Capítulo 13 - Privilégios

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Vinícius, 2015

Faltam seis horas para a cerimônia começar. Alice ainda não havia retornado minhas mensagens, nem tinha aceitado minhas ligações. Sei que estou insuportável nos últimos dias, levei a sério demais nossos eventuais encontros sexuais. Ela havia conversado comigo, pouco. Havia passado finais de semana no alojamento comigo e com os outros, estudando mais do que era realmente necessário. Embora nunca tenha falado sobre a possibilidade de ida à cerimônia de colação ou se queria alguma festa de formatura, pedi que fosse comigo, já que ela mencionou que não tinha familiares. Isso faz dois dias inteiros. Deduzi que a assustei, como sempre. O mesmo aconteceu quando a abracei depois da aula, quando comecei a aparecer para dormir com ela. Alice tinha problemas com relacionamento e eu não me sentia desencorajado. Ela me aceitava, me desejava.

– Nego, me empresta seu carregador? – Miriam pediu assim que me viu pelo corredor do alojamento.

– Tá no meu quarto. Pode pegar. – Disse sem dar atenção enquanto tentava outra vez ligar, mas aparentemente ela tinha desligado o celular. Antes que eu começasse a descer, outra porta foi aberta no corredor.

– Ainda tentando falar com a Alice?

Apenas assenti.

– Ela tava na festa ontem. – Felipe apareceu na porta do quarto de Olívia. – Falei com ela.

Ao ouvir aquilo, estremeci e Felipe obteve toda minha atenção. O universitário estava visivelmente de ressaca e ainda nem deve ter dormido, mas como era meu amigo, decidiu me contar o que havia descoberto antes de descansar.

– Ela estava acompanhada. – adiantou. — E ficou muito pouco… Perguntei que horas era pra pegar ela amanhã… Hoje. Achei que íamos todos juntos. Pra falar sério, achei que você estava firme com a Alice.

— Conta de uma vez, Felipe. — pedi com seriedade, quase esmagando o celular na mão.

Felipe fechou a porta atrás de si e chegou mais perto, para me contar com a voz baixa:

— Era Bomba. Ela chegou com o Marcos e a Verônica, Beatriz e o Igor. Acho que não percebi na hora, estava muito chapado,as depois que ela me deu um fora… Eles contrataram as meninas, depois ofereceram elas para mim, para quem quisesse. Bomba foi saiu depois disso, com o Marcos e outro cara, não sei…

Felipe fechou o punho e o bateu no meu tórax com firmeza, um sinal de força. Eu não tinha como reagir. Não sabia o que pensar, não reconhecia o emaranhado de emoções que me tomaram pela garganta.

— O que ela disse a você? – minha voz estava áspera.

— Que eu mantesse minha boca fechada e que saísse do caminho.

Desci dois degraus e pedi que Felipe parasse.

— Preciso ficar sozinho. – expliquei e o deixei.

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Sempre gostei de gravatas e ternos. Mas não curtia muito ser enforcado a cada vez que engolisse a raiva com a secura. O capelo estava me irritando também, nada estava certo. Sentado no meio do auditório enquanto ouvia o começo da cerimônia e sustentava a carranca. Ao meu redor, estavam todos sorridentes, tirando fotos e rindo enquanto falavam sobre qualquer coisa banal. Felipe estava inquieto, mas estava silencioso e observador. Eu não queria parecer nervoso, então ele seria meus olhos.

— Sua família está aqui. — Comentou Felipe com um risco de sorriso. — Eles estão atrás da fila dos mestres.

— Quem veio?

— Sua mãe, pai, suas duas irmãs e um cara de cavanhaque.

— Amante da minha mãe. — contei com um sorriso pequeno. — Tio Kleber.

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