Capítulo 17 - Amor ao Próximo

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Vinícius

Não havia outro momento em minha vida em que eu estivesse mais entediado do que aquele. Sei que deveria estar de coração partido por dispensar alguém daquela forma, mesmo que ela sempre tenha sido displicente e nada competente, entretanto, estava sequer ouvindo seu arquejar ou me sentindo solidário com sua surpresa. Sarah havia segurado nos primeiros minutos enquanto eu agradecia por seu trabalho, elogiava sua "competência" e anunciava minha decisão de desligá-la da Ferreira e Lima, mas assim que comuniquei que ela podia escolher entre trabalhar mais trinta dias ou não voltar mais, ela nem quis ouvir sobre acordo vantajoso. Então fiquei ali, vendo uma mulher de vinte e dois anos debulhando em lágrimas. Tédio, pois eu podia estar do outro lado do hall, ainda dentro da minha noiva incrivelmente sensível e excitada graças a um contato.

Meu telefone tocou e fiquei grato por quem quer que fosse, pois eu estava surtando ali. Ao colocar o fone na orelha, fiquei ainda mais feliz.

— Oi. — ela disse simplesmente.

— O que é? — perguntei.

— Tá nervoso?

— Um pouco. Está com problemas?

— Acabei de provar o vestido para amanhã. — ela disse e notei que não estava nada contente. — Está ocupado? Não pode vir aqui?

— Estou um pouco ocupado, mas passo na sua sala assim que eu acabar.

— Sem pressa. É a Sarah?

— Sim.

— Tenho uma reunião daqui a meia-hora. Te ligo daqui a dois minutos e você finge que é uma emergência.

— Você não presta. — dei uma risadinha. — Mas eu quero que faça.

Então desliguei. Sarah continuava a chorar, mas agora estava debruçada sobre os documentos da rescisão.

— Alice quer falar comigo. Preciso de uma resposta sua, Sarah. — olhei com seriedade e postura, tentando ensiná-la a como se comportar numa demissão como uma adulta.

— Eu…

— Independente se quer ou não os trinta dias, ganhará o bônus e uma recomendação. Posso indicar outros escritórios, outros lugares de sua escolha. O que me diz?

— Tudo bem.

Tentei não mostrar alívio quando ela levantou, mas não escondi o rolar de olhos quando ela sentou de novo e chorou mais um pouco. O telefone tocou novamente…

— Ela está chorando?! — Alice ficou pasma quando ouviu as lamúrias.

— Sim. Já estou a caminho. — então desliguei. — Alice está me esperando, Sarah.

Foi minha vez de levantar. E a mulher percebeu que eu não estava para consolo, pois levantou secando os olhos e apertou minha mão.

— Não estou em condições de voltar amanhã. Sinto muito.

— Espero que melhore. — conduzi a inútil para fora e fechei minha porta. Não esperei para ver se ela se foi, pois Beatriz acenou com agressividade, me chamando com os braços. — Ah, merda. O que foi dessa vez?

— Ela colocou todos os costureiros para correr. — avisou Beatriz. — Pediu para ficar sozinha. Me colocou para correr.

— Ela tá estranha hoje. — foi tudo o que eu consegui dizer ao engolir em seco. Primeiro o mal estar repentino, depois o choro e a carência, agora isso. Havia um pensamento sobre essa coisa toda pairando, mas eu não ousaria admitir. Pelo menos não sem mais evidências. — Deve ser TPM.

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