Capítulo 9 - Ponto de Impacto

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Alice

Foi um dia frenético e nada relaxante, mas o ponto alto foi a polícia voltando uma hora antes de acabar o expediente. Foram atrás dos documentos com a fraude de assinatura e acabaram por pegar mais que isso. Beatriz e eu ficamos sentadas perto das janelas enquanto os agentes e investigadores pegavam o que queriam. Ali, quietas e comendo balas açucaradas, ouvimos bastante sobre a investigação. Haviam outras corporações sendo investigadas e uma conta fantasma para onde as quantias de dinheiro público estavam sendo desviadas. Quando finalmente deixaram escapar o nome da conta, prendi a respiração e acabei sendo flagrada bisbilhotando, mas fiz de conta inocência:

– Querem? – Ofereci o pacote de balas aberto.

Negaram sem dar importância e voltaram ao trabalho com mais eficiência, em silêncio. Mas já tinham me dado o que eu precisava. Assistimos os agentes indo embora, então dispensei os funcionários remanescentes, deixando apenas Sarah e Beatriz. Vinícius pediu o jantar para ser entregue no prédio, seria uma noite longa.

Já passava das duas da manhã quando deitamos em nossa cama. Eu apaguei as luzes imediatamente e já estava fechando os olhos quando ouvi Vinícius soltar aquele ronco estranho. Percebi então o que estava acontecendo, porque estávamos tendo aqueles problemas pessoais. Uma década juntos era tanto tempo com uma pessoa, mesmo que eu relute em pensar nisso, dividimos tudo: vida, trabalho, sonhos. Era de se considerar que esses sonhos iriam nos separar um dia.

Ele não podia ser feliz comigo, já sabíamos disso há anos. Vinícius sabia sobre meu passado, entendia parte dos meus recuos e minha intolerância a comprometimentos, mesmo que cedesse a tudo que ele pedisse depois de relutar. Não era mais medo, era uma precaução. Um trauma que não gostaria de passar adiante. E ali, naquela cama, enquanto ouvia ele roncar pelas primeiras vezes, percebia que não seríamos felizes juntos, eu não podia dar o que ele pedia. Ele me pediu em casamento por amor, eu aceitei por ganância, para ter direitos sobre seu patrimônio. Vinícius sentia isso, nunca fui o tipo de pessoa que estava sendo nos últimos dias. A ideia de deixar o escritório mais vezes durante a semana, de passar mais tempo apenas com ele. E o papo de ter filhos podia ser brincadeira, mas é algo que ele poderia querer depois do casamento.

Sentei na cama e coloquei os pés no chão. A questão é que eu sempre abro mão do que eu quero para o que ele quer, porque o amo e me importo, coisa que demorei a desenvolver. Ele podia ser o único na minha vida que eu podia confiar cegamente, mas havia incertezas nas profundezas do meu ser que me impediam de seguir em frente. Essa mísera incerteza ia afastá-lo, magoá-lo, deixá-lo infeliz. Vinícius não tem más intenções, só quer ser feliz, ter uma vida estável e uma família. Foi errado ele redigir um acordo de separação de bens, me deixar contra a parede. Tirar de mim tudo o que conquistei e me mostrar como sou vazia e fraca. Mas o amo mesmo assim. Será que posso ser feliz assim? Essa será minha vida agora que ele sabe como me ganhar?

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