O vento no leste do país das montanhas era forte. Ventava como se todo dia fosse acontecer um vendaval que levaria tudo embora. Mas o sol brilhava forte naquele fatídico dia, e o clima de verão dava uma sensação de férias aos moradores da cidade do mato. Era chamada assim por causa das grandes plantações de trigo que tomavam conta das fazendas que circundavam a rodovia interestadual.
Duke não sentia o calor que fazia no dia, não estando a cem quilômetros por hora em sua Harley Davidson recém comprada. Ela o fazia simplesmente querer voar pela estrada, deixar o chão e atingir o céu azul anil. O vento que já soprava forte naturalmente, agora parecia um tornado em cima dele e da moto, considerando toda a velocidade que ele atingia.
Seu nome de cartório era José Carlos Nascimento Filho, menino natural de uma cidadezinha perdida em algum lugar do mapa, saiu cedo de casa, assim que completou seus dezesseis anos. Foi morar com o irmão mais velho, que trabalhava como mecânico na época. José aprendeu tudo sobre mecênica de carros, motos, caminhões, tratores, barcos... Trabalhou com o irmão por cinco anos, até a noite em que a tragédia aconteceu.
Veja bem, vida de mecânico independente é dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Os clientes não são assíduos e ainda mais em uma cidadezinha do interior... onde quase ninguém tem carro. Mas teve esse dia em que propuseram um trabalho diferenciado pro irmão do José, um trabalho que envolvia umas coisas ilegais. E pagava bem pra caralho. Mais dinheiro do que ele podia contar. Grana alta que faria dele o cara que leva o Camaro pra revisão, e não se importa em pagar o que quer que seja.
Envolvia um assalto simples a uma loja de conveniência 24hrs. Os caras que ofereceram o job disseram:
"Vai lá neguim, vai ser molezinha demais."
"Tu faz essa parada de olhos fechados, ta ligado?"
"Mas lembra de roubar o que ta dentro do cofre, debaixo do balcão!"
"É, não esquece do cofre!"
O irmão não esqueceu. Chegou na loja no horário marcado (no meio da madrugada), e chutou a porta como se fosse salvar o pai da forca. O vendedor se assustou e puxou uma escopeta de debaixo do balcão, mandando chumbo pra cima do irmão do José. Deu nem tempo de chegar no hospital. Morreu na ambulância mesmo. Todo furado, a barriga e o peito parecendo o interior de uma melancia, vermelha e com pontos pretos.
José só soube no outro dia, quando viu o jornal da manhã na televisão de quinze polegadas velha e surrada. Correu pro hospital só pra chorar sobre o leito do irmão morto. Sabia que aquilo tudo era culpa dos homens que ofereceram o job. Lembrava dos rostos dos safados que tinham armado pro irmão.
Ele foi atrás deles com uma arma, e fez eles pagarem sangue com sangue.
Aprendeu a cavar covas bem direitinho. Tudo dependia do jeito como você enfiava a pá na terra, pra tirar o máximo de terra possível.
Depois de virar assassino, virou ladrão. Roubou todo dinheiro que os safados tinham na casa, e realmente não era pouco. Fugiu avoado pra fora da cidade no carro do irmão. Sem rumo. Viajou por seis dias até chegar numa capital grande. Foi onde conheceu Nick Grandão, um motoqueiro de gangue. Ficaram amigos muito rápido depois de um almoço e das revelações sobre o passado de José.
Nick disse:
"Foda-se seu passado de merda irmão, você ta comigo agora!"
E na sequencia o batizou pela segunda vez:
"A partir de hoje, você vai comprar uma moto e se chamar Duke."
E assim ele fez, comprou uma Harley nova e passou a viajar com Nick pelas estradas. Os dois passaram um ano juntos cruzando o país. Mas Nick também não era um santinho. Gostava de algumas aventuras perigosas. Se dizia um fora da lei, como nos tempos do faroeste.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Inconstante Pensamento
RomanceCurtas histórias sobre como o romance as vezes acontece na vida das pessoas comuns.