Penúltimo Capítulo - Se Encontrar

210 54 3
                                    

Ao longo da viagem, minha mente estava imersa em pensamentos sobre o retorno a Albany, ansioso para estar de volta à minha cobertura, revivendo os lugares exatos onde toda essa jornada frenética teve início.

Ao desembarcar do avião e observar o trajeto percorrido pelo Uber até minha casa, era como se estivesse revisando momentos da minha vida pelos quais não me orgulho.

Ao adentrar a cobertura, as paredes, a decoração, tudo ao meu redor parecia ressuscitar sentimentos que tenho reprimido ao longo de toda a minha vida.

Este espaço, que deveria ser um refúgio para mim, transformou-se em uma prisão. Mantive aqui dentro todas as emoções negativas que sentia, transformando o local que deveria proporcionar bem-estar em um espaço onde me sentia aprisionada pelas sombras do meu passado.

Agora me pergunto, como pude demorar tanto para me reencontrar?

Caminhei até meu quarto e decidi tomar um banho. Apesar do cansaço que começava a se fazer presente, o amanhecer tornava impossível pegar no sono.

Diante do espelho, passei longos minutos me observando. A raiz escura do meu cabelo, uma característica compartilhada com Rose, que, assim como eu, possui naturalmente um tom de loiro escuro mas eu sempre os clareio para criar uma distinção.

Permaneci diante daquele espelho tempo o suficiente para tentar me convencer da minha própria beleza, mesmo que enxergasse também a tristeza refletida em meus olhos. Tornou-se claro que é uma tarefa difícil esperar o amor dos outros quando ainda não aprendemos a nos amar verdadeiramente.

Abraçando meus cotovelos, como se estivesse me envolvendo em um abraço reconfortante, respirei profundamente enquanto encarava meus olhos no reflexo do espelho.

Firmei a determinação em minha voz:

— É hora de nos amarmos e aprender a cuidar de nós mesmos de maneira mais dedicada.

Segui na direção que julguei ser mais fácil, mesmo sentindo uma diferença interna. É uma tendência minha buscar o caminho que parece mais fácil, e talvez isso seja algo comum a todos. No entanto, reconheço que a mudança é um processo diário, e não devo me cobrar excessivamente. Tenho que respeitar o meu próprio tempo...

Estacionei diante da imponente mansão dos Sinclair, contemplando a grandiosidade e beleza que a transformavam quase em um castelo.

Avancei em direção à entrada e, antes mesmo de eu bater à porta, o mordomo a abriu:

— Bom dia, Srta. Murray. — Ele só poderia estar aguardando atrás da porta, não há outra explicação.

— Bom dia. Grant está?

— Está tomando café da manhã. Entre.

Passei por ele, sendo guiada até a sala de estar, onde avistei Grant saboreando uma salada de frutas e ocupado com seu notebook durante uma chamada.

Reflito sobre a agitação de sua vida. Como alguém pode apreciar esse ritmo?

Ele parece surpreso ao me ver ali, observando-me por longos segundos.

Sorrio, meio sem jeito, por ter aparecido sem avisar.

Ele finalizou a ligação e levantou-se da mesa se aproximando:

— Harper, está tudo bem?

— Eu não pareço bem?

— Só não imaginei que viria até aqui. O que aconteceu?

— Nada. Está tudo bem. Só queria conversar com você.

— Já tomou café? Sente-se...

— Poderia ser em outro lugar? Não me sinto muito à vontade aqui.

Cartas para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora