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Eu estava perdido. Não saberia dizer que dia era, se era manhã ou noite, nem quantos dias eu estava à deriva. Mas pior que tudo isso eu já não sabia quem eu era - quando se passa tanto tempo olhando para seu reflexo, a sanidade aflora, límpida como cristal e já não se sabe mais o que é real ou não. E entre uma onda e outra eu havia perdido a noção do tempo e de quem era eu.
Poderia pular agora mesmo e tentar resgatar a minha sanidade mental que se afogava no mar tempestuoso que era meus pensamentos e eu havia perdido total controle por sobre eles. Com certeza estava perdido e pior: enlouquecendo.
Pensei que já era de noite, contudo o céu parecia escurecer cada vez mais e as ondas enfurecidas pareciam não ter pena do pobre barco feito de desilusões e solidão. Não achei outra opção a não ser me conformar com meu fim tão próximo, mas lentamente as ondas foram abaixando e a tempestade monstruosa se dissipou. Lentamente, muito lentamente e acho que isso foi mais gratificante – não sei, mas acho que mudanças repentinas não deixam nenhum tipo de aprendizado; ao contrário de processos lentos que plantam a virtude da paciência no coração dos corajosos o suficiente para enfrentar os tormentos.
Eu estava entorpecido pela visão surreal do mar refletindo a imensidão negra e estrelada do céu, como se próprio firmamento estivesse tão cansado que cedeu à magnitude do sol e se derreteu, escorrendo pela água. Então esqueci-me como se respirava por alguns minutos, poderia morrer naquele exato momento e nem perceberia. O oceano e o firmamento se fundiam como se fossem um só manto estendido a minha frente e sequer tenho palavras para descrever beleza estonteante que meus olhos apreciavam.
E lá estava você. Entre milhões de estrelas, a bilhões de anos-luz de distância e centenas de anos morta... Eu sabia que era você, não pelo brilho, já que não chegava a ser nem uma das 100 mais brilhantes, mas eu senti algo no meio peito, uma massa quente e tranquilizadora, um vento morno que sentia quando me aproximava de terra firme.
Então soube que você mantinha sua promessa de nunca me abandonar, sabia que apesar da tempestade você estava lá e só agora eu podia te ver. Senti-me extremamente tolo por ter duvidado, de uma forma tu sempre me conduzia para casa.
