Febem

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Notas do autor:
Gente, eu sei que a Sina não tem 17 anos, mas é porque senão ela iria pra cadeia e não pra Febem, ok? E eu precisava que fosse na Febem, espero que entendam♡


POV Sina

Eu nem pude me despedir deles. Quer dizer, ninguém quis se despedir de mim. Só o Noah. Ele me deu um super abraço e um beijo intenso. Como se fosse um adeus. Eu não queria que fosse um adeus.

Meus pais choravam muito. Ficaram me abraçando por minutos, mas eu logo tive que ir.

Febem, Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor. Que ótimo. Eu passaria meus próximos três anos nesse inferno.

Eu cheguei lá bem na hora do almoço. Era um refeitório lotado de crianças e adolescentes. Uns comiam no chão ou de pé porque os lugares nas mesas tinham acabado. E ainda tinha gente na fila para pegar comida.

Os policiais só me deixaram ali. Não me disseram nada e foram embora. Eu fiquei olhando para aquele bando de pessoas.

Eu não ia comer. Não mesmo.

Olhei para a parede, no fundo do refeitório. Tinha dois grupinhos de adolescentes com um espaço entre eles. Acho que era o único lugar disponível ali.

Encostei na parede. Eu não ia sentar no chão de jeito nenhum.

Um dos grupinhos parecia ser legal. Eles deviam ter a minha idade e brincavam de algo que parecia ser stop. Sem... papel. O outro parecia ser malvado. Olhavam de cara feia para todos e falavam gírias estranhas.
Eu estava lá esperando algo acontecer, quando escutei falarem de mim no grupinho malvado:

"Olha aquela menina toda patricinha" Uma garota sussurrou.

"O que será que ela aprontou? Ela é bonita hein..." Um menino disse. Isso fez uma das meninas dar um soco de leve no braço dele.

Que lugar horrível. Não estava lá nem dez minutos e já queria morrer.

"Eii, quer brincar com a gente? Estamos jogando stop, mas na mente mesmo" Uma menina do grupinho legal disse rindo.

Eu aceitei. Me agachei, sem encostar no chão.

"Letra M" Um dos meninos disso. Todos ficaram pensativos até que uma menina gritou stop.

Na verdade, não queria brincar, apenas escutar.

"Qual o seu nome?" A garota ao meu lado perguntou.

"Sina. Sina Deinert"

"Nome bonito. Me chamo Lauren"

"Bonito também" Eu falei, querendo ser simpática. "Quantos anos você tem?"

"16. Cheguei aqui com 11"

Será que eu também ficaria aqui por 5 anos? Normalmente são 3... Por que ela está aqui há mais tempo? Eu não queria ficar mais tempo... Ai meu Deus, estava desesperada.

"E você?" Ela perguntou.

"17"

Ficamos sem conversar por um tempo. Até que ela perguntou aquilo que eu imaginava:

"O que... você fez?"

"Nada" Respondi rápido.

Ela fez uma cara de quem não estava acreditando.

"Todo mundo responde isso por vergonha. Mas a verdade é que se não tivesse feito nada, não estaria aqui"

"Ok. E você?"

"Eu não tenho vergonha de falar. A pessoa sabe que estou aqui, ela já sabe que fiz algo errado. Assim como ela. Ela pode negar, mas se está aqui, também fez algo errado. Todos sabem" Ela deu uma pausa e continuou. "Eu roubei uma loja junto com uma amiga minha. Ninguém descobriu nada. Depois, resolvemos assaltar outra loja e quase matamos o dono por não nos dar o dinheiro. Mas a polícia chegou na hora. Nos trouxeram para cá"

"E quem é sua amiga?"

"Ela já foi. Saiu ano passado..."

"Mas... Se vocês fizeram a mesma coisa e entraram no mesmo ano, você também já não devia ter saído? Não são apenas 3 anos?"

"Eu tentei fugir. Me pegaram e por isso terei que ficar aqui por mais 3 anos. Por punição"

Arregalei os olhos.

"Nossa..."

"Mas e você? O que você fez?"

"Alguém matou duas amigas minhas e um policial e eu levei a culpa" Abaixei a cabeça.

"Como te incriminaram?"

"A arma do crime tinha as minhas digitais"

Ela me olhou estranho.

"Sina, se suas digitais estavam na arma do crime, com certeza foi você. Não tem argumento para isso"

(...)

Depois do almoço, os policiais levaram cada um dos adolescentes para uma cela. Era realmente uma cela individual.

Pelo o que me falaram, a gente só saía de lá para comer. Alguns adolescentes eram chamados para limpar e ajudar nos afazeres. Me disseram que era a melhor coisa, que nunca recusavam, pois faziam de tudo para sair daquela cela. Não importava se era para limpar o banheiro, só de saírem para fazer alguma coisa já era bom.

Me sentei. Olhei para a cela à minha frente, onde tinha uma menina de aparentemente 12 anos. Ela estava triste, chorando.

Olhei para cima e fechei os olhos. As lágrimas começaram a vir também. Como a sua vida pode mudar assim, de um dia para o outro?


𝐅𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐝𝐨 𝐓𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora