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A culpa não foi minha.
Tenho minha consciência limpa quanto a tudo que se sucedeu. Entretanto não posso deixar de admitir que estava me explodindo pela pressão de um sentimento tão puramente bom que não posso negar toda minha alegria. Por mais que me sentisse culpado não poderia desprezar a felicidade que me habitava, será que enfim poderíamos ficar juntos?
Contudo, ainda hoje uma dúvida martela na bigorna da minha pobre consternação. Simplesmente não consigo entender o que tu viste em mim. Eu era... eu era nada. Um complexo vazio amedrontador, invisível, irrelevante, inabitável. Ninguém nunca havia se interessado por mim — e não tenho poder de julgar, já que tudo que me tocava era engolido e despedaçado. Essa é a minha natureza: destruidora e obscura.
Mas tu... Por que logo tu?
A culpa não foi minha. Sabias da gravidade, sabias da distorção que lhe causaria. E juro que não queria te destruir. Logo tu, a mais fantástica e fascinante entre tudo que eu já havia visto — e posso afirmar que já havia visto de tudo e mesmo assim nada chegava a teus pés, tu era a onda-partícula mais rápida e mesmo assim não conseguiu escapar do meu poder destruidor, apenas espero que tenha valido a pena.
Permita-me perguntar: como foi ser esmagada pelo poder do meu amor? Desculpa-me entretanto não estou disposto a abrasar a intensidade do meu gênio — tudo que me adentra, me possui e eu não posso deixar de comprimir todos esses sentimentos afim de que caibam dentro de mim.
Eu te queimei? Sufoquei-te?
Sim, a culpa foi minha, já não tenho forças para negar. Entretanto a escolha foi sua, por que apenas não me contornaste? Só queria poder agradecer por ter perdido a oportunidade de poder ter sido eterna para ser infinita dentro de mim. Ao menos o destino havia sido generoso: minha gravidade era tão grande que permaneceríamos juntos por um tempo infinito ou melhor ainda, sem tempo algum para nos preocuparmos.
