O Velório

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POV Any

Quando chegamos, quase todos já estavam lá. Só faltavam Sofya e Bailey.

Ao lado do caixão estavam alguns familiares de Sabina (inclusive sua mãe, que chorava muito). Pepe estava com a cara vermelha, provavelmente já tinha chorado bastante. Também estavam Josh, Shivani, Heyoon e Hina.

Cumprimentamos o resto do grupo, que estavam em um sofá, e alguns da família da Sabi.

"Você vai ver o corpo?" Noah me perguntou.

"Eu vou. Você vai?"

"Eu tenho medo..."

Comecei a rir.

"Um homem desse tamanho com medo!"

"Eu tenho, ué..." Ele fez uma cara fofa. "Se você ficar aí rindo, o povo vai achar que você tá zoando com a cara deles"

"E se você ficar com medo, vão achar que você é um bebê de três anos!"

Eu fui andando em direção ao caixão. Logo depois, Noah estava do meu lado.

"O bebezão tomou coragem?" Eu ri.

"Hahaha, muito engraçado"

Chegamos lá e cumprimentamos as pessoas. Noah nem quis ver realmente o corpo, ficou conversando com Pepe.

Eu olhei Sabina. Ela estava muito branca e gelada e sua boca estava ressecada. Flores brancas, amarelas e rosas cobriam o resto de seu corpo. Mas o pior de tudo era o corte enorme em sua cabeça, não cicatrizada. Estava aberta, vermelha, com sangue.

(...)

Não tinha mais espaço no sofá onde o grupo estava, então me sentei em uma poltrona e o Noah em um sofazinho, ao meu lado.

Logo Bailey e Sofya chegaram, mas nem foram ver o corpo. Bailey ficou com o grupo, em pé mesmo. Sofya veio até nós e se sentou numa cadeira ao lado de Shivani.

Ficamos conversando por um tempo, até sermos interrompidos pela mãe de Sabina.

"Por que Sina fez isso com minha filha?!" Ela perguntou, quase gritando com Noah.

"Eu... também queria entender"

"Você sabia de tudo, não é, Noah? E ainda confiávamos em você!"

"Não, eu não sabia. Eu fiquei muito tris..."

"Pare de mentir. Era sua namorada. Óbvio que sabia!!"

"Ela não era min..."

A mãe de Sabi foi embora e deixou Noah falando sozinho.

"Por que as pessoas acham que eu tenho alguma a ver com as mortes!? Só porque eu tinha um caso com Sina?! Quem matou foi ela, não eu!! Que coisa!" Ele disse, bravo.

Eu e Sofya ficamos quietas, mas como ela adora colocar pilha, disse:

"Então porque a ficou defendendo? Falando que a pulseira não tinha nada a ver, que vocês estavam juntos o tempo todo?"

Ele fez uma cara de indignado.

"Porque foi realmente isso! Mas eu não tenho nada a ver! Olha, eu nem sei mais. Pra mim isso não faz sentido nenhum!"

Ficamos quietos praticamente o resto do velório inteiro.

(...)

É estranho o quanto cemitérios me deixam estranha. Aquele monte de covas e túmulos. Eu ficou imaginando os corpos lá embaixo, fedendo, a pele toda em decomposição, bichos andando por volta dos olhos inteiramente pretos. A boca ressecada, aos pedaços... Alguns caixões sem nada, apenas ossos e restos mortais... Isso me traz um sentimento... Ruim.

Sempre digo que quero ser cremada. Não quero dar trabalho às pessoas de virem nesse lugar horrível e se sentirem mal aqui como eu me sinto. Não vejo o sentido das pessoas irem ao cemitério. Acho que você tem que visitar em quanto se está vivo. Sabe? Beijar, abraçar, dançar, brincar... Do que adianta vir visitar agora? Você vai conseguir abraçá-lo novamente? Não. Faça isso em vida, depois que morre... Não adianta mais nada.

Enquanto andávamos para enterrar Sabina, fiquei pensando nisso. No quanto precisamos aproveitar em quanto há tempo.

Precisamos falar tudo o que queremos, comer tudo o que tivermos vontade, viajar, dançar, brincar na chuva, gritar, cantar... Porque a vida é curta, e muito. E quando tivermos lá no céu, olhando aqui para baixo, vamos ficar nos lamentando por não ter feito isso, nem aquilo.

Os coveiros abriram o túmulo. Alguns bichos saíram de lá e muita, muita poeira. O único corpo que havia lá dentro era do bisavô de Sabina.

Fizemos uma oração e após isso os coveiros levantaram o caixão. Fiquei imaginando Sabi, tão alegre e doidinha, triste lá dentro.

Acho que foi a pior imagem que já vi. Colocaram o corpo de Sabi na cova e fecharam o túmulo. Ela ficaria ali para sempre, naquele lugar sombrio, escuro e frio.

De repente senti uma raiva enorme de Sina Deinert. Já é triste a pessoa morrer de doença ou em um acidente. Mas assassinato... Só de pensar que se aquela desgraçada não tivesse feito isso, Sabina ainda estaria aqui, conversando, dançando, rindo... Assim como Joalin.










𝐅𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐝𝐨 𝐓𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora