Uma ameaça marítima

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  Ou melhor, era para levar.
       Estávamos finalmente no barco. Uma senhora feia, resmungona e muito introvertida chamada Vera nos apresentou ao navio, era esposa do capitão, pelo visto. Uma das únicas mulheres no navio além de mim e usava uma aliança, provavelmente minha conclusão estava certa. Nos indicou nossos aposentos e deixou-nos para nos familiarizarmos com o local.
Percorri alguns corredores, procurando os quartos de meus amigos aquela noite. Algo muito estranho havia ocorrido.
                    Eu estava tranquila em meu quarto aquela noite, pensando sobre todas as provas que eu tinha sobre o assassinato de meu tio. De repente, ouvi passos apressados no corredor. Aproximei meu ouvido da porta para escutar o diálogo acalorado que se seguia lá.
                 — Não John! Eu não posso continuar assim! A garota merece...— A mulher que falava parou. Já estava pensando que lá vinha uma briga de casal entediante, mas continuei ouvindo mesmo assim. Talvez eles dissessem algo de interessante — Ela merece aquela coisa, depois de tudo o que me fez passar!
                  — Quieta!— Respondeu o tal John— Você vai nos revelar para o corredor inteiro! Precisa esperar, paciência querida, seus desejos serão realizados... Mas ninguém trabalha de graça...
            Eu suspeitava dos sujeitos agora e ouvi com mais atenção:
              — Não John— Respondeu a mulher, parecendo calma porém com uma firmeza imperial na voz— Não posso aceitar as coisas como você quer que sejam.
                Ela saiu pisando duro e, pela direção do barulho dos passos, percebi que John fora para o lado oposto.
                  Mas algo muito crítico aconteceu depois disso. E eu não soube como reagir.
    Após ouvir o estranho diálogo, sentei em minha cama. Tensa, me escondo rapidamente atrás dela com meu revólver na mão após ouvir mais passos e ver a porta de meu quarto tremer. Alguém tentava abri-la.
               Foi então que ouvi o estrondo. A porta pulou das dobradiças, as lascas de madeira bateram em meu rosto violentamente. Limpei minha face com uma das mãos, segurando meu revólver com força.!Não gritei, continuei em silêncio apesar do susto.
Um homem alto entrou pelo portal. Passos lentos, parecia que uma sombra cobria sua silhueta. Engatilhei a arma, herança do senhor meu pai, que sempre levava comigo desde a sua morte. Acho que o homem ouviu pois, um instante depois, mais rápido do que posso lembrar, senti o círculo de ferro frio pressionando minha testa. Uma outra arma estava apontada para minha cabeça.
Congelei. Tentei manter minha expressão calma. A morte não me intimidava. Foquei meu olhar no rosto do assassino, um inglês feio com um sorriso contorcido estampado no rosto.
— Suponho que seu nome seja John.
Ele pareceu surpreso com a minha dedução. Provavelmente, eu estava correta.
— Sim... Esse já foi meu nome — ele respondeu, sua voz seca e dura arranhava meus ouvidos como se fosse uma lixa sonora —, mas agora pode me chamar de seu fim.
Ele engatilhou a arma devagar. Fechei os olhos para ouvir o clique lento que fez meu coração tremer.
Pude sentir seu dedo puxando o gatilho devagarzinho, como se quisesse aumentar a ansiedade dentro de mim. No momento em que eu só conseguia ouvir o batimento frenético de meu próprio coração, sabia que ia morrer.
Foi nesse exato momento que, com uma rasteira forte, atingi os pés de meu inimigo. Assim que o tiro saiu pelo cano da arma, John escorregou e caiu com a lateral do corpo no chão, produzindo um estrondo duplo com o ruído do tiro.
A bala atingiu um quadro atrás de mim, passando de raspão pelo meu ouvido. Virei a cabeça para trás, os cacos de vidro gelados do retrato bateram contra minha pele. Pisquei assustada, tinha conseguido escapar com aquele golpe!
Mirei meu inimigo no chão. Ele já começava a se levantar, com o revólver pronto na mão. Mas... Eu também tinha uma arma, não era mesmo?
Ergui meu revólver, mirando no pé de John. Ele se levantou finalmente, apontando a arma, que recuperara com um movimento veloz da mão, para mim.
— Tenho pena de matar mulheres. Não gosto, mas preciso.
O sorriso assassino em seu rosto sugeria outra coisa.
— Bem, que bom que não gosta de matar mulheres, John — disse, com um sorriso debochado —, pois eu não planejo morrer hoje.

Sherlock Holmes em um caso em mar aberto Onde histórias criam vida. Descubra agora