2 - OS SEGREDOS DO COIOTE

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Aquela segunda-feira havia amanhecido debaixo de uma chuva repentina, mas muito intensa. Chovia tão forte que alguns trechos da cidade ficaram alagados. Para piorar, como típico nos grandes centros urbanos em toda ocorrência de chuva, um engarrafamento medonho tornava o trânsito infernal. Uma batida envolvendo quatro carros em uma das vias expressas principais só tornou tudo pior.

Foi por conta de todas essas catástrofes que o leopardo Damon Lawrence chegou quase duas horas atrasado no trabalho, no prédio da Agência Federal de Investigação de Caffidea, mais precisamente, no Departamento de Homicídios, onde trabalhava como perito forense. Assim que pôs os pés na sala principal ouviu o que parecia ser o final de uma discussão protagonizada pelos dois melhores investigadores criminais que ele conhecia: o leão bravio Leone Reyes e o lobo implacável Fergus Montgomery.

— Eu já disse e vou repetir. Você não vai conduzir o interrogatório! – Fergus gritou – O caso é meu e será meu do início ao fim! Não seja intrometido!

— Mas fui eu quem conseguiu convencer essa testemunha importante a prestar depoimento! Além disso, Fergus, você vem fracassando há um mês. Está na hora de te mostrar quem é o rei. – Leone era tão exasperado quanto o seu colega de trabalho.

— Eu não venho fracassando há um mês! Simplesmente não há provas além daquele vídeo circunstancial que pode significar nada. Não vou acusar um homem considerado inocente e com álibi com base em um material qualquer, vindo de uma testemunha que tem motivos para arruiná-lo por questões de trabalho.

Damon começou a enxergar Fergus na medida em que entrava mais no grande escritório segmentado, mas projetado em conceito aberto para facilitar a comunicação entre todos. A próxima cena que viu foi Leone apontando um dedo no rosto de Fergus. Embora o leão fosse considerado o rei da selva, Leone ainda precisaria comer muita carne para chegar à estatura de Fergus. O lobo era fisicamente maior que o leão e parecia que ia devorá-lo por causa daquele dedo atrevido.

— Tire o seu dedo do meu rosto! – ele estapeou a mão do colega.

— Você é um fracasso, Fergus. Seu nome significa homem vigoroso, mas não há vigor algum em você.

— Ora, seu filhote de leão, eu vou te mostrar o que é vigor.

O lobo agarrou o colarinho da camisa do leão e fechou um punho na altura do seu rosto, ameaçando socá-lo a qualquer momento. Arius Bentley, que havia chegado não muito antes que Damon e estava ensopado de chuva, começou a separar os detetives. Logo outras pessoas interferiram, afastando Fergus e Leone um do outro o máximo possível.

— Para mim já chega! – gritou Richard Cercion, o chefe do Departamento de Homicídios, que era uma raposa velha, mas muito astuta e presunçosa – Vocês dois são nossos melhores recursos, mas não perdem uma oportunidade de tentarem se matar! Não aguento mais essa rivalidade hostil, Leone e Fergus. De hoje em diante vocês irão trabalhar juntos em todos os casos que aparecerem até aprenderem a lidar com as suas diferenças e se respeitarem! Comecem a partir do caso Luca Leroy, interrogando juntos essa testemunha tão preciosa.

O leão e o lobo tiveram a reação esperada: protestos, ofensas mútuas e acusações aleatórias. Richard fingiu que não estava os ouvindo e se retirou para a sua sala privada. Todos ao redor dos detetives pareciam muito apreensivos. No entanto, contrariando pela primeira vez as expectativas, eles apenas se encararam e seguiram em silêncio lado a lado para a sala de onde haviam saído discutindo. Um alto e aliviado suspiro coletivo foi liberado.

***

O caso Luca Leroy estava intrigando não só os detetives, mas também a equipe em geral do Departamento de Homicídios. Foi em uma segunda-feira chuvosa como aquela, há cerca de um mês, que os peritos forenses Arius Bentley e Damon Lawrence foram até o local, no meio de uma floresta, onde restos enterrados de um corpo carbonizado foram encontrados. Se não fosse pela fuga do papagaio de estimação de um morador das redondezas, que o conduziu a entrar tão profundamente na floresta em seu desespero na busca, talvez nunca tivessem descoberto o corpo.

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