Não há quem culpar

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O som alto da música eletrônica inundava o local, junto com as luzes neons cintilantes que se refletiam de acordo com o ritmo da música. As pessoas se soltavam na pista de dança, e outros estavam ocupados demais roçando seus corpos suados um nos outros.

Estar em um clube com seus amigos é uma coisa, mas quando os mesmos te abandonam para dançar  é realmente desanimador.

Jackson se encontrava sentado na mesa aonde mais cedo seus amigos estavam junto a si, sua mente impossibilitava o loiro de poder se juntar e se divertir junto aos seus amigos. Porquê de alguma forma, o garoto pálido sem um nome específico, invadiria sua mente.

O julgamento de fato iria acontecer, faltava apenas uma semana. Mas o que iria acontecer lá? O garoto seria finalmente livre? Jackson iria conseguir dar a tão sonhada liberdade para o menino?

Eram tantos questionamentos que não abandonavam a pobre mente do loiro, este se sentia no limite, a ansiedade de não saber o que iria acontecer lhe dava ânsia.

Transtornado consigo mesmo, ele virou de uma vez a dose de alguma bebida alcoólica, que já nem lembrava qual era, só sabia que era amarga e doce ao mesmo tempo.

Merda, isso lhe lembrava o garoto, que lhe hipnotizava e passava uma sensação de querer protege-lo a todo custo. Isso era doce.

Todavia, o amargor de se sentir assim por alguém desconhecido e que mal sabia seu próprio nome era quase maior.

Passou suas mãos quase brutalmente em seu rosto, e ao olhar para a multidão que roçavam seus corpos um no outro, ele avistou uma silhueta esbelta, que dançava passando uma sensualidade sútil e graciosa.

Apesar do outro estar de costas, Jackson se sentiu atraído. E como já estava bastante alterado pelo álcool, queria esquecer todas aquelas divagações.

Não demorou muito e lá estava Jackson caminhando em direção ao rapaz que parecia alheio. Ao chegar perto, o rapaz lhe notou, sorriu ladino e lhe chamou para dançar junto a si.

Seu rosto estava meio embaçado, e Jackson jurava ter sido a bebida que afetou sua visão. Mas não importava agora, não quando o rapaz guiava sua mão até a própria cintura. Ambos em uma sintonia que exalava luxúria e sensualidade.

Entretanto, o rosto do rapaz ganhou nitidez.

Era o rosto do garoto sem nome. Os mesmo par de olhos azuis cristalinos, e as mesmas madeixas negras que faziam contraste pela sua pele alva.

Seria um eufemismo dizer que Jackson estava surpreso. Ele estava pasmo, pálido como um morto. Pelo susto tomado, empurrou levemente o garoto para trás, que ao perceber já não possuía mais a aparência do menino sem nome.

Pelo o contrário, era um estrangeiro europeu. Como diabos havia alucinado com o garoto? O sujeito pareceu estranhar a súbita mudança de Jackson, que por sua vez resmungou um "desculpe" envergonhado.

Aquilo era a sua deixa, não suportava mais ficar em um aglomerado de pessoas que exalavam suor, tampouco aguentar o olhar de julgamento do rapaz europeu. Ele saiu apressado da pista de dança, passando sua mão em sua testa. Transpirava de nervosismo junto com o constrangimento.

— Tá tudo bem? — Mark que estava de volta a mesa, indagou ao notar a presença de Jackson.

— Sim, é só que… isso não é pra mim. Eu vou embora. — Respondeu seco.

— Ei, ei, calma! Quer que eu chame os meninos? Vamos todos juntos. — Sorriu, se levantado da mesa.

— Não! De verdade não preci…

Tarde de mais. O outro pareceu não escutar, ou se escutou, fez pouco caso, visto que já se pôs em direção ao meninos.

Jackson suspirou, aceitando sua derrota.

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— Você parece abatido, Jack. Tem certeza que está tudo bem? — Yugyeom que andava do lado do loiro, indagou preocupado.

Todos decidiram caminhar de voltar para suas casas, uma vez que os respectivos caminhos não era tão longos e seria uma ótima forma de aproveitar a companhia.

— Na verdade, não. — Suspirou.

— Quer falar para gente o que está acontecendo? — BamBam perguntou, cauteloso em não ser invasivo.

A casa de Jackson já estava logo a frente, ele parou de caminhar e logo propôs:

— Querem entrar? — Sinalizou com a cabeça — Creio que esse seria o melhor lugar para contar toda a história. Afinal, é o lugar onde tudo começou.

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"Deixa eu ver se entendi, você encontrou um garoto que fora enjaulado em um porão"

A mensagem gravada era se escutada por todo o escritório. Jenny estava sentada em seu estofado preto, ouvido atenta.

"Que por mera coincidência o atual dono da casa era um advogado"

"Mas você tentou despistar o cara, querendo manter o garoto na cela em monitoramento"

"Então um do nossos guardas comete racismo e leva uma bala na testa, e voilá! Viramos o centro da atenção"

"Sim, eu gostaria de fazer um minuto de silêncio, chorar pelos mortos, ser humano uma vez. Queria muito, mas eu não posso!"

"Porque eu estou muito ocupado sendo fodido no rabo, pela sua incompetência"

"Eu não ligo se você vai fazer ele desaparecer no ar, não ligo se vai enterrar ele no pátio ou embarcar ele para Maiorca"

"O que quer que estava acontecendo aí, da maneira que estava sendo resolvido, eu não sabia de nada. O Conselho não sabia de nada!"

"Se as coisas derem mais errado do que já deu, Jeniffer… Sempre haverá lugar embaixo ônibus para mais um funcionário inepto."

Abalada, a delegada rapidamente aperta o botão de mute de seu telefone.

Como pode ser tola? Um joguinho estúpido movido por seu orgulho. Seria mais fácil deixar o garoto em paz, mesmo que seu interior grite para o manter preso. Não há desculpas agora, não há quem culpar além de si mesma.

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— E foi isso… eu não sei o que esperar agora… — Jackson falou, depois de ter contado toda a história que estava vivendo.

Os rapazes que se encontravam sentados no sofá de sua sala, estavam refletindo sobre. Todos com semblantes pensativos e até mesmo surpresos.

— Essa cidade não era assim antes… a justiça, a segurança, a beleza deste lugar sumiu. — Youngjae falou, incrédulo.

— Nos mudamos para cá faz alguns anos, e a cada ano que passa, tudo piora. Nem sei quanto tempo aguentaremos aqui. — Yugyeom fitava o chão, abalado.

— Estou torcendo para que esse menino consiga sair dessa injustiça… eu não imaginava que Namwon estivesse tão podre assim. — Mark comentou.

— Ei pessoal, está chovendo! Merda… — Resmungou BamBam, este que observava sentado no sofá, a janela próxima ali.

— Se quiserem dormir aqui… fiquem a vontade. O sofá vira cama, então creio que séria confortável para todo mundo.

— Ah… não queremos incomodar, mas obrigado, Jack. — Agradeceu sem graça Mark.

— Eu toparia, qual é… seria legal fingir que somos adolescentes e virar a noite igual como fazíamos antes — Bambam falou animado.

— Verdade, e além disso vocês sabem o quanto eu esperei por esse dia? Todo mundo reunido, igual a antes… — Jackson respondeu, sorrindo imenso em  memórias de sua juventude.

The boy • JINSON •Onde histórias criam vida. Descubra agora