O Beijo

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Eu fiquei olhando pra ele, quando eu senti ele pegando o celular da minha mão, ele leu a mensagem e riu.
— Esse cara deve ser mais um babaca que tem inveja de mim, olha só o que ele escreve!
— Tu realmente te acha né?
— Eu tô mentindo? — ele falou aquilo e ficou me olhando com um sorriso de canto de boca.
— Devolve meu celular, por favor?
— Tu sabe se educado, né?
— Ora, vai tomar no cu, não sei o que eu ainda faço aqui olhando pra tua cara! — peguei o celular da mão dele e saí, voltei pra mesa e sentei ao lado do Fábio.
— Cara, cadê a bebida?
— Caralho, esqueci!
— Como assim? Tu saiu pra ir buscar!
— Foi o corno do Rodrigo que ficou enchendo meu culhão.
— Cara, não vai arrumar confusão hoje não!
— Claro, não sou doido, relaxa.
— Fica aê que eu vou lá pegar.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem pra Vanessa perguntando se ela ia demorar muito ainda, quando o Guga sentou na cadeira onde o Fábio tava.
— Fala Vinícius!
— E ae Gustavo, tudo bem? Nem tinha te visto, o que tu manda?
— Cheguei tem um tempo. Cara, tu já viu aquela morena ali? Que gostosa!
Eu olhei pra morena que ele falou e realmente era um mulherão.
— Cara, gostosa mesmo.
— Cara, eu fazia ela gemer a noite toda!
Ele fez uma cara de safado eu não aguentei e comecei a rir.
— Caralho, tá nesse nível de secura, meu amigo?
— Teu cu, deixa eu começar a me movimentar, depois a gente se fala.
Ele deu um soco no meu ombro e depois saiu. Fiquei lá olhando a galera e vendo alguém que me interessasse, quando meu celular vibrou, eu respirei fundo era uma mensagem.
"Teu sorriso me encanta, teu jeito de falar me faz perder o chão, me sinto tão perto e ao mesmo tempo tão longe!"
Aquilo já tava passando dos limites, aquilo já era algo doentio, eu respondi a mensagem:
"Porra, isso já deu. Se tu é macho, tu vem falar comigo hoje"
Fiquei puto com aquilo, eu vi o Fábio vindo com a bebida na mão, a gente ficou bebendo. Não sou de beber muito, até aquele momento eu nunca tinha ficado porre, alegre sim, mas porre nunca.
A festa era num salão de festão daqui e no salão tinha uma boate onde só tocava música antiga dos anos, 50,70,80 hahaha. A galera resolveu entrar, tava bem legal mesmo, quando a Vanessa me pegou e me puxou.
— Caralho Vanessa, a onde tu te meteu?
— Tava por ae, mas agora eu sou toda tua, vem dançar!
— Tá ficando doida, mulher?
Ela foi me arrastando pro meio da galera e me agarrou.
— Amigo, tô tão feliz! — ela falava bem perto do meu ouvido.
— O que tu aprontou?
Ela só me deu um beijo no rosto. Ela sempre foi minha confidente, que chegava até ser engraçado. Ela foi a primeira a saber com quem foi a minha primeira vez e eu a dela, a gente era quase irmão.
— Para de enrolar e dança logo!
A gente ficou dançando lá. Não aguentando mais o calor por causa da jaqueta eu tirei ela e amarrei na cintura, e já que era pra dançar então bora lá né, eu pegava ela, girava, só faltei jogar a menina pra cima hahaha. Ela disse ia ao banheiro e me deixou ali sozinho, quando eu senti alguém passando a mão no meu ombro. Eu olhei e vi um cara um pouco mais alto que eu, era branco, cabelo bem cortado, os olhos claros, bonito. Mesmo hétero eu sabia reconhecer quando outro homem era bonito.
— Beleza, cara?
— Beleza e contigo?
— Tu tá ficando com ela?
— Não, ela é minha amiga, pode cair em cima dela cara! — eu ri, foi quando ele chegou perto do meu ouvindo.
— Tô querendo cair em cima sim, mas é de ti!
Não sei se foi pelo fato de ele ter dito aquilo muito perto de mim, mas sabe quando vai dando um pequeno arrepio pelo pescoço? Isso que aconteceu comigo. Eu sorri pra ele sem graça, ele não foi o primeiro homem a dar em cima de mim.
— Cara, desculpa, eu não curto!
— Eu também não curto, mas te vendo dançando desse jeito, me deu vontade de experimentar.
Eu juro que fiquei sem graça, eu ri e cocei a cabeça.
— Cara, não vai rolar mesmo. Mas quem sabe um dia, se eu curtir, o que eu acho muito difícil, tu me procura, beleza?
— Beleza, me diz teu nome pelo menos!
— Vinícius, e o teu?
— Fabrício, prazer!
Eu apertei a mão dele. Foi quando eu olhei pro lado e vi o Rodrigo com um olhar sério na nossa direção. Não sei o porquê, mas aquilo me deu um frio na barriga, sabe? Na mesma hora que ele me viu olhando pra ele, ele olhou pro outro lado.
— Fabrício, não me leva a mal, mas eu vou dar uma circulada, aqui tá quente, beleza?
— Beleza, mas se um dia tu mudar de ideia, me procura!
— Acho difícil cara, falou! – fui andando quando encontrei a Vanessa.
— O que foi, aonde tu vai?
— Nada não, só cansei, preciso beber algo. — eu olhei pro Fábio e vi que ele tinha um copo na mão. Fui até ele, peguei o copo da mão dele e bebi, aquilo me desceu rasgando.
— Vai devagar, não quero levar ninguém carregado pra casa!
Eu ri pra ele e voltei pra onde a Vanessa tava. Quando começou a tocar Amante Profissional a galera ficou doida!
"Moreno alto, bonito e sensual
Talvez eu seja a solução do seu problema
Carinhoso, bom nível social"
Eu incorporei a letra hahaha! Eu dançava e cantava olhando pra Vanessa que ria muito. Quando chegou naquela parte "amor sem preconceito, sigilo total, sexy total, amante profissional" eu parei e fiquei olhando a galera dançando. Tinha gente se pegando, rindo, bebendo, quando eu escutei uma voz no meu ouvindo:
— Tá me procurando?
Aquilo fez meu corpo arrepiar todo, eu me virei rápido e vi o Rodrigo atrás de mim.
— Vai tomar no cu! — e fui andando. Como tava lotado ali, eu ia tentando sair, mas ninguém saía da frente. Quando começou a tocar Fórmula do Amor, eu parei um pouco, acho a letra dessa música legal.
"Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar"
Fui andando de novo até que consegui sair dali, parecia que eu tava sem ar. Fui andando até o banheiro. Fiquei olhando no espelho, lavei minhas mãos, quando a porta do banheiro abriu e o Rodrigo entrou e ficou parado me olhando encostado na porta. Eu sequei minhas mãos e fui andando pra porta.
— Quero sair!
— Passa!
— Sai da frente, então!
— Vai tomar no cu!
— Cara, eu não quero arrumar confusão.
— Eu sabia que tu é otário, mas viado? Essa foi novidade!
— Do que tu tá falando?
— Porra, eu vi como tu ficou quando aquele outro viado ficou dando em cima de ti!
— Tá ficando doido, filho da puta? Qual é a tua?
Ele começou a rir.
— Cala a boca senão eu quebro a tua cara! — eu segurei ele pela camisa, puxei ele pra mais perto de mim — Cala a boca seu babaca, idiota! — nessa hora o álcool já falava tanto em mim quanto nele.
— Babaca, idiota, filho da puta, o que mais o viado sabe falar?
Uma coisa que sempre me deixou puto é quando me chamam de viado, acho essa palavra tão ofensiva.
— Me chama de viado de novo, filho da puta, pra ti ver o que te acontece!
— Viado, viado, viadinho!
Foi quando eu coloquei meu outro braço em volta do pescoço dele e puxei a cabeça dele pra mim e o beijei. Foi tudo muito rápido, eu não sabia por que tinha feito aquilo. Ele me empurrava, mas eu tava segurando ele de um jeito que não dava pra ele sair, foi quando eu senti a língua dele na minha boca, ele retribuiu o beijo. A gente começou a se beijar, o beijo era com força que chegava até ser violento. Foi quando ele me empurrou e eu senti meu rosto ficar quente com o soco que ele me deu. Com o soco eu me desequilibrei e caí no chão. Ele começou a gritar:
— Viado, nojento, filho da puta, eu tenho nojo de ti! Eu devia era sair daqui agora e contar o que tu fez pra todo mundo, geral devia saber o viado que tu é!
Ele saiu do banheiro. A única coisa que me deu vontade de fazer foi chorar. Eu me levantei tonto com tudo, pelo álcool, pelo soco e principalmente pelo beijo. Eu tava tentando entender porque eu tinha beijado ele, eu não era gay pra beijar outro homem, minha cabeça tava um turbilhão de coisas.
Eu saí do banheiro e a sensação era que todo mundo sabia o que tinha acontecido lá. Eu fui andando até a saída onde tinha uns táxis, eu peguei um, disse onde morava. Só me vinha na cabeça o Rodrigo me chamando de viado, então eu comecei a chorar, de raiva, de dor, por tudo!
Quando o motorista disse que a gente tinha chegado eu paguei a ele e entrei no condomínio (bem eu não moro num condomínio, acho que é uma passagem/rua/vila sei lá, aqui só tem casão, gente que tem grana, no máximo 30 casas e todo mundo se da bem) eu moro no meio. Cheguei em frente de casa e sentei no muro (a mamãe tem tara por escadas aqui na frente de casa ela fez umas escadas deixa eu ver ser explico legal. Dois degraus e vai pra direita, mais dois degraus e pra esquerda, mais dois degraus e a porta de casa. No começo eu não curti, mas agora gosto) então eu notei como a noite tava bonita, tinhas estrelas e que lua era aquela! Lua cheia iluminava a rua eu me deitei e fiquei olhando pra ela, quando me veio na cabeça o beijo que eu dei no Rodrigo, aquilo me deixou mais puto ainda, a vontade de chorar voltou. Meu celular tocou, era o Fábio. Eu engoli o choro.
— Fala Fabinho!
— Tá aonde doido?
— Tô em casa já, cara!
— Por quê? Agora que a festa tá boa, são duas horas ainda!
— Acho que bebi demais, cara. Depois a gente se fala.
Desliguei o celular e fiquei olhando pro céu, tentava pensar em tudo menos na porra daquele beijo, mas era em vão.
"Caralho, eu gostei do beijo!"

Eu não sou gay, eu só me apaixonei por outro cara. Onde histórias criam vida. Descubra agora