Último Capítulo - Última Carta

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O silêncio pairou por longos minutos, apenas nos observávamos e, por alguma razão, não sabíamos ao certo o que dizer um ao outro.

Pisco algumas vezes, tentando processar aquilo. Por que ele não tem motivos para estar aqui. Ou tem?

— O que faz aqui? — Não consigo ser sutil.

Grant dá um belo sorriso e molha os lábios:

— Acho que precisava de um descanso. Então me lembrei que tinha tirado férias quando nos vimos pela última vez, e eu desisti delas por causa do incidente, então... Resolvi retomá-las.

— Aqui? Na Suíça?

— É um lugar incrível.

— Não vai conseguir ficar na praia porque é muito gelado, não tem muita diversão porque estamos no inverno, então, não faz muito sentido vir curtir suas férias aqui, onde não tem nada que possa te interessar.

— Tem você aqui.

Sinto meu coração descompassar.

O silêncio novamente preencheu aquele bangalô. Desvio o olhar, piscando algumas vezes e, embora eu queira, existe algo que de alguma forma repele isso.

Ao notar que estou confusa e um pouco desnorteada, Grant sugere:

— Devia entrar e fechar a porta, está bem frio.

Concordo e fecho a porta imediatamente. Dou alguns passos para o interior e ele sugere:

— Acho que não gostou muito da surpresa, mas para compensar, eu preparei chocolate quente.

— Como...? Quem te falou como chegar aqui?

— Rosie.

— Por que?

— Porque ela sabe que me importo com você.

— Por que se importa comigo?

Ele deu de ombros.

Questiono, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha:

— Por que você não ficou para ver se eu ficaria bem após a overdose? Você desapareceu, e eu tive que te procurar.

— Eu estava fugindo, Harper.

— De mim?

— Do que estava acontecendo comigo.

— Você parou de fugir?

— Eu fiquei confuso, ainda estou, para ser honesto. Não quanto ao que sinto, nem a você, mas em relação a mim. Quando comecei a te ver de uma forma diferente, tentava convencer a mim mesmo de que isso acontecia porque você era idêntica a Rosie. No entanto, depois da overdose, percebi que não se trata apenas de aparência, mas sim de personalidade, visão de mundo. A pessoa que você é não tem nada em comum com a Rosie. O que eu sentia por ela é bastante diferente do que sinto por você. Fiquei em conflito porque meu maior medo era de você pensar que eu estava trocando ela por você ou algo assim. No entanto, quando a vi no hospital, percebi que não era uma questão de troca. Apesar de gostar muito dela, nós não tínhamos o que eu pensava que tínhamos. Quando ela estava ali, me sentia aflito, pois queria que fosse você. Eu queria ser moralista, queria que você me xingasse, ficasse irritada por eu estar concentrado no trabalho e não em você, ou até mesmo que me xingasse e batesse, chorando, por ser sensível e ter medo de demonstrar e parecer fraca.

— Grant...

— Espera... Eu quero falar porque da última vez que nos vimos e eu te deixei ir embora, me arrependi. Senti que não poderia terminar daquela forma. Não precisava ser um adeus. Eu não quero fugir de você porque você faz meu mundo parecer maior. Me sinto melhor quando estou com você.

Cartas para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora