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Eu vim de muito longe. Percorri milhares de milhares de anos-luz. Explorei cada recanto do Universo. Deixei-me levar pelas galáxias elípticas vorazes. Mas a viagem acabou comigo e quase sucumbi... Vasculhei todas as oitenta e oito constelações enquanto ocultava no mais íntimo dos meus desejos recônditos que ansiava por encontrar a constelação oitenta e nove.
Agora que tudo passou - literalmente tudo paasa, menos a dor, que é como cárie nos ossos, penetra até o final e corrói tudo. E agora isso foi apenas o que me restou não mais hesito em admitir: não consegui fixar-te junto às outras estrelas do céu, não consegui queimar tua mortalha e deixar que o perfume subisse pelo céus de crepúsculo infindável. Estive tentando negar, mas chega a um ponto crítico que já estou sucumbindo à essas rasas mentiras.
Quisera ter acreditado em todas suas palavras - não me leve a mal, sempre confiei em você, mas não creio que pessoas mortas pudessem cumprir promessas. Então vejo com meu próprios olhos e escuto com meus próprios ouvidos – que tarefa difícil foi me fazer conseguir!
Entretanto, estou cansada – o que é mais exaustivo que ser juiz de tudo e de si? – e apenas anseio por deitar-me por sobre Órion e descansar antes mesmo da elipse de Vênus conseguir alcançar o solstício. Passei por tantos cinturões de meteoros encolerizados, depois nebulosas venenosas e por último cheguei ao final do Universo. Sinto que tudo foi em vão, você não estava lá e percebi que tampouco eu – como uma pessoa passa por tudo isso e não muda?
Eu vim de muito longe. Percorri léguas inimagináveis apenas para descobrir que não era a distância que nos separava. Mas precisavas me fazer passar por isso tudo para que percebesse. E agora estou cara a cara com todos os sentimentos que estive anestesiando e posso lhe dizer que não existe lugar no universo mais aterrorizante do que meu próprio âmago.
