Capítulo 10 - Escritório Fechado

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Vinícius

Despertei assustado no meio da madrugada. O quarto ainda escuro estava silencioso, apenas um chiado e um gemido passavam pelas paredes. Esbarrei no meu celular e conferi a hora, ainda eram 4h. Desanimado e mal-humorado, virei na cama para buscar consolo na minha amante quando percebi que estava sozinho. Os lençóis estavam frios e o celular dela ainda estava no carregador. Reclamando, levantei e acendi as luzes do quarto. Quando abri a porta para o corredor, ouvi a respiração acelerada e os gemidos de reclamação de Alice. Silenciosamente, fui até onde poderia vê-la sem anunciar que eu estava ali.

De calça legging e top preto, minha noiva fazia uma sequência de abdominais assustadora. O rosto estava vermelho devido ao esforço, o suor brilhava e escorria, indicando que ela estava ali há muito tempo. De repente, ela girou no chão e começou a fazer flexões com os dois braços, então alternou. Isso só podia significar uma coisa. Alice estava com medo de alguma coisa. Quer esquecer seja lá o que for que esteja martelando em sua mente. E vendo como ela está séria, eu sabia que não tinha muito a ver com o trabalho.

Alice fez uma pausa para beber água de sua garrafa e então voltou para as flexões. Decidi aparecer, coçando os olhos e caminhando arrastado.

– Bom dia. – desejei bocejando. Ela fez nenhuma pausa, nenhum sorriso de reconhecimento. Fiz um esforço para não levar tão a sério, ela devia estar uma pilha de nervos e eu seria um aborrecimento a mais. – Não podia esperar a academia abrir?

Ela grunhiu uma resposta.

Dei de ombros e fui atrás de água, mas ainda estava vendo como ela estava dando tudo de si. O pior de tudo era que eu não tinha o que fazer para ajudar. Em outras vezes já tentei fazê-la ir para cama, tentei me juntar a ela, tentei conversar, mas a resposta sempre era a mesma: "Me deixa sozinha". Então evitei o estresse e a deixei, mas não sem antes ir até onde ela estava e a beijar na cabeça suada. Só pra lembrar que eu estava "ao lado dela".

–Amo você. – falei e a beijei de novo.

Quando deitei na cama, demorei para dormir. Seus ruídos não pararam por uma hora inteira, me deixando aflito e preocupado. E o sono veio de jeito doloroso e falho, raso. Acordei diversas vezes na esperança de sentir que ela havia voltado, mas o silêncio me deixava mais angustiado.

Apenas depois das 7h foi que ouvi a porta abrindo com um ruído mínimo da maçaneta. Em meu sono leve, despertei rápido e a vi ir direto para o closet e para o banheiro, onde se banhou por cinco minutos. Completamente nua, ela subiu na cama e percebi como estava enrijecida e vermelha. Não puxei assunto, nem me ofereci para uma massagem. Por sua vez, Alice não me olhou nem se mexeu. Depois de um tempo ela começou a piscar com mais lentidão e então adormeceu, movendo um pouco a cabeça para o lado. Cheguei mais perto e a cobri com  lençol fino. E apaguei com o rosto colado no ombro quente dela.

Às dez da manhã, abri meus olhos e me movi um pouco para o lado. Alice estava do mesmo jeito, mas seu rosto estava virado para mim e um sorriso pequeno estava paralisado. Levantei da cama e peguei os celulares, mandando algumas mensagens e olhando os e-mails. Fiz minha higiene no banheiro e vesti uma roupa normal. Quando estava saindo do closet, percebi que a mala que Alice tinha arrumado estava deixada de lado, caída e esquecida. Por minha culpa aquela noite existiu, assim como o dia horrível que a precedeu.

Dei uma olhada rápida para onde ela ainda dormia como um cadáver e sorri de alívio. Ela podia estar em crise, mas ainda estava ali. Ainda tentava me amar. Eu só podia imaginar o que ela pensava, o que a deixava em pânico.

Usei os utensílios da cozinha que tão raramente eram lembrados. Fiz omeletes, torradas e até tentei fazer um bolo de massa pronta, mas não ia ficar pronto tão cedo. Arrumei a mesa da sala, que também quase nunca era usada, organizei o espaço e abri as cortinas. Um dia ensolarado invadiu o apartamento pelas portas enormes que davam para o terraço.

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