Eu não cheguei a conhecer a pessoa.
Pelo menos não sua forma física, a que nós humanos às vezes levamos tanto em consideração.
Eu apenas conheci seus pensamentos, suas ideias, seus sentimentos...
Ele se apresentou pra mim de uma forma nada convencional, alguns diriam que foi até bem clichê. Bem, a Raquel disse isso, com todas as letras: "Fala sério Carol, isso é primeiramente clichê, e depois esquisito!"
Eu sou a Carol. E não, não era esquisito.
A Raquel achava isso porque andava assistindo muitas séries sobre psicopatas/stalkers/esquisitos amorosos. Hollywood tinha um jeito especial de romantizar esses caras.
Mas aquela ocasião não se encaixava nesse padrão de esquisitice que ela falava, e tampouco era um clichê pra mim. Vai ver porque tenho uma alma antiga.
Indo direto ao acontecido: Eram umas sete horas da manhã quando cheguei à escola. Uma garota cursando ensino médio sofre com alguns esteriótipos, como: Patricinha, popular, depressiva, gótica e afins. No meio desses círculos, eu era um ótimo quadrado! E tinha minhas amigas, que eram triângulos, círculos, e tinha a Raquel, que era um Tangram (complicada igual um quebra-cabeças, mas bem legal depois que você entende como montar).
Enfim, eu sempre me sentei na mesma cadeira, durante os três anos do enino médio. Todos na sala sabiam qual era a cadeira e a respeitavam. Se alguem sentava nela desavisado, antes de eu chegar, algum colega ia lá e falava: "Fulano, quem senta aí é a Carol, visse?"
O que posso dizer? A moral era minha.
Nessa Segunda foi diferente. Alguem havia passado na minha cadeira antes que eu chegasse. Quando me sentei, e olhei debaixo da carteira, havia um bilhete. Como eu sei que era um bilhete e não qualquer papel aleatório? Estava perfeitamente enrolado em folha de ofício, não uma folha de caderno qualquer, e tinha um pequena fita vermelha enrolando o papel, com um laço bonitinho.
O que você faz? Claro que você pega e abre o negócio.
Por sorte, era realmente pra mim.
Continha uma mensagem pequena como o papel. Que dizia:
O futuro é um lugar descontente
Sem teu olhos para contemplar
E sempre, por mais que eu tente
É difícil não te amar.
Para: Carol
&.
A primeira sensação que senti ao ler não foi de estranhamento, ou de medo, como a Raquel, mas foi como se aquecessem meu coração com um cobertor de lã em um dia beem frio e cinza.
Não tinha ideia de quem podia ter enviado aquilo. Não parecia ter sido nenhum dos garotos da sala. Todos eles tinham preferências que passavam longe de mim, e com certeza não faziam o estilo "romântico anônimo".
Eu guardei o bilhete na bolsa e na mente, e segui normalmente com meu dia.
De noite, guardei-o na gaveta da mesinha de cabeceira, uma gaveta que eu sempre deixara vazia só pela falta de coisas para pôr nela. Então lá estava, uma pequena mensagem em uma pequena gaveta.

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Inconstante Pensamento
RomanceCurtas histórias sobre como o romance as vezes acontece na vida das pessoas comuns.