Capítulo 8 - O inimigo entre nós

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— Clarke? Clarke?
Alguém a chamava repetidas vezes e os olhos da garota estavam embaçados, como se ela não pudesse enxergar o que estava diante dela. Uma mão surgiu acima de seu braço, a puxando para um lugar agitado. Clarke estava completando perdida, insistindo para tentar enxergar quem estava ao seu lado.
— Ei Clarke? — a voz agora bem mais perto do que antes dizia. — Olha os lustres?
A garota inclinou a cabeça para cima e finalmente ficou tudo tão claro. Seu corpo estava leve, sua respiração estava calma, estava sendo guiada agora para a pista de dança e quem ela poderia reconhecer naquele momento a levando finalmente era Wells.
— Você está linda. — ele afirmou a parando no centro e começando ambos a dançarem o ritmo agitado que estava tocando ali.
— Você não está nada mal. — dizia ela agora sorridente.
A festa estava bombando e o salão estava cheio. Não se acreditaria que a arca organizasse uma festa tão empolgante, já que as leis por ali eram diferentes na visão do Chanceler atual. A bancada principal tinha muitos doces, salgados e claro ponche. Wells os serviu enquanto estavam parados ali, Clarke olhava por toda sua volta e assistia os rostos empolgantes de todos os jovens daquele lugar. Eles eram muitos afinal, pensava consigo mesma. Talvez não conhecesse um terço de toda a população da arca, mas seu mundinho parecia cheio demais e seu único amigo era Wells.
— Não acreditei quando nossos pais autorizaram nossa vinda para festa. — dizia ele lhe entregando o copo.
— Verdade. — ela fez gesto de agradecimento com cabeça e deu gole. — Meu pai fez toda aquela cena que você já conhece.
— Eu sei. — o garoto começou a gargalhar ao lembrar. — Nossa como minha menininha cresceu. — ele imitou a voz de Jake.
— Aí céus. — Clarke começou a rir e abaixou a cabeça. — Exatamente isso.
— Ele é um ótimo pai. — Wells a encarou. — Você tem sorte Clarke.
— Ei. — ela segurou seu braço largando o copo sobre balcão em um gesto de preocupação. — Seu pai tem muito orgulho de você também.
— Eu não sei muito bem se sim.
— Não diga isso Wells. — ela ergueu sua cabeça. — Você é incrível. Seus pais te amam e se orgulham sim de você.
— É. — ele deu de ombros. — Sabe o que minha mãe me disse antes de sair?
— O que?
— Convide a Clarke para dançar e não pise nos pés dela. — ambos riram por alguns segundos.
— Aí caramba porque não me surpreendo?
— O que?
— Você é um péssimo par de dança.
— Ei não diga isso. — Wells brincou fingindo ficar chateado. — Eu estou aprendendo ok.
Clarke soltou riso alto e os dois ficaram ali juntos se divertindo. Eram dois amigos contra o mundo e nada poderia abalar essa amizade.
-

— Clarke? — uma voz familiar desviou os pensamentos da garota.
— Oi? — Clarke retomou para sua consciência assistindo Finn a chamando para mais perto do lago.
Era claro que sua promessa em ir naquele passeio com garoto, precisasse ser realmente comprida e Clarke, estava sentindo falta do senso humorístico do jovem Collins.
Havia uma toalha sobre a área dali e uma cesta os esperava. Finn encarou a menina e sentou, logo a chamando para se unir a ele. Al abrir a cesta diversas guloseimas saíram dali a deixando bastante surpresa.
— Espera isso é um piquenique?
— Exatamente. — afirmou ele completamente entusiasmado.
— Onde conseguiu todas essas coisas? — ela olhou aquelas frutas exóticas, pelas quais sabia que não tinha no acampamento.
— Eu explorei por volta. — dizia ele orgulhoso de si mesmo.
— A quanto tempo planejou isso?
— Não sei. — ele pausou a encarando. — Talvez 7 dias ou mais.
Clarke ficou em um silêncio absoluto e constrangedor. Sabia ela que os dois tinham uma ligação forte e teriam, se afastado desde a formação do acampamento. Agora a garota sentia uma culpa por ter o distanciado por esses dias.
— Isso é incrível Finn. — dizia ela mostrando sua admiração. —Obrigado.
— Que isso. — ele pegou dois copos e a serviu. — Isso é pela nossa nova fase certo?
— É. — ela pegou o copo que lhe fora dado. — Espera nova fase?
— Claro. Vocês não é mais a vilã da história. Então talvez somos os mocinhos, vivendo novas aventuras em uma terra desconhecida.
Clarke ficou em silencio novamente. Apenas deu um gole em sua bebida e começou a comer o que tinha ali reservado, admirando a autoconfiança que aquele garoto passava. Ali talvez ela se lembrasse de alguém que adorava lhe fazer surpresas como aquela, um café da manhã estilo piquenique era a peça perfeita para que Finn se conectasse ainda mais com suas raízes. Era como se ele soubesse exatamente do que sua eu interior gostava realmente.
— O que foi? — Finn mastigava algo e se apoio na toalha com cotovelos.
— Nada. — ela ignorava o fato dos seus pensamentos imaginarem o passado.
— Não gostou do que fiz? — ele parecia preocupado. — Eu violei alguma coisa aqui?
— Não. — ela soltou riso sem jeito. — Não é isso não, calma.
— Então? — ele ainda estava naquela posição.
— Eu só gosto de coisas assim. — ela encarou o lago a frente. — Da sensação de que nada ruim aconteceu na minha vida.
— Eu sinto muito se isso te ofendeu Clarke. — Finn segurou em sua mão e fez um cara de cachorro sem dono.
— Está tudo bem. — ela colocou sua mão sobre a dele. — Eu gostei sim. Foi muito gentil e simbólico para mim.
Finn apenas demostrou um semblante de orgulho em seu rosto, e continuou ali apenas comendo e conversando com ela. A manhã não poderia ser melhor para ele e finalmente estaria com toda a confiança da garota.
Em meio as árvores próxima do lago Wells, pegava alguns troncos pequenos para abastecer a pilha da fogueira quando os viu ali rindo e comemorando o tempo juntos. Um nó estranho ficou em sua garganta e apenas sentiu uma vontade enorme de sair de perto. Retornou ao acampamento tão enfurecido que jogou os troncos na pilha, pegou um copo de bebida e foi em meio aos que acordava naquela manhã até sentar sozinho na mesa do refeitório.
— Bom dia. — dizia Octávia ao se aproximar. — Tá ocupado?
— Não. — ele nem a olhou direito.
— Valeu. — ela puxou o banco sentando ao seu lado. — Manhã ruim?
— Talvez. — dizia ele com ombros rígidos olhando para seu copo.
— Quer falar sobre?
— Com você? — ele lançou olhar raivoso. — E correr risco de levar um soco na cara? Não, obrigado.
— A qual é. — ela se encostou para trás mostrando não ter medo dele. — Bellamy se arrependeu do que fez, deveria esquecer isso.
— Não é o que me pareceu.
— O que você quer? Um pedido de desculpas oficial? — ela cruzou os braços irritada por sua atitude.
— Quem sabe. — ele deu de ombros.
— Não mesmo. — ela balançou a cabeça desacreditada. — Bem que dizem que você é um mala igual o seu pai. — ela insinuou levantar.
— Espere. — ele se inclinou na mesa para chama-la. — Desculpa.
— Olha só isso é um bom começo. — Octávia soltou riso suave e voltou a sentar. — Qual o problema de tanto mal humor?
— Talvez eu me incomode com a intenção de algumas pessoas aqui.
— Pessoas? — ela ergueu a sobrancelha curiosa.
— Finn. — ele finalmente afirmou.
— Ora, ora. — ela novamente se encostou para trás e cruzou os braços curiosa para ouvir. — E porquê?
— Ele fez toda uma ceninha lá no lago para levar a Clarke ao piquenique.
— Isso me parece fofo. — ela sugeriu.
— Não é fofo. — Wells retrucou com raiva. — Ele está usando ela.
— E por qual motivo ele faria isso?
Wells ficou em silêncio como se não estivesse certo se poderia confiar em alguém naquele momento. Octávia por sua fez, ergueu a sobrancelha o confrontando deixando claro também para o garoto, que também tinha suas dúvidas em relação as intenções de Finn.
— Olha eu não gosto dele. — ela iniciou. — Já temos algo em comum, certo? Se eu souber de qualquer coisa que me confirme que ele realmente não vale nada.
— Ele é um stalker. — Wells finalmente falou.
— Isso é interessante. — Octávia largou seu copo de lado e se inclinou para frente. — Diga-me o que você sabe?
— Uma vez fui até a sala do meu pai e tinha uma ficha dele na mesa. Eu nunca fui de ficar olhando as coisas do trabalho dele, mas me chamou atenção de alguma forma. Ele tinha sido indiciado como suspeito da morte de uma menina menor de idade.
— Meu deus. — Octávia estava pasma.
— Eu fiquei curioso para saber mais coisas, daí continuei lendo a ficha dele e descobri que o garoto tinha indícios de roubo, pequenas infrações e cúmplice de um sequestra com a irmã dele.
— Caramba. — Octávia colocou as mãos em seu rosto. — Ele tem uma irmã?
— Tem sim. — Wells se inclinou para frente falando mais baixo. — Raven Reyes. Tem 19 anos e passou a grande infância em um reformatório até ser adotada pelos Collins. Na ficha parecia dizer que os dois são inseparáveis até que os pais do Finn morreram. — o garoto pausou.
— Eu sei. — Octávia sabia do constrangimento dele em falar atos de seu pai. — Flutuados por crime. — ela revirou os olhos. — Continua.
— Daí as coisas ficaram bem piores e Finn ficou quase sempre de detenção na ala oeste.
— O que seu pai fez a respeito?
— O colocou no plano da nave. A ideia em separar ele da Rave,n parecia ser a única saída já que a menina tinha se mostrado promissora para arca.
— Promissora? — Octávia usou tom de ironia. — Sei.
— Por isso não posso confiar nele, sabendo de todas essas coisas e vendo ele bancar o bom samaritano com a Clarke.
— Beleza. — Octávia parecia ter recebido um prato cheio de informações que precisava. — Precisamos avisar todo mundo sobre esse cara.
— É claro que não. — Wells ficou nervoso. — Olha em sua volta, tem muitos outros aqui como ele ou até piores e nem mesmo sabemos.
— Duvido que tenha um pior que ele por aqui. — ela estava nervosa. — Estamos falando de um psicopata?
— Octávia?Olha, eu sei que não gosta dele assim como eu. Só não posso simplesmente jogar tudo que sei sobre ele para todos, será minha palavra contra a dele.
— De fato é mesmo. — ela reconheceu a ideia ruim. — Ninguém acreditaria em você. Desculpa minha honestidade….
— Eu sei — ele aceitou sua desculpa.
— Mas, se você contar a Clarke ou para meu irmão as coisas mudam completamente de figura.
— Ficou maluca? — Wells ficou surpreso com sua ideia. — Clarke me odeia, ela nem se quer falaria comigo. E o Bellamy? Quais são as chances de eu não terminar morto?
— Você tem uma visão totalmente errada do meu irmão.
— Ele que se mostrou ser assim.
— Tá legal. — ela desviou a conversa. — E o que podemos fazer sobre isso?
— Nada. — ele parecia sereno agora. — Precisamos aguardar os comunicadores funcionar e meu pai cuidará de tudo isso quando chegar a hora.
— Esse é o plano? — ela ficou perplexa por sua tranquilidade. — Esperar o seu pai resolver?
— Exato.
— Não! — ela se exaltou. — Não cara, você só pode estar de brincadeira comigo. E se ele matar a Clarke?
— Ele não faria.
— Sequestrar ela? Ou pior sumir com ela na floresta a dentro?
— Ele não cogitaria.
— E se ele sei lá fazer ela querer roubar todos nós ou nos matar?
— Octávia? — Wells cruzou os braços. — Não. Não mesmo, estamos falando da Clarke aqui.
— Como pode ter tanta certeza? Como pode ficar sentado aí calmo, quando um psicopata está entre nós? — ela apoiou as mãos na mesa chamando atenção.
— Porque esse não é plano dele. Ele precisa da Clarke. — o garoto chamou atenção para que se acalma-se.
— E porquê ele precisa dela?
— Ela odeia o meu pai. — ele levantou. — Sei também que ela tinha um plano maluco em prender meu pai no espaço. O que parece ser muito ruim, mas esquecido por ela.
Octávia fez uma careta surpresa por ele ter descoberto tudo, pensou talvez que ter dito para Jasper foi uma ideia idiota.
— E ele gosta dela.
— Gostar? — Octávia não aceitava. — Como um garoto com uma ficha dessas, um passado pecaminoso como o dele pode gostar de alguém?
— Eu não sei. — Wells afirmou. — Eu só sei que ele vai fazer algo, só precisa da Clarke para conseguir.
Os dois ficaram em silêncio quando assistiram o casal cruzar o acampamento em uma conversa descontraída. Octávia olhou para Finn de uma forma tão apavorada que não seria difícil alguém perceber.
— Eu não sei se posso guardar isso.
— Você pode. — ele afirmou. — Assim como também pode continuar de olho nele.
— Como você? — ela parecia ter sido pega de surpresa.
— Eu sou invisível aqui, mas ouço as conversas de vocês. Todos tem muitas intenções estranhas, ocultas, assim como seu irmão.
— Que merda está falando? — ela ficou irritada com a insinuação.
— Relaxa. — Wells os encarava enquanto falava. — Achei legal o que Bellamy fez aqui e como ajudou a Clarke ficar melhor. Faz muito tempo que eu não via esse lado dela.
— Eu não entendo. — Octávia o encarou. — Se preocupada tanto com ela, porquê não voltam a serem amigos?
Wells agora ficou com seus olhos em Clarke e suas lembranças vieram, tempos talvez distantes pelo qual tudo parecia ser diferente entre os dois.
— Porque mudamos. — afirmou. — Eu não mereço mais esse título.
-

Era muito tarde quando um estrondo forte fez Clarke despertar. Havia uma grande movimentação que a fez sair de seu quarto, indo em direção a sala para saber o que estava acontecendo. A cena que a deixou paralisada foi de seu pai ajoelhado no chão, enquanto guardas estavam o rodeando. Chanceler estava ali junto de dois de seus conselheiros, entre eles o mais conhecido por ela Kane. Sua mente ficou tão confusa que não entendia direito o que eles falavam, apenas se lembra de o acusarem de traição contra o povo da arca, seu povo.
— Pai? — ela gritou mostrando claramente que assistia tudo.
— Querida não. — seu pai suplicou para que não tentasse.
Abby segurou firmemente a menina em seus braços, quando os guardas o algemaram e o levaram dali brutalmente.
Clarke se debateu tanto e sua mãe usou tanta força contra ela, com toda certeza seus braços ficariam marcados no dia seguinte. As lágrimas se perderam em seu rosto pálido, assustado e atormentado por ver seu pai naquele estado. Quando conseguiu chegar até a porta avistou os rostos familiares de Wells com seus pais. Ela suplicou que não os levassem e tudo ficou atordoado depois, um vazio forte surgiu e depois o escuro finalmente a dominou.

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