e, sobretudo, o encantador sorriso do pai da sua menina.
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Errado | André Silva
Fanfic"Tu és perfeitamente errada para mim, Por isso é tão difícil ir embora."