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Não saberia dizer quantas vezes eu havia duvidado de mim, do meu vívido vigor de resistir e de ser resiliente perante a todo sofrimento que tenho tido que encarar nesses tantos anos de existência. Quantas vezes eu havia pensado que não suportaria aquela vida? Nunca imaginei que sobreviveria. Nunca. E estava ali de pé, mas será que estava viva, quero dizer de verdade?
A verdade é o significado abriu as asas e nem mina imaginação poderia alcançá-lo - nem sei o que é viver quer dizer, parece uma palavra forte demais para descrever dias empoeirados mas fraca demais para todo sofrimento que passei. O que me reconforta é que nenhum ooutro ser tampouco sabe definir a vida. E todos estamos em fervorosa buscar por algum ínfimo sentido que dê sabor a todos esse insípido aglomerado de sentimentos e dias tão áridos. Mas será que há realmente algum sentido para se achar?
Eu estava velha demais para questionamentos existenciais, já até sentia minha existência se esvair. Queria aproveitar aqueles últimos minutos que o ar entrava e enchia meus pulmões. Queria apenas contemplar o céu uma última vez. E minhas pernas, já fracas devido a velhice me conduziram até o quintal.
Aquele quintal.
Aquela mesma grama que meus pés tocavam há 76 anos atrás. Ah! Não acreditava que estava ali de novo e viva. Ironia, uh? Começamos e terminamos no mesmo ponto. E isso era tão, tão cruel. A mesma grama que nos vira juntas, a mesma grama na qual adormeci quando tu partistes, agora a mesma grama que me veria partir também. A vida é um eterno looping e eu não estava a fim de te perder milhares de vezes, de sofrer a mesma coisa em centenas de universos diferente.
Tudo aconteceu tão rápido que eu mal tive tempo de digerir. Estava distraída sentindo a grama sob meus pés descalços quando algo brilhou intensamente no céu. A grama, outrora quase negra pelo breu tornara-se verde intenso pelo corpo celeste de rodeava a atmosfera terrestre.
Levantei meus olhos cansados e não pude acreditar no que vi, tão grande foi minha surpresa que tenho certeza que morri naquele exato segundo. Cortando o céu noturno com seu brilho verde, o cometa Halley me preenchia com a sensação doce e morna que eu sentia quando te via sorrir. De certa forma eu sabia que você havia cumprido sua promessa e eu finalmente poderia descansar.
