8 - UM ATO DE CORAGEM

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Felix estava radiante naquela manhã de sexta-feira. Na noite anterior, havia transado com seu cão pulguento pela quarta vez e teve momentos arrebatadores. Toda e qualquer decepção que ele possa ter tido nas outras vezes foi apagada horas atrás. Embora seu sorriso estivesse quase maior que o próprio rosto, por dentro seu coração se apertava. O gato-doméstico começava a gostar de Nicholas Onassis, o estudante do ensino médio que conheceu em um bar gay. Isso lhe causava preocupação.

— O seu sorriso está quase assustador. – disse-lhe Paco Griffin, a raposa escritora que havia acabado de lhe entregar o rascunho da sua nova obra, escrita às pressas sob muita pressão e falta de concentração, já com as alterações sugeridas.

— Não seja estraga prazeres! – o gato riu – Embora eu esteja sorrindo, quero chorar. Aquele pulguento foi incrível ontem à noite.

— Poupe-me dos detalhes, Felix. – Paco sorriu. Ele se sentia feliz pelo amigo, apesar de estar chateado pela sua atração por um leopardo idiota que só viu duas vezes.

— Ei! Esqueceu que sou eu que leio e reviso todo aquele sexo hétero que você escreve? O mínimo que pode fazer é ouvir minhas lamentações.

— Que lamentações? Você está aí todo bobo.

— Exato! Olha no que eu estou me tornando, um bobo apaixonado pelo pulguento! Apesar de em uma semana termos transamos quatro vezes, eu só gozei pela primeira vez com ele ontem! Por que já me sinto completamente de quatro por ele e aquele sexo mediano sem experiência alguma?

— Eu acredito muito que o universo conspira contra nós adotando uma espécie de psicologia reversa aos nossos desejos. Desde o início você não quer ter interesse no Nicholas. A resposta que o universo te dá é: você vai se apaixonar por ele.

— Isso é tão injusto! Que droga. – suspirou – Quero vê-lo hoje de novo.

— Pense pelo lado positivo. Ele está te correspondendo.

— A propósito, isso me faz lembrar o Damon. Você nunca me contou sobre a carona de sábado. Ele parecia tão nervoso.

— Foi só uma carona, Felix. Ele me deixou em casa e foi embora.

Paco jamais contaria que chupou o leopardo. Além de uma história constrangedora, também era humilhante ora ser desejado, ora ser rejeitado. A raposa jamais entenderia alguns homens heterossexuais. Se eles realmente diziam não sentir atração pelo mesmo sexo, por que se permitiam às escondidas? Isso fazia com que Paco pensasse em Alexander e no quanto ele parecia odiar gays nos últimos meses. Talvez fosse um reflexo do próprio ódio por ser quem ele realmente era estando com Paco?

— Você deveria pegar aquele leopardo de jeito. Encurralá-lo entre quatro paredes, amarrá-lo, amordaçá-lo e sentar no seu colo. Algo parecido com o que a Selma fez com o detetive Jerry no seu livro "Tiros de Prazer". O Damon certamente adoraria viver algo que você escreveu.

— Acalme-se, Felix. Você está muito empolgado. – suspirou – Confesso que tenho interesse, mas acho que não vai para frente. É só mais um carinha hétero que cruzou o meu caminho. Ele não vai se apaixonar ou mudar por mim. Além disso, não ser gay é confortável. Ninguém vai julgá-lo por ser o que é considerado normal.

— Oh, quanto desânimo! Sei que você não costuma ser positivo, mas eu sinto algo inexplicável quando vejo o Damon e você no mesmo ambiente.

— Isso é apenas a sua expectativa sobre nós. Enfim... Eu vim até aqui só para deixar o rascunho alterado do livro. Aguardo o novo feedback. Vou indo.

— Está cedo, Paco. Fique um pouco mais.

— É melhor que se concentre no trabalho. Eu te ligo para combinarmos algo para o final de semana.

Amante Animal [ROMANCE GAY]Onde histórias criam vida. Descubra agora