Os ritmados passos de Rúbia, subitamente, cessaram assim que alcançou a entrada principal do colégio da sua primogénita.
Com a mochila de exígua dimensão suportada nas suas pequenas costas, com a cabeça baixa e os olhos azuis fixados no cimento, a menina de quatro primaveras andava de um lado para o outro, nitidamente, envolvida numa atípica melancolia e tristeza.
Um suspiro escapuliu por entre as cordas vocais da médica veterinária ao compreender a razão que justificava o estado de espírito pouco usual da sua menina repleta de uma epidérmica vivacidade. Também a morena de vinte e três anos encontrava-se com, evidentes, dificuldades em superar aquelas específicas vinte e quatro horas.— Tina, princesa. — A segunda filha de Pilar e Eduardo evocou pela criança captando, então e daquela forma, a sua atenção.
— Mamã! — A petiz iniciou uma desengonçada corrida na direção da progenitora, envolvendo os seus curtos braços ao redor das magras pernas daquela, logo que a alcançou. No mesmo instante, a apaixonada de André segurou-a no seu enlace, depositando um beijo na sua pequena testa. — Onde está o papá? — Valentina interrogou, repousando a sua cabeça no ombro da mulher.
— Vamos buscá-lo e levá-lo ao aeroporto, tal como lhe prometemos. — Por intermédio de um sussurro, e empregando a totalidade dos seus esforços a fim de fazer recuar as lágrimas, a especializada em saúde animal recordou, conquistando em troca um aceno de cabeça, por parte do mais jovem membro da família Garcia.
Haviam decorrido trinta dias desde aquele em que Rúbia acordara do coma e recebera a notícia da perda do seu segundo filho.
Após conhecer a antiga e intensa conexão romântica entre a irmã e o atual namorado, Jade — numa impensada decisão —, apresentara a sua carta de demissão na clínica privada que integrava e no clube da cidade — onde, temporariamente, trabalhava — e movera a sua morada para Barcelona, onde o jogador se deslocava, mensalmente, com o objetivo de a acompanhar nas consultas de obstetrícia, procurando fazer-se o mais presente possível, apesar do rompimento do casal.
No que a Valentina e André dizia respeito, pai e filha procuravam desfrutar de todas as oportunidades que possuíam para se conhecerem e ao fundamental papel que desempenhavam na vida um do outro. Partilhavam de uma invejável — e cada vez mais — inquebrável união. E por isso toda a consternação, por tão indesejada separação.
Quanto aos ex-amantes, por muito que houvesse para dizer, já nada havia que se pudesse fazer. Seriam um casal eternamente apaixonado cuja história apenas se vivera no passado.
O mês de Maio decorria de forma tranquila, ofertando aos habitantes da cidade de Sevilha, períodos de precipitação cada vez mais escassos e um sol cada vez mais quente, o que impelia à substituição das vestes de meia estação pelo vestuário caraterístico do Verão. O campeonato espanhol havia findado, no final de semana anterior, com a conquista do título de campeão nacional pela equipa do argentino Lionel Messi. Com o fim da La Liga viera, igualmente, o termo do contrato de empréstimo de André Silva à equipa da cidade e, por essa mesma razão, a sua necessidade de abandonar Espanha — o jogador que, por consequência da sua total recuperação e cicatrização das feridas provocadas pelo acidente, ficara impedido de participar nas restantes disputas da época que passara.— Então vamos, por favor, mamã. — Agitou as suas curtas pernas, numa tácita solicitação para que Rúbia a colocasse no chão. Assim que o fez, Valentina segurou a sua mão e começou a mover-se na direção do exterior. — Quero aproveitar o que resta do meu tempo com o papá. — A proclamação da menina provocou na de vinte e três primaveras o comprimir do lado esquerdo do seu peito e o consumir pelo arrependimento, por ser a responsável pelo tempo que pai e filha haviam sido privados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Errado | André Silva
Fanfiction"Tu és perfeitamente errada para mim, Por isso é tão difícil ir embora."