Capítulo 28: Fantasma

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"Então, descanse em paz
Eu vejo você do outro lado."

Eu sempre tive muito medo da morte, talvez por causa dessa mistificação de que morrer dói, mas aprendi que nem todo tipo de morte é dolosora.

Porém, sempre me perguntava se era possível morrer e continuar vivo. Parece meio controverso, não é? Eu pensava que isso seria algo impossível, uma coisa estúpida, até perceber que eu era assim.

Eu conheci várias pessoas assim: mortas por dentro mas aparentemente vivas.

- Eu estava morto antes mesmo de realmente começar a morrer. - Era o que Thiago sempre dizia.

Muitas dessas pessoas também diziam se sentir um fantasma, uma mancha, uma espécie de borrão.

- É como se eu nunca houvesse realmente existido. - Dizia Bia.

O que essas pessoas tinham em comum? O câncer. Costumavam dizer que esse era um dos "estágios do câncer ", uma espécie de efeito colateral de se estar morrendo.

Eu nunca acreditei nisso, até acontecer comigo.

-

Eu acordei sentindo muita dor no meu pé recentemente "curado". O quarto estava iluminado..

- Por favor, poderia fechar a janela? - Pedi.

Tentei levantar, minha cabeça doeu um pouco.

- Como está se sentindo? - Perguntou. Seu rosto sempre com aquela velha expressão de preocupação.

- Estou bem. - Respondi.

Virei a cabeça e o vi sentado na poltrona onde Elisa costumava sentar, pensei em perguntar por ela, mas decidi não fazer isso.

- Sinto muito. - Disse.

Mordi levemente o lábio inferior.

Hoje o Pedro estava diferente: Vestia uma calça jeans azul escuro, uma camisa polo e tênis branco.

- É tão estranho te ver assim. - Falei, sorrindo.

Ele sorriu, suas bochechas coraram um pouco. Isso foi fofo.

- Estou tão feio assim? - Perguntou, fazendo biquinho.

- Não! - Respondi. - Você está fofinho. - Disse e percebi suas bochechas, assim como as minhas, ficarem avermelhadas.

Suspirei.

Nós ficamos nos encarando por alguns minutos, ele todo vermelho e eu todo bobo.

- Então... - comecei - o que você está fazendo aqui? Você não deveria estar curtindo seu dia de folga? - Perguntei, levantando um pouco e sentando na cama.

Ele levantou da cadeira, sorriu e foi até a janela.

- É uma boa pergunta. - Respondeu, coçando a cabeça enquanto olhava pro horizonte além da janela ensolarada de um quarto de hospital.

Eu o encarei.

- Eu queria ir ao shopping, assistir a um filme ou ir a praia. Acho que estou precisando de um solzinho, estou ficando branco demais, não acha? - Perguntou, levantando um pouco da sua camisa e deixando à mostra um corpo definido, sem nenhum pelo e branco, muito branco.

O Garoto Do Ônibus (Romance gay) EM CORREÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora