2° Capítulo - Desaparecida

319 56 5
                                    

12 de junho de 2006

Moira está sentada na cama de Rosie. Embora tenhamos quartos separados, eu os convenci a colocar uma cama no quarto dela, porque ela não conseguia dormir sozinha.

Ela conta uma história, e Rosie está maravilhada com o conto; seus olhos azuis brilham, e é quase como se ela estivesse imersa naquele universo que escuta.

Me sinto incomodada, as histórias são sempre da mesma forma.

Após terminar de ler aquele livro, mamãe nos fita:

— O que acharam da história?

Rosie indaga sorridente:

— Eu adoro a Branca de Neve, ela é uma das minhas princesas preferidas. Podemos assistir ao desenho dela amanhã?

— Peçam à Nancy para passar após fazerem o dever de casa.

Moira me olha e franze as sobrancelhas:

— Algum problema, Harper?

— Eu não gosto da Branca de Neve.

— Por que não?

— Porque as princesas sempre têm que ser fracas? Por que os príncipes têm que salvá-las? Elas podiam ser fortes, a Branca de Neve podia ter batido na bruxa e não ter comido a maçã. Ela podia ser forte e não precisar do príncipe...

— É apenas uma história, Harper! Por que é tão difícil te agradar? Por que não pode simplesmente ouvir e apreciar as histórias que conto, sem questionar como a sua irmã faz?

O som da batida de papai na porta a faz redirecionar sua atenção para ele.

Com um suspiro, abaixei a cabeça, envolvendo minha boneca num abraço.

Moira beija a cabeça de Rosie e me observa por alguns segundos antes de beijar a minha. Em seguida, sai do quarto:

— Boa noite, garotas.

Fecha a porta.

Eu me sento na cama, observando as sombras sob a porta, que desaparecem rapidamente.

Rosie me olha, sentando-se na cama com seu urso, e sussurra:

— Acho que ela ficou brava com você.

— Eu vou pedir desculpas.

Ela concorda com um aceno silencioso.

Saltei da cama e desloquei-me rapidamente em direção à porta, contornando o corredor com agilidade.

Ao avistar a porta entreaberta do quarto dos meus pais, parei e ouvi Moira reclamando enquanto estava sentada à penteadeira:

— Ela é estranha, nada é bom o suficiente, questiona tudo. Não entendo por que a Harper é assim. Ela tem apenas oito anos. Devia ser menos irritante e ser mais como a Rosie.

— Ela é apenas uma criança, meu amor. Ela é curiosa e inteligente.

— A Rosie é inteligente, ela entende tudo e não fica cheia de perguntas. Harper já é... diferente. Me irrita. Parece até fazer de propósito!

Sai correndo antes que me vissem, entrei no quarto e encostei-me à porta.

Minha respiração estava descompassada, temendo que percebessem que saí da cama.

Com os olhos marejados, percebi Rosie se aproximando sussurrando:

— Ela brigou com você?

Balancei a cabeça discordando, enquanto a abraçava e deixava as lágrimas caírem.

Cartas para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora