8° Capítulo - Cumplicidade

212 54 0
                                    

Estou me sentindo muito envergonhada por encontrar o Grant. Por que merda eu fui chorar na frente dele? Droga! Ele deve estar pensando que sou uma garota fraca.

Ainda não saí da cama. Eu sei que ele costuma acordar cedo, e espero que já tenha saído para que eu não precise encontrá-lo tão cedo.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem para a psicóloga britânica. Assim que ela respondeu que poderia me atender, transferi o pagamento para a conta dela e iniciei a chamada de vídeo, arrumando meu cabelo e limpando meus olhos.

Ela atendeu e estava impecável. O fuso horário é diferente, o que explica a diferença. Ninguém acordaria tão bem assim.

Sorri ao me ver:

— Fico feliz que você tenha chamado novamente.

— Eu cometi alguns erros.

— O que aconteceu?

— Estou em Cancún com... um... amigo. Acontece que esse amigo é namorado da minha irmã, que está desaparecida, e não somos tão amigos assim. Ele está me ajudando a encontrá-la. Eu não gosto muito dele; é bem egocêntrico e esnobe, sabe?! Enfim... Acabou que eu vi meu ex-namorado aqui, e ele está bem, casado, com filho, a mulher está grávida e ainda é bonita. Me senti péssima, queria chorar, encher a cara e usar drogas. Me senti vazia, sozinha e com uma vida mais fodida do que já é.

— Desculpe, Harper, eu não consegui associar o que uma coisa tem a ver com a outra. Pode falar mais sobre isso?

— É que eu fiquei mal, e o Grant, namorado da minha irmã, me acompanhou para ir embora e me disse algumas coisas, e eu chorei na frente dele. Me senti horrível e, por algum motivo louco, saí falando e chorando. Eu não sou de fazer isso. E agora eu simplesmente não sei como agir com ele. Não sei como o encarar.

— Desculpe a pergunta, mas você tem uma vida social?

— Claro que tenho. Quer dizer, não é uma vida social da qual você diria, "nossa, que vida social é a sua", mas eu tenho.

— Quantos amigos você tem?

— Por que isso importa?

— Pode me dizer?

— Ah... Tem a Lace. E a.... Por que isso importa?

— Faz quanto tempo que não fala com a Lace?

— Eu não estou entendendo a finalidade disso.

— Quanto tempo, Harper?

— Cerca de... Um ano, eu não sei, a conheci em uma boate em Nova York, a gente saía junto, tinha outra amiga dela, era loira, eu não lembro direito o nome. Só que ela morreu. Overdose, algo assim, a Lace sumiu.

— Essas são suas únicas amigas?

— As outras estão distantes, vivendo suas vidas e não têm tempo para nada.

— Já teve algum namoro duradouro?

— Claro! Quer dizer, onde quer chegar?

— Por que tem tanta dificuldade de ter pessoas próximas de você?

— Eu não tenho, sou sociável, sou uma pessoa legal.

— Por que a dificuldade de as manter?

— Eu... Estou fazendo essa merda de terapia para você me ajudar e não ficar enchendo o saco perguntando coisas que não têm nada a ver.

— Acontece que essas "coisas" das quais estou questionando têm tudo a ver. Você tem dificuldades de manter as pessoas na sua vida por qual motivo? Medo delas te conhecerem? Medo de criar laços? Medo de se machucar ou ser abandonada?

Cartas para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora