Capítulo 23 - Jovem e rico

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Vinícius

Eu não fazia ideia do que fazer naquele escritório. Não havia mais reuniões, pois as contas mais turbulentas foram passadas para minha sócia e o restante estava em ordem. Passei a manhã correndo pelo quarteirão até ver Alice sair, não conseguia mais olhar para ela sem querer gritar. E eu não podia, pelos bebês que ela carregava. E pelo respeito que eu ainda tinha por ela. Então me arrumei depois que ela se foi e então fui para o escritório.

Berta me acompanhou nos andares inferiores durante a manhã, tivemos uma reunião amena com um grupo de planejamento e pesquisa, então almoçamos juntos no restaurante ali perto. A risada dela estava invadindo meus pensamentos antes da sobremesa.

— Está muito emburrado hoje, Vi. — ela limpou a boca com um guardanapo. — A megera aprontou de novo?

— Nada que te diga respeito, Berta.

— Quanta secura, chefe. — ela fez beicinho. — Quer desabafar comigo? Sou um ótimo ombro.

— Só dormi mal. — meia verdade. Só queria que ela se calasse e terminasse a porcaria da sobremesa para que eu voltasse para a paz da minha sala.

— Tenho a impressão que você está assim porque está magoado.

— Não enche.

— Você se magoa a toa. É muito sensível. — ela falou isso com um alto grau de sabedoria.

— E você conhece tão bem meus sentimentos, minha personalidade, não é mesmo?

— Isso nunca mudou, sabe? Você não consegue esconder, fica tudo na sua cara linda. A raiva, a angústia, o tesão, a paixão, a ambição. Eu sei ler exatamente o que tem aí. — ela apontou para mim.

— E o que exatamente eu estou sentindo? — fui irônico novamente, sem humor para essas baboseiras.

— Está magoado, isso te deixa ranzinza e hostil. Por isso está tão seco e mal. Um ogro.

— Chega. — pedi.

— Você quem manda, chefe. — ela sorriu e voltou para as suas trivialidades fúteis e risadas altas.

Passamos a tarde no arquivo, Berta feliz por fazer horas extras. Ajudamos os estagiários a registrar e realizar as outras tarefas. Ela ainda se adaptava com a ideia de se colocar no operacional. Passava um pouco das três quando ela disse que iria dar um pulinho na sala para checar minha agenda antes de ir embora. Alguns minutos depois ela passou ramal para mim, pedindo que eu subisse com urgência.

Sai do elevador com rapidez, mas apenas Beatriz estava no hall. A mulher estava séria, porém calma e alerta. A cumprimentei com um aceno de cabeça e fui para minha sala. Berta estava no computador, com os olhos se movendo com rapidez.

— Que foi dessa vez? — minha paciência estava se esgotando.

— Quando eu trabalhei na ADMT, tinha contatos com a Ayren Lemos. Sabe quem é?

— Jornalista. E daí? Não trabalhamos com a imprensa.

— A ADMT tem um segmento editorial e a Ayren é uma das nossas fontes. Há alguns meses ela nos deu uma bomba.

— Hum…

— O filho do magnata Russo Castelo, Lucas, foi preso por agressão.

— Seja direta, cacete. Tô sem paciência.

— Lucas Castelo sempre foi manchete e isso rendeu boas edições para a revista e eu, como marketeira, já conheci o cara. Ele tem uma fábrica têxtil que o pai deu para deixá-lo ocupado. Aparentemente, a fábrica está crescendo e ele precisa…

— Ah? Tem o contato dele?

— Não precisamos. Ele está com a chefe.

Engoli em seco. Nunca foi mencionado um novo cliente. Nenhum contato. E aquele Lucas Castelo era um herdeiro de hotéis de luxo pelo mundo. Alice devia ter me contado, mesmo que tivéssemos com problemas de comunicação. Não era normal Alice deixar assuntos do escritório de lado.

— Devíamos estar todos naquela sala. — Berta disse. — Pode ser outra grande aquisição e eu já tenho alguma relação com o homem. Quero dizer… Não desse tipo. Se bem que ele é um galinha e atira para todos os lados.

— Concordo. Devíamos estar todos lá, mas Alice sabe o que faz. Confio nela e sei que vai fazer o melhor pela Ferreira e Lima.

— Ah, outra coisa. Você recebeu um e-mail há seis minutos. — ela me chamou para ver o monitor. — Devo responder o que?

Era um e-mail do acessor de meu pai pedindo uma audiência comigo para assuntos urgentes e pessoais. Queria me ver. Sozinho. Na casa onde ele quase estuprou a mãe dos meus filhos. Eu tinha poucas e boas para responder, sim. Mas por causa da última frase, engoli a saliva com um amargor. "Há uma Bomba que não queremos que exploda."

— Filho da puta. — murmurei rancoroso. — Peça que mude o local e o horário. E deixe claro que minha noiva vai junto.

Berta redigiu um e-mail educado, mas com um sorriso perverso. Ela sabia da história da minha família, como acabei administrador e não doutor. Ela havia conhecido meus pais antes de eu entrar pra faculdade, havia presenciado a relação estranha deles com o amante da minha mãe. Aliás, antes de nos afastarmos, Berta presenciou uma das discussões que precederam o escândalo que me fez ser escorraçado daquela casa. Então ela sabia como responder aquele e-mail com a intenção de afrontar, provocar e ao mesmo tempo deixar tudo assentado.

— Ótimo. — dei dois tapinhas nas costas da minha assistente e saí da sala, com uma grande vontade de correr novamente.

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