9 - A IRA DO COIOTE

27 3 0
                                    

O começo de uma nova semana estava tendo um clima tão tenso e estressante no Departamento de Homicídios que, na segunda-feira à tarde, a secretária Elaine Clifford, adepta de incensos e práticas de meditação, perfumava o ambiente com um aroma que prometia afastar todas as energias negativas do lugar.

A música ambiente de sons da natureza que obrigou seus colegas a ouvirem foi interrompida pelo dedo de Arius Bentley, perito forense, que saiu da sala do laboratório apenas para desligar o aparelho de som. Apesar de fazer aquilo mais por si próprio, afundado em seu mau-humor, tinha certeza que todos lhe agradeceriam pelo bom senso.

— Arius, por que você desligou o som? – indagou Albert Olsen, um dos seguranças do andar, que era sempre simpático e passava mais tempo conversando com as secretárias que realmente vigiando o que estava acontecendo e podia acontecer.

— Você deveria se concentrar na movimentação de pessoas e não na pretensa música relaxante da Elaine. Estou com dor de cabeça. – deu as costas ao homem.

— Oh, que mal-humorado.

— Cala a boca, cachorro velho.

As palavras de Arius chamaram a atenção das pessoas que passavam por eles. O policial Tyler Duncan era um deles, que não resistiu em provocar o gato-selvagem.

— Parece que alguém não está transando.

— O que é que você sabe sobre a minha vida sexual? – rosnou.

Apesar de bravio, um alarme disparou em sua mente, fazendo-lhe pensar na possibilidade de estar sendo vigiado. Isso significaria que ele e Calvin podiam mesmo ter sido descobertos na semana passada.

— Ei, rapaz, eu não sei nada! Estou apenas brincando com você. – gargalhou – Sempre fazemos esse tipo de brincadeira quando alguém está mal-humorado, não é?

— Não temos intimidade para esse tipo de brincadeira, então não fale sobre sexo comigo. A minha vida sexual e pessoal só diz respeito a mim.

— Tudo bem, então. Desculpe-me.

Tyler sabia que a última vez em que Calvin e Arius estavam próximos, foi quando o coiote estacionou na frente do condomínio do gato-selvagem na sexta-feira. Cada vez mais, o policial interpretava a comida sendo jogada fora como resultado de uma discussão. Os pombinhos haviam se afastado por quais razões? Era isso que ele, com seu faro canino, desejava saber.

Depois de ir embora, Calvin foi até um hotel de luxo, mas não houve sinal de Arius no local. Ao investigar na recepção pela manhã, após ter visto o coiote deixando o hotel, os funcionários se recusaram a dar informações sobre seus hóspedes, mas o gerente afirmou que o coiote passou a noite na companhia de um senhor que chegou uma hora após o check-in. A descrição com certeza não batia com a aparência de Arius.

***

— A investigação do caso Luca Leroy está novamente parada, Leone. – disse o impaciente Fergus. E soltou a fumaça após um trago no cigarro. – Já se passaram dois meses e nada de prendermos alguém. Dois meses!

— Urgh! Eu odeio quando você fuma no quarto.

O leão, que estava deitado na cama ao lado do lobo, cobriu o rosto com o lençol, protegendo-se do odor desagradável de tabaco. Fergus apagou o cigarro no cinzeiro que havia sobre a mesa de cabeceira da cama.

— Desculpe. Eu fumo quando me sinto estressado ou ansioso.

— Você acabou de transar. Não deveria se sentir assim.

— Eu estou me sentindo um incompetente, sem conseguir encaixar as peças desse assassinato. Estão nos fazendo de idiota. – suspirou – E daí que o Calvin é irmão do Benjamin? Não estamos investigando propriamente a máfia, mas o assassinato de alguém ligado a ela. Mesmo que consigamos resolver esse caso, o grupo Felnor vai continuar na ativa, porque certamente vai aparecer um culpado que é só um bode expiatório. O Kevin quer que sigamos a trilha das migalhas de pão que ele nos deixou, como se fôssemos João e Maria, sendo que nem o próprio conseguiu pescar um peixe grande do crime organizado. A sua boa fama de detetive do Departamento do Colarinho Branco está por um fio por ineficiência e temo que aconteça o mesmo conosco. Uma parte de mim quer arquivar esse caso por falta de provas consistentes e a outra quer torturar aquele coiote para que ele nos confesse tudo que sabe.

Amante Animal [ROMANCE GAY]Onde histórias criam vida. Descubra agora