Alguém havia contado uma história engraçada e todos riram, mas como Nicholas Onassis não prestava atenção não viu graça. Uma garota abraçou o seu pescoço e beijou a sua bochecha. Seus amigos começaram a insinuar que os dois estavam namorando por estarem próximos demais. Risos e mais risos. Para Nicholas aquilo não era engraçado. Ele sequer sabia o nome da garota ou qual era a cor dos olhos dela. Simplesmente não a olhava. Ela poderia nem ter olhos. Não tinha como ele saber.
Um rapaz baixo e de pele negra, com cabelos escuros lisos e curtos, passou por onde ele e o grupo estavam em uma praça de alimentação ao ar livre, que era muito popular naquele bairro. Nicholas se desfez dos braços da garota e correu até aquele rapaz, pura alegria e latidos. Infelizmente, quando viu o seu rosto não encontrou os dois potes de mel que esperava, mas duas íris muito verdes. O menino – logo notou que era um adolescente assim como ele, provavelmente mais novo – o olhava assustado.
— Desculpe! Confundi você com outra pessoa. – suspirou com tristeza e voltou para o lugar em que estava.
— Ei, cara, o que foi isso? – perguntou Robert, a quem todos chamavam de Bob. O nome combinava com ele, já que era um bom nome de cão.
— Não foi nada, Bob. Eu pensei que era um conhecido meu.
— Você estava empolgado demais para ir cumprimentar somente um conhecido.
— É que é um conhecido muito querido.
— Que tal me cumprimentar também, Nickzinho? – era a voz da garota de antes.
Nicholas odiou o apelido e o quanto a voz dela era aguda. Preferia ouvir a voz suave e os miados de um gato-doméstico que havia capturado seu coração mesmo sem querer. Infelizmente, aquele gato havia dispensado-o, mas Nicholas não conseguia esquecê-lo. Nem ele, nem a pressão dos seus lábios e da sua língua enquanto o beijava.
— Você não é o meu tipo. – disse para a garota sem sequer encará-la – Desista.
— O quê?! – ela parecia ter levado um choque. A voz soou ainda mais aguda.
— Como assim a Valerie Bertolli, que é a garota mais popular e cobiçada da escola, não é o seu tipo? – perguntou discretamente Boris, outro cachorro.
— Exatamente por isso. Gosto daquilo que não chama muita atenção.
O cão falou aquilo por falar. Era uma desculpa esfarrapada. Se Felix fosse o homem mais popular e cobiçado do universo, ele não se importaria. Ainda assim estaria apaixonado. Por que Nicholas não podia simplesmente ficar com o homem que gostava? Ele não esperava que o seu primeiro amor fosse o mais recíproco de todos, mas por ser popular na escola imaginou que não tivesse dificuldades quando seu coração escolhesse amar alguém. Nicholas havia até mesmo guardado os seus lábios para alguém especial. Felix o capturou e depois se desfez. Que gato insensível... Mas apesar disso, o cão não conseguia odiá-lo.
— Ei, Bob, aquele cara não parece com o Paco Griffin, escritor de "Bala Perdida, Coração Encontrado", aquele livro que você me emprestou semana passada? – indagou Mathias, o único garoto do grupo de amigos que não era um cão.
— Oh! Parece muito com o homem da foto! – Katrina, a namorada de Bob, suspirou – Eu amo os livros dele! Será que é ele?
— Eu posso ir lá perguntar se você quiser, minha pugzinha. – Bob esfregou seu focinho no da garota.
Nicholas olhou na direção para onde estava o suposto autor de livros e seu coração disparou. Aquele rosto com rabo de cavalo laranja era totalmente familiar. Não era um dos rapazes que acompanhava Felix outro dia no bar gay? Se fosse, o encontro ao acaso seria uma chance única para ter contato novamente com o gato. Sem pensar duas vezes, correu até ele.
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Amante Animal [ROMANCE GAY]
Romance"Amante Animal" reúne quatro romances sobre homens que são diferentes entre si, mas igualmente intensos em suas paixões. Os personagens se conhecem e se relacionam sob o céu de Caffidea, um centro urbano populoso e com preconceitos semelhantes a nos...