Capítulo especial - Morgana

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Antes de iniciarem o capítulo preciso que estejam atentos ao fato de que esse capítulo tem cenas fortes em relação ao abuso sexual, juntamente com o estrupo. Se você sofre de algum trauma, favor ignorar e não lê-lo, pois pode conter gatilhos. 

.......

A noite continuava terrivelmente escura. Morgana andava abraçando seu próprio corpo, nunca fora muito fã da escuridão. Na verdade, odiava o escuro. E além do mais, o temia. Ao seu lado, Kate cantarolava baixinho, completamente neutra. Como se elas não estivessem andando no lugar mais assustador e evitado do século. 

 - O que houve? - Apesar da garota parecer sempre tão corajosa, Morgana notou quando a mesma ficou tensa, olhando para os lados como se procurasse por algo. A ruiva estava tão amedrontada depois do encontro que tiveram com aquela criatura das trevas, que queria desistir daquela aventura arriscada e voltar correndo para o conforto de sua vida. 

 - Você está ouvindo isso? - Kate perguntou, parando de andar e fervendo uma bola de água em suas mãos. Se preparando para o ataque se assim preciso fosse.

 - Eu não estou ouvindo nada. - toda trêmula, Morgana murmurou para a outra. Tentando deixar seus ouvidos atentos, mas realmente, não conseguindo capturar nenhum som diferente do que elas vinham ouvindo nas últimas duas horas nas quais estiveram percorrendo aquela estrada sinistra.

 - Não estamos sozinhas. - foi quando Kate a alertou de olhos arregalados que a segunda sereia finalmente ouviu o tal som ao qual ela se referia, e na verdade, era uma voz.

 - Você está sozinha, Kate. Você é sozinha. A solidão é sua única companhia. - a nova criatura inimiga daquelas sereias, possuía um cheiro podre e uma aparência deprimida. Com toda certeza, ela era uma imagem triste. Como se fosse a própria dor. - Ninguém luta por você, ninguém ama você... 

 - Não podemos ouvi-la! - aquela que estava sendo atacada de forma manipuladora, tentou gritar por cima da voz do mal encarnado a sua frente. Como se quisesse se impedir de ouvi-la. - Vá embora, seu monstro! Você não vai conseguir o que quer aqui. 

 - Tem certeza? Você disse isso ao seu pai anos atrás. E ele conseguiu. Você não se lembra, docinho? - aquele ser das trevas continuava se aproximando, ferindo sua presa com as palavras. Pedaços do corpo da criatura caiam, como se ela estivessem em decomposição. Era uma imagem horrível de se ver. 

 - Não me chame de docinho! Seu pai de merda. - gritou Kate, apesar dela ter tentado não fraquejar, era mais do que evidente que aquele apelido havia tocado em seu ponto fraco. Ela já estava confundindo a realidade com suas lembranças e não se dava conta de que aquele ser maligno, estava mexendo com sua mente, com suas fraquezas. 

 - Ela está enfiando os dedos em suas feridas internas, Kate. - Morgana gritou, ao perceber horrorizada o que se passava ali. Percebendo que a outra sereia já chorava, sofrendo. - Ela conhece suas dores, está te atingindo através delas. Tristeza. Ela é a tristeza.

 - Você se lembra do toque? Se lembra de como ele sentia prazer ao machucar você? Ao violenta-la? Seus cabelos, como ele amava... Dizia que eles eram macios. Você não se lembra, docinho? Como sua mãe lhe culpava por que quem o atraia era você? Usava aquelas roupas com decotes, com certeza estava pedindo por aquilo. Por cada toque indesejado. Tudo. A culpa sempre foi sua. - o mal continuava insistindo, investindo, atacando, fazendo com que Kate se recordasse dos piores anos de sua vida. De todas as vezes em que seu pai, abusou de seu corpo, da vez em que ele tão cruelmente havia tirado sua inocência. 

 - Pare! Por favor! - Kate parecia estar sem ar, tendo uma crise. Ela se desesperava, chorava, soluçava, tremia, tentava cobrir seus ouvidos. Sentia tudo de novo. O toque. Os beijos nojentos. A dor. Ouvia a voz dele, sentia a mesma repulsa. "O papai só estava se divertindo, docinho. Não se preocupe. Estamos só brincando. Você gosta dessa brincadeira, docinho? Gosta de ser a minha boneca?

 - Ela está se alimentando da sua dor. - Morgana tentava retaliar como podia, falando com calma enquanto segurava as mãos da outra menina, a sacudindo como se assim pudesse faze-la compreender melhor. - Pare de ouvi-la. Escute a mim. Está bem? Pode fazer isso? 

 - Ele era doente e sádico. - a voz dela embargada por dor. Ela fitava a ruiva mas seus incríveis olhos azuis estavam vazios. Sem emoções. - Ele me destruiu, de todas as formas. Aquele que deveria me proteger, foi o que me causou mais mal. Ele me fez querer parar de existir. - fechou seus olhos, relembrando ainda mais e se sentindo suja. Os abriu novamente e fitou além dos ombros de Morgana, fitou a tristeza encarnada. - Pode me matar, eu desejo a morte. 

 - Não tão fácil assim, docinho. - a criatura do mal, lhe ofereceu um sorriso maquiavélico, cheio de dentes negros. - Se quiser, terá que você mesma acabar com a sua tortura. 

 Ela jogou uma lâmina que flutuou no meio do oceano. Ao mesmo tempo que Kate fez menção de ir até a arma, Morgana jogou seus braços ao redor da cintura da outra sereia. Impedindo-a com um abraço por trás, enquanto Kate se debatia em falhas e desesperadas tentativas de se soltar. 

 - Me deixe fazer isso. - ela implorava, fazendo Morg sentir pena de toda sua angústia. De fato, Kate era quebrada. De muitas formas. Por isso a frieza, as roupas rebeldes, o cabelo cortado, as muralhas que construirá em torno de si mesma. Não era ataque. Era defesa. - Eu preciso fazer isso... 

 Ela parecia tão machucada que Morgana teve vontade poder guarda-la em um potinho. Mas apenas a abraçou mais forte quando percebeu que a outra desabafava por meio de seu choro. Apertou seu corpo contra o dela e a deixou se livrar do que por anos, havia carregado. Enquanto isso, a aberração que havia lhe causado toda aquela lembrança dolorosa, as rodeava, inspirando como se estivesse se alimentando do mal que havia causado. Morgana soltou Kate e nadou até a frente dela, impedindo que a sereia tivesse acesso aquela criatura maligna. Pegou o rosto molhado da outra entre suas mãos e perguntou, olhando dentro de seus olhos: 

 - Dança comigo? 

 Kate a encarou com seus olhos inchados e confusos, vermelhos e cheio de dor. Ela estava exposta, sem armaduras, aquela criatura havia penetrado em seu coração, trazendo sentimentos átona. Ela não dissera nada, pois entenderá perfeitamente as razões da ruiva. juntaram seus corpos, em silêncio. Morgana pousou suas mãos no pescoço dela e a outra rodeou sua cintura, sem trocarem uma única palavra, flutuaram dançando abaixo das águas do mar. Em um momento ela estavam em um lugar escuro horripilante. Morgana sentia medo, mas em outro, quando as mãos de Kate tocaram sua pele com delicadeza, ela sentiu que estava segura. Enquanto estivessem juntas, ambas estavam protegida do mal que lhes cercava. A sereia que com ela bailava, não era uma pessoa ruim como sempre pensará, apenas alguém que havia caído muito e se erguido um pouco mais fria.

 Como se tivessem tido o mesmo pensamento, elas afastaram seus rostos dos ombros uma da outra e se fitaram. A face de Kate ainda estava molhada e marcada por dor, mas quando encarou as íris cor de mel, ela sorriu. Fora o primeiro sorriso verdadeiro que havia direcionado para aquela que nada mais era, do que o seu oposto. E era um sorriso lindo. Se possuísse noção do quão lindo ele era, provavelmente sorriria mais vezes. 

 - Obrigada. - Kate murmurou quando percebeu que elas não eram mais rodeadas pelo mal. Na verdade, uma aura de luz as envolvia. Com seu jeitinho doce e angelical. Morgana havia vencido a tristeza com um ato de alegria. Como dançar.

 - Bem, você me salvou primeiro. - um sorriso maroto iluminou os lábios da ruivinha e Kate tivera certeza de algo, passará anos evitando sentimentos, mas existem coisas que não podem ser evitadas. Entre elas, se encontra o amor.

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