Capítulo 24 - Desculpas

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Alice

Lucas Castelo sentou no sofá, encostando as costas e cruzando as pernas de forma despojada. Os olhos castanhos claros examinaram o escritório, então ele sorriu ao olhar para mim, especificamente para minha barriga. Não tive tempo para ponderar se era bom vê-lo, mas meu instinto dizia para manter cautela.

— O que quer? — fui direta.

— É assim que vai me receber? — tom sarcástico me deixou ainda mais aflita. Fui até minha mesa e sentei, deixando a mão sobre o ventre, tentando me acalmar do choque.

— Como quer que eu te receba, Lucas? — fiz o possível para manter a voz neutra, assim como minha expressão. Apenas a mão trêmula me entregava.

— Não assim, definitivamente. Um abraço caloroso também não. Pelo menos ainda se lembra do meu nome e me deixou entrar. A propósito, belo prédio. Ótima localização e organização impecável.

— Tenho compromissos a cumprir. Diga de uma vez o que veio fazer aqui.

— Estava cuidando da minha vida quando meu pai me fez uma visita há um mês. Foi quando vi você numa capa de revista de negócios. Você e seu sócio, o filho do governador.

— Certamente algum artigo interessante sobre liderança ou…

— Sobre seu contrato com a HEINs, o processo, o noivado e a reviravolta que causaram num evento benificente. Mas isso não é relevante. O importante é que você surgiu feito uma lâmpada no meio da minha sala de estar e atraiu atenção, Alice. Você é assunto novamente.

— Se está deixando entender que…

— Estou sendo claro. Você apareceu. Seu rosto, depois sua história e então tudo outra vez. Sabemos como funciona.

— Não vou me esconder de novo. Tenho uma vida agora, não tenho nada com os Castelo, pode ficar tranquilo.

Lucas levantou, andou até estar diante da minha mesa. Agora eu percebia como ele havia amadurecido, crescido e ficado lindo. Aquilo fez meu coração se apertar.

— Não vim pressionar você. Acreditava que você estava naquela vida, longe da gente. Anônima e segura. — percebi quando engoliu a saliva, retomando fôlego. — Depois que vi como ele reagiu ao te ver, eu soube que precisava te avisar. Você é assunto.

— Não tenho que me esconder, Lucas.

O homem diante de mim respirou fundo, piscando os olhos e se inclinando para dar ênfase no que tinha a dizer, no golpe forte que ia me dar.

— Antes você não tinha o que perder, por isso fugia. Agora tem a Ferreira e Lima, tem seu noivo de ouro e um herdeiro a caminho. Fugir não é mais uma opção, se esconder está fora de cogitação. Sei disso e não foi por isso que atravessei o país, eu te falei. — Sua arrogância voltou num piscar. — Você tem uma vida boa, Luíza…

— Não me chame assim. — grunhi com raiva.

— Tem um vida. Uma nova e linda vida. Certifique-se que é segura.

— É.

— Sério? Vi Beatriz ficar branca feito papel e reparei que você está tremendo. Sou só eu, você me conhece. Sou só um presságio, uma ventania antes de uma tempestade. — Seu tom foi ficando mais e mais grave. — Está tão atolada nesse teatro que esqueceu porque teve que ser Alice Ferreira e porque seu passado é Bomba. Seu noivo…

— Pare.

— Não fale comigo como se eu fosse uma ameaça. — pediu com raiva. — Seu noivo sabe?

— Sabe.

— Mentirosa.

— Sabe que fui Bomba.

— Porque se tornou Bomba? Tem coisa ruim acontecendo, merda. Ele precisa saber como você chegou aqui. Por que está aqui. E, principalmente, porque Bomba foi necessária.

— Essa parte do passado não existe para mim.

— O que falou para ele sobre mim, sobre todos nós?

— Nunca houve nós para ser contado. E se vai ficar me atiçando é melhor ir embora.

— Ah, vai. Me conta. Alice é uma órfã? Cresceu num orfanato e se tornou problemática? Qual foi a mentira que você contou?

Decidi não esconder minha mão trêmula ao discar o número do ramal da segurança.

— Vá embora andando ou arrastado, Lucas. — Meu coração palpitava. Mesmo que eu gravasse cada detalhe novo de seu rosto, de seu corpo forte. Sua voz e suas palavras.

— Estarei na cidade até o próximo fim de semana. Estou hospedado no Castelo… Claro, você sabe.

— Não volte mais aqui.

— Não voltarei, Luíza. Mas vou manter contato. Tenho seu número.

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