Capítulo 1 - Sertanejo

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Midoriya

Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente. Bebi e gargarejei um pouco de água com limão, que, segundo a minha mãe, curava e prevenia de qualquer coisa, às vezes até do azar. Nada como um amarguinho desses na língua pra dar aquela acarretada na voz. Me sentia totalmente pronto pra subir no palco e soltar o vozeirão.

Subi a pequena plataforma já alçando o violão no ombro. Verifiquei os alto-falantes, os cabos ligados à minha viola e ajustei o microfone assim que sentei no banquinho de madeira. Ajeitei meu chapéu de cowboy e comecei a dedilhar chamando atenção dos que estavam presentes no local. Desta vez eu iria me apresentar num boteco um tanto chique e bem grande, estilo "country". As paredes e piso eram de madeira, balcões na lateral do salão dando um ar de "saloon" de velho oeste e várias mesas espalhadas até os cantos com um espaço aberto em frente ao palco reservado para os dançantes.

- Meus consagrados, um sincero boa noite do Deku! – Me apresente com o meu apelido de trabalho, meu nome é Izuku Midoriya, mas utilizo "Deku" profissionalmente. A história por trás desse apelido é longa e complicada, mas conto em um outro momento, pois ao mesmo tempo que é algo marcante em minha vida, também é algo que quero deixar pra lá. A partir do dedilhado já faço a introdução de "De São Paulo a Belém" do Rio Negro e Solimões para animar, sempre revigorante começar com essa música!

O pessoal deu gritos e assovios diante do som ao vivo, a galera do sertanejo curte eventos dançantes, animados, cheios de cerveja e churrasco como este. Mesmo que não seja um evento temático e os frequentadores não estejam vestidos à caráter, como uma Eapic da vida, o pessoal sempre entrava no clima do sertanejo e cantava junto, ainda mais porque a maioria das letras diz para bebermos e esquecermos nossos problemas, sem dúvida é O momento de descontração do paulistano que passa a semana inteira estressado na rotina árdua.

Amo esse clima de happy hour! Estava uma linda noite de sexta-feira. Apenas sinto falta da minha parceira de palco, Ochako Uraraka, minha amiga de tempo de colegial que geralmente atua como segunda voz nos sertanejos comigo. Mas ela também chegava a cantar solo quando íamos a outros meios com públicos diferentes, cantávamos MPB, rock nacional ou até reggae. Tem que ser eclético pra ter mais opções nessa vida de violeiro. Desta vez ela não pôde vir, mas estou acostumado a me apresentar sozinho, sempre foi assim quando eu ainda estava em Goiás.

Cidade grande é uma loucura, né não? Mas por mais caipira que eu aparente até no meu sotaque, eu não sou totalmente novato por essas bandas. Quando eu tinha 5 anos vim de Goiânia morar em São Paulo com minha mãe e vivi aqui até os 15 anos, quando retornei à minha bela Goiânia. E agora estou de volta à Sampa com meus 22 anos, solteiro e sem a minha mãe. Posso dizer que finalmente sou um pião "sorto" no mundo e poderia fazer o que bem quisesse. Claro, não tudo! Sou responsável, por isso minha mãe confiou, mas foi difícil para ela, coitada. Como sou filho único, claro que ela é bastante apegada a mim, imagino como seja difícil me ver partir. Mas eu queria, era pra realizar o meu sonho de ser um grande cantor sertanejo nesse meu Brasil, assim como o meu grande ídolo, All Might, o maior cantor solo que eu já conheci! Achei que começar nessa grande metrópole seria um bom salto para ficar popular.

Paro uns dois minutinhos para beber água e logo já toco mais dos clássicos: Gino e Geno, Fernando e Sorocaba, Teodoro e Sampaio, sempre as duplas que tem as músicas mais animadas. Vez ou outra eu começava uma lenta voltado aos casais do salão, canto quase saindo uma lágrima por isso sempre acabar me lembrando o quão encalhado eu tô.

N-não que eu precise de uma relação! Claro que não, oxi! Eu sou mais eu e sou completo sozinho! Só que... as vezes dá uma certa tristeza, pois ver esses casais abraçados, rindo juntos, dando uns chamegos me faz lembrar de coisas do passado... Ah, deixa isso pra lá!

Diz Pra Mim | BakuDeku | Onde histórias criam vida. Descubra agora