capítulo 4

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Sienna...

Eu estava parada, me olhando no espelho, ainda tentando entender o que estava acontecendo, o cara estranho e sensual, era o mesmo artista ao qual me vi fascinada por muito tempo, eu estive ao lado de Kai Rowan, e agora estava aqui, com uma camiseta dele, e uma calça de moletom, o nervosismo estava me consumindo, a presença dele e o fato que terei que pintar sob seu olhar, aquilo era muita pressão, solto um suspiro longo, antes de abrir a porta e seguir para o estúdio dele.
Quando paro diante, das várias telas espalhadas me sinto pequena, meus olhos vão até à figura parada de costas, consigo ver seus movimentos diante de uma tela, a maneira como agora o pincel desliza, a mistura de cores, criando aquela mágica, era tão fascinante poder está ali, presenciando aquele momento.
Fiquei ali prendendo o fôlego, as batidas do meu coração, estavam aceleradas freneticamente, esperei que ele terminasse se afastando da tela, eu pude ver em primeira mão sua criação, seu peito subia e descia tão rapidamente, parecia que sua respiração tinha acabado de voltar, os vários respingos de tintas, espalhados por sua camiseta regata, as veias em seus braços estavam saltando.

— Isso, é lindo...

Digo, com a voz quase falhando, Kai tinha pintado um rosto numa confusão de cores, mas o rosto era meu, eu quase não consigo me controlar, quando pulo em seus braços.
Quando me afasto seus braços ainda estão em volta da minha cintura, e seus olhos verdes estavam me encarando, ele estava sem os óculos, foi então, que estendi a mão e toquei seu rosto, me arrependi na hora, foi como, se meu toque o queimasse, ele se afasta.

— Você não precisa dos óculos, para pintar?

Ele abre um sorriso.

— Eu preciso deles sempre, mas quando pinto, prefiro não usá-los, apenas sigo os sentimentos, cada um me diz a cor exata que devo usar.

— Como assim, você não olha a cor e escolhe?

Ele respira fundo, antes de voltar a me olhar, parece decidir um conflito interno, até que solta um longo suspiro e fala.

— Eu tenho, acromatopsia...

Franzo a testa, em completa confusão, não fazia ideia do que ele estava falando..

— O quê é isso?

Kai segura minha mão, e me puxa para um sofá, que fica perto de uma persiana grande.

— É uma condição de visão, que torna o indivíduo quase ou completamente daltônico. Também conhecido como monocromática de haste, a condição é hereditária e muitas vezes envolve diminuição da acuidade visual, bem como uma redução na capacidade de distinguir as cores. Eu basicamente não sei as cores, óculos me ajudam no dia a dia, tenho uma definição e nitidez maior, mas desde sempre pinto apenas expressando meus sentimentos...

Ele respira e volta a falar.

— Minha mãe dizia, que as cores eram como sentimentos, mas havia um único sentimento que possuía todas as cores, o Amor.

Meu coração se apertou no peito, eu não imaginaria uma vida sem cores..
Kai se levanta, indo até à tela, pega seu pincel, fecha os olhos ao deslizar o pincel pela cor aleatória, quando retoca na tela, eu só piscava sem conseguir entender como aquele tom dourado, surgiu tão perfeito em torno de meu colar.

Ainda estou olhando para Kai, sem conseguir entender, como alguém que não via, cores podia simplesmente fazer algo tão cheio de vida e amor...

— Como é, o que você sente quando ver uma tela em branco?

Ele abre um sorriso, e para mim era como uma explosão de cores, seu sorriso podia levar vida a qualquer pessoa, eu sei, meu coração esta saltitante no peito.

— Eu sinto e vejo as cores...

Ele respira e fecha os olhos, observo quando ele ergue sua mão, parando no peito...

— As cores do Amor, é aqui, em cada batida do meu coração, onde eu sinto tudo, então as coloco ali na tela, posso não reconhecê las ou enxerga las em seus tons perfeitos, mas eu sei que elas se misturam para darem vida a minha arte.

— Eu não consigo entender, como você consegue..

Kai me olha, respira fundo, antes de largar o pincel e caminhar até mim...

— Sienna, às vezes, o que alguns enxergam como maldição, eu enxergo como um incentivo para criar arte, eu cresci com acromatopsia, os óculos me ajudam bastante, mas na hora de criar minha arte, eu prefiro seguir o coração.

Kai era mesmo excepcional, eu vi sentimento em cada tela pintada por ele, suas exposições eram sempre cheias, agora eu entendia o segredo de tanto sucesso, ele não apenas pintava, mas usava as cores do amor, aquelas que só o coração podia gritar para ele, como alguém como eu, podia atingir algo tão único como aquilo, isso se tornou quase como impossível, Kai nota meu desânimo.

— Sienna, não pode pensar como eu, sentir o que eu sinto, isso está em você, acredite, eu vi o quanto você é especial.

— Você acha mesmo, às vezes me sinto perdida, parece que minha vida só faz sentido porque tenho a arte, se isso se acabar, sinto que não serei ninguém.

Kai se agacha, ficando a minha frente, pela primeira vez ele estava me olhando nos olhos, e meus olhos estavam embaçados, com as lágrimas que ali se acumulava, kai estica a mão tão delicadamente e acaricia meu rosto.

— Você é muito mais, do que imagina ruiva, eu vi nessas poucas horas que estive ao teu lado.

— Você acha?

Kai abre um sorriso, eu queria que ele me beijasse, estava quase implorando, mas como sempre, sua mão parecia queimar, ele se afasta rapidamente me deixando ali, ansiando por mais.

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As Cores Do Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora