VII

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Tonho havia chegado a pouco, acabara de tomar um banho e estava na varando dos fundos, a viola ao lado da cadeira , um gato velho da fazenda parado perto dele e, empoleirado nos caibros da varanda , Eustáquio, o filhote de coruja que Tonho criava. Enquanto fumava seu cigarro de palha chegou Valéria, a governanta da casa.   

– Licença, coronel?

– Uai, Valéria, eu não tinha pedido procê não me chamá mais de coronel. Se ocê quiser florear meu nome me chame só de Seu Tonho, apesar de eu não gostar. – virou a cabeça para olhar melhor para ela.

– Desculpe, cor... Seu Tonho. O cocheiro do Dr. Calixto trouxe a carroça e esse recado do patrão dele. Pediu a gentileza de uma resposta.

– Tá bom. Então sirva pro Zé bolo e café na cozinha e diga que já vou lá dar a resposta pra ele.

– Pois não, patrão.

  Tonho leu com calma o bilhete do dr. Calixto e riu miúdo. Viu umas meninas correndo e chamou:

– Maria Flor!

  Uma menina negra de talvez uns seis anos correu pra perto dele.

– Bença , padrim?

– Deus te abençoe. – ele sorriu para ela e ela devolveu o sorriso. – Faz um favor pro padrim, chama o moço que tá lá na cozinha e pede pra Filó trazer um café bem forte pro padrim, pode ser?

– Tá. Licença.

 Em instantes um Zé envergonhado apareceu na porta, apertando o chapéu e pisando com cautela.

– Licença?

– Opa, se achegue Zé. – ele se levantou e apertou a mão do cocheiro, sentou-se de novo  mas puxou uma cadeira . – Senta ai.

– Que isso Seu Tonho, precisa não.

– Claro que precisa, senta ai rapaz.

  O rapaz sentou desconfiado, agradeceu com um aceno.

– Então, seu patrão me convidou pra jantar com ele.

– Uai, que beleza Seu Tonho! Deve de sê pra agradecer o auxilio.

– Cê sabe que eu imaginei o mesmo. Mas eu queria fazer umas perguntas procê primeiro. – ele se inclinou, sussurrando. – Eu não sou letrado, fui criado na lida , igual ocê, queria saber como ele é , pra num fazer feio, sabe?

– Uai, seu Tonho, ajudo o senhor com prazer. Mas preocupa não, o dotô , apesar de ser o homem mais sabido que eu já conheci, fala com educação cu nóis, tá sempre disposto a judá os otro, trata cum respeito a fia e a muié e não é enjoado com comida nem nada.

   A conversa durou mais alguns minutos . Eles tomaram café, Tonho tocou um pouco de viola e Zé voltou com uma resposta positiva para seu patrão.

   Na noite combinada Tonho vestiu o melhor terno que possuía, selou Currupio, o cavalo que trouxe de Ribeirão e rumou para a fazenda  do Dr. Calixto. A marcha foi tranquila , Currupio era um alazão forte, que foi acostumado a rumar longas distancias, a marcha era regular, tão precisa que o andar dele podia fazer as vezes de acompanhamento para a viola de Tonho. Nas costas Tonho trazia sua companheira, afinada , pronta pro uso.

   Avistou a porteira da fazenda. Zé estava a sua espera, trazia junto consigo dois meninos , de uns treze anos.

– Noite , Zé. – Tonho colocou o chapéu para trás , sorriu para o cocheiro.

– Noite , Seu Tonho. – se aproximou do cavalo que parara. – Vim presentá pro sinhô meus meninos: Cosme e Damião. Eles vão subi com o sinhô e adispois levá seu cavalo pro estábulo, pra ele se refrescá e cumê.

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