Consegui encontrar os quartos de Sherlock e Watson, um do lado do outro, localizado num corredor estreito bem acima do meu. Bati freneticamente na porta do detetive consultor, que tinha uma elegante decoração das cinzas de seu cachimbo na soleira.
Ele me atendeu, de roupão e pantufas, pronto para dormir, evidentemente. Com uma expressão estressada no rosto, perguntou aborrecido:
— O que a senhorita faz aqui à esse horário, senhorita Charlotte? Nós ainda nem começamos a investigação!
— Tenho algo importante a contar. — disse, surpreendida com o tom ofegante e desesperado de minha voz. Ainda estava chocada com o que tinha acontecido.
Relatei a Sherlock tudo que havia ocorrido aquela noite. Ele observou meu relato balançando a cabeça algumas vezes, me parou com um gesto da mão para ir pegar o cachimbo. Quando terminei, sua resposta foi:
— Onde está o assassino?
— Deixei-o em meu quarto. — respondi — Podemos chamar Watson para ele nos ajudar a interrogá-lo.
— Boa ideia! — exclamou Sherlock — Vamos ver se conseguimos arrancar mais alguma informação importante desse tal de John.
Assim que acordamos um sonolento Watson e entramos em meu quarto, o detetive consultor pôs seus métodos em prática. Não precisou sequer interagir com o assassino, olhou o desmaiado de cima a baixo e, rapidamente, enquanto se agachava para observar de mais perto e examiná-lo um pouco, listou as seguintes conclusões, como se fosse óbvio para ele, o que de fato era:
— Tenho certeza que é inglês. Assassino de aluguel. Foi pago hoje com metade do que foi prometido para te matar, senhorita Charlotte.
A última afirmação me deixou realmente surpresa. Como ele poderia saber disso? Eu não pude sequer supor tamanha conclusão.
— Como sabe disso, Holmes? — perguntou Watson por mim, talvez tivesse percebido minha reação de surpresa com a fala do detetive.
— Muito simples, Watson. — continuou Sherlock, explicando quase que automaticamente — Seus bolsos estão cheios. Pelo estado dos sapatos e roupas, é pobre demais para andar com tanto dinheiro. Recebeu-o por volta da manhã de hoje. Pelo que Charlotte me contou, temos uma senhora aqui que deseja matá-la, porém...
— Não tem coragem de fazê-lo por si mesma... — comentou Watson baixo, completando a frase de Sherlock.
— Creio que não, meu caro Watson. — continuou o profissional — Foi mais porque ela...
— Não quis se arriscar a se revelar! — completei, batendo na mão com um punho quando cheguei a esta conclusão — Sabia que esse John poderia falhar e usou-o somente para testar nossa capacidade. Na realidade, ela pode ter...
— Um plano muito maior em mente. — exclamei em uníssono com Sherlock. Encaramos-nos com seriedade, por conta de nossa sombria conclusão. Watson nos observava, espantado com a sincronia de nossos pensamentos.
— Acho que tudo que houve com a sua família poderá ser explicado esta noite, senhorita Charlotte — disse Holmes —, é uma questão de tempo até descobrirmos quem eliminou toda a sua família. Esta viagem acaba de tomar novos rumos.
•••
— O assassino de toda a sua família pode estar bem aqui conosco, senhorita Charlotte — continuou Sherlock, fumando seu cachimbo. A fumaça me incomodava, mas tínhamos coisas mais importantes para resolver agora —, podemos descobrir quem é hoje mesmo, investigando um pouco mais... Infelizmente, não posso contatar minha rede de mendigos no meio do oceano atlântico, mas podemos utilizar outros recursos mesmo assim...
Nesse momento, o chão começou a tremer. Caí no chão com o susto, por sorte, Watson me ajudou a levantar, oscilando sobre o piso. Enquanto me apoiava no médico, Sherlock tremia no lugar, agarrado a cabeceira de minha cama.
— Mas o que é isso? — gritei em meio ao barulho do tremor — Um maremoto de repente?
— Aposto que são os assassinos! — exclamou Watson, tropeçando para frente. Sem ele, caí de quatro no chão, os tremores ficavam mais intensos e mais barulhentos com o tempo, não sabia o que fazer naquela hora. Voltei meus olhos para cima, encarando o detetive consultor, que ainda segurava o cachimbo com força na mão, apesar de suas cinzas estarem aos poucos sendo derramadas conforme o quarto se agitava.
Após alguns minutos de agitação marítima, de repente, tudo parou. Como estava de quatro, consegui me levantar sem muitos problemas. Watson despencou em minha cama, com a mão na cabeça, fortemente tonto.
— Perdoe meu comportamento, senhorita — disse ele, com a voz embargada. — Mas não pude aguentar tamanho susto! O que foi aquilo?
Nossos olhos imediatamente miraram Sherlock, já completamente em pé, fumando como se nada tivesse acontecido.
— É interessante, muito interessante...
Seu olhar contemplativo indicou ao médico e a mim que não conseguiríamos arrancar nada dele naquele momento. Watson me encarou com um sorriso amarelo, dando de ombros.
Não me lembro quem sugeriu que nos deitássemos, só sei que dormi com o assassino, o tal de John, bem longe de mim. O capitão, um homem suspeitosamente esquivo e alto, fez o favor de mandá-lo em um bote de volta à Inglaterra, para ser preso pela tentativa de assassinato.
No dia seguinte, acordei animada. Corri ao quarto de Sherlock, bati na porta umas cinco vezes, até que ele me respondeu. Pelas olheiras e aspecto cansado, havia passado a noite inteira fumando, refletindo a respeito do caso.
— Tenho uma ideia, Sherlock! — exclamei, animada — Podemos concluir o mistério do assassinato de minha família hoje mesmo!
— Compreendo, senhorita Charlotte — disse ele, contemplativo e misterioso, ainda com o cachimbo na boca. — Também descobri muitas coisas noite passada... Podemos ter, diante de nós, uma grande descoberta...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sherlock Holmes em um caso em mar aberto
FanfictionCheguei correndo na rua, o 221 B era meu destino. Fui para Londres só para encontrá-los, meu ídolo e seu ajudante contador de histórias. Meu sonho estava sendo realizado, porém não estava exatamente animada: O motivo de ter ido na capital da rica I...