Capítulo 4 - Argolas Douradas

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Vinícius

2007, Festa Dos Veteranos da Universidade

Meu coração ia parar a qualquer instante. Certeza. Eu tô morrendo. Culpa do Felipe, aquele filho da puta. Nunca devia ter tomado algo oferecido por alguém com as pupilas  dilatadas. A sensação era péssima, sabe? Sentir tudo melhor, como se eu fosse a porcaria de um felino. A música estava estridente e o calor estava fazendo o suor descer pelas minhas sobrancelhas. Depois de ter certeza que havia sido drogado, tentei induzir o vômito (não deu certo), então roubei da geladeira uma garrafa de leite e estava entornando pela minha goela. Não que eu fosse puritano, amava essas festas… Felipe era um dos meus melhores amigos.

Mas eu tinha exame dali há quatro horas.

Sentei no sofá e fiquei focado em não desmaiar. Dormir era garantia que ou eu morreria com o coração explodindo ou perderia o exame. A gritaria e a música alta não atrapalhou meus pensamentos sobre hierarquia das necessidades e a discussão entre Fascismo e neoliberalismo na minha mente. Não, uma mulher nua dançando no capô de um carro. Não, o presidente e o ministro da justiça caindo no pau. Não, um porco espinho dentuço como um coelho.

– Tá legal aí, Vinícius? – Felipe apertou meu ombro.

– Não seria do caralho se o presidente de esquerda nomeasse ministros de direita? A TV seria um eterno UFC.

– Seria histórico. – Meu amigo me obrigou a focar minha visão. – Bomba chegou, você viu?

– Não. – balancei a cabeça e me levantei. Não tinha visto a garota entrar. Estava tentando não deixar meu coração explodir.

As colegas dela estavam espalhadas pelo apartamento, coladas nos outros veteranos, algumas acenavam para mim enquanto eu cambaleava pelos corredores. A luz estava forte demais, o calor me sufocava.

O som foi abafado quando tranquei a porta do meu quarto. Bomba estava olhando pela janela, o casaco branco enorme tampando tudo até o meio das pernas. Seu salto alto parecia desconfortável e seus brincos pesados, argolas douradas como ouro maciço. Não ousei chegar perto, ela era muito estática, perigosa como uma lâmina. Com certeza estava ali para saber mais sobre minha ideia e não por mim.

– E aí? – cocei meus olhos e caminhei até minha mesa de trabalho.

– Li o que você me mandou.

– E?

– Capital de Risco? – ela tinha a voz seca, impessoal. Mesmo de costas ela me dava arrepios. Lado bom, ela não ia puxar muito assunto. Sabia muito sobre o assunto, já havíamos feito vários trabalhos juntos, então não iríamos falar muito, pois eu não estava pensando em nada produtivo. Não com ela daquele jeito. Lado ruim seria isso, ela me atrair e me subjugar somente por ser a mulher que era.

– Mais que isso. – tentei explicar. Mas era difícil diferenciar minha colega da profissional. – Terceirização da parte burocrática. Execução de Planos Iniciais e Financeiro. Capital de Risco Aplicável e Gerenciado.

– Quanto?

– Seis milhões para começar. Fiz o planejamento de custo e benefício, os prazos...

– Você errou. – ela se virou devagar. Era tão nova. Tão séria. Tão distante. – Esta deve ser sua primeira vez, não?

– Sim. – examinei melhor o vestido curto que ela vestia, o cordão dourado com um pingente de granada. – Mas passei três anos aperfeiçoando meu projeto.

– Seis meses é pouco. A área de atuação é fraca, pequena e específica. Não seria necessário tantas pessoas para realizar procedimentos hipotéticos. Deve pensar com o mínimo, com o lógico. Nunca se consegue um peixe grande de início. O planejamento deve englobar um ano, prevendo quedas. Eu não vou te dar meu dinheiro enquanto não tiver algo real para mim. Mas… – ela fez uma careta. – Gostei da ideia. Melhorou bastante, deu pra perceber.

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