Ele ali na minha frente tão indefeso, então eu fiz o que eu achei que era pra ser feito, eu o abracei e ele me abraçou de volta.
— Desculpa, desculpa por tudo!
Eu não falei nada, só fiquei abraçado com ele ali.
— Eu não devia ter feito o que eu fiz contigo lá em Fortaleza, me desculpa — ele falava isso baixo, meio rouco — eu não aguento mais ficar longe de ti.
— Vem comigo.
Ele me olhou e balançou a cabeça concordando, a gente começou a andar. Ele ali do meu lado, ninguém falava nada, entramos no condomínio, a gente foi andando até que paramos na frente de casa. Eu peguei na mão dele e o levei pra dentro, subimos as escadas e paramos na porta do meu quarto; eu abri a porta, ele entrou, entrei e fechei a porta. Ele sentou na ponta da cama e ficou me olhando, eu continuava em pé, tirei meu paletó, ele levantou da cama, veio andando até mim e me beijou, o melhor beijo da minha vida.
Eu acho que quando tem amor tudo que a gente faz vira a melhor coisa e ali tinha amor. Ele segurava minha cabeça e tentava me engolir. É estranho a gente tentar descrever como é um beijo, ora beijo é beijo, uns são bons e outros não, e o dele era muito bom. Quando o beijo terminou, ele me abraçou, eu sentia o coração dele acelerado. O dia começava a ficar claro.
— E agora? — ele perguntou.
— Não sei.
— Eu quero ficar contigo.
Cada vez que ele falava isso meu coração se enchia de felicidade.
— Fica aqui comigo hoje? – falei aquilo com medo da resposta dele.
— Eu fico.
Tranquei a porta, a gente deitou na cama de roupa e tudo, ele de frente pra mim. Nunca na minha vida eu pensei naquela cena, quando ele disse quase num sussurro:
— Eu te amo.
Um arrepio correu pelo meu corpo (também tô arrepiado agora) meus olhos ficaram com lágrimas, aproximei meu rosto de peito dele e o abracei, ele me abraçou de volta. Não precisava de sexo e nem nada, só de tá ali com ele já era o bastante. Eu dormi ouvindo as batidas do coração dele e me sentindo a pessoa mais feliz do mundo, nunca dormi tão bem como naquela noite.
Acordei primeiro que ele, me levantei da cama e fiquei olhando ele dormindo. Como ele era bonito, até dormindo! Tirei a roupa, vesti um short, escovei os dentes, desci, tomei água e meus pais não estavam em casa.
— Socorro, cadê meus pais?
— Eles viajaram. Tu esqueceu?
— Verdade.
— Vai tomar café?
— Vou sim, faz uns mistos e suco.
Voltei pro meu quarto e o Rodrigo tava acordado já. Ele olhou e riu pra mim:
— Cara, não foi um sonho?
— Não!
— Ainda bem! — ele levantou da cama e se espreguiçou — Cara, como eu vou sair da tua casa? O que teus pais vão falar?
— Tô só em casa.
— Tá só, é? — ele veio chegando perto.
— É, tô só.
Ele me agarrou e beijou meu pescoço.
— Eu só não te dou um beijo porque ainda não escovei os dentes, esse tu fica me devendo, mais tarde eu vou cobrar.
— Mais tarde?
— É, tu pensa o quê? Agora eu vou querer ficar contigo o tempo todo.
Eu sorri de felicidade.
— Teu sorriso é lindo cara! — ele disse.
— E tu é lindo!
— Tu que é!
— Chega! Isso já tá passando dos limites, cara! — a gente riu — Vem tomar café.
A gente desceu e ficou na mesa, quando a Socorro trouxe os mistos ela tomou um susto. Até as empregadas daqui sabiam que a gente não se dava bem.
— Relaxa, Help! Ninguém aqui vai morrer.
A gente começou a comer. Depois ele disse que tinha que ir embora, mas que a noite me dava um toque pra gente sair.
— Cara, me dá teu número?
— Anota aí — dei meu número pra ele.
Foi muito engraçado, ele demorou quase dez minutos pra ir embora de casa. Toda vez que ele ia sair alguém aparecia, até que ele conseguiu ir.
Fui pro meu quarto e me joguei na cama que ainda tinha o cheiro dele. Comecei a rir sozinho, não tava acreditando ainda. Levantei, tomei um banho, voltei pro quarto e dormi mais um pouco. Me espantei com meu celular tocando, era um número estranho.
— Alô.
— Esse celular é do cara mais bonito do mundo? — era ele.
— Cara, deve ser.
— Vai pra aula, vagabundo?
— Não tô a fim.
— Cara, nem eu — e um pequeno silêncio ficou — tô querendo te ver!
— Eu também.
— Bora se ver mais tarde?
— Cara, a gente tem que ir com calma, até ontem a gente tava se dando soco, tu não acha que vai ser estranho verem a gente junto conversando?
— Eu sei...
— Me liga meia noite que a gente dá um jeito.
— Beleza, vou fazer umas coisas e depois a gente se fala.
— Tudo bem, falou.
— Falou.
Fiquei mais um tempo na cama, até que meu celular vibrou. Era uma mensagem do Guga.
"tô indo aí"
Tava na hora de conversar com ele, eu sabia que não seria fácil. Me joguei uma água rápido e fiquei esperando ele, até que a campainha tocou.
— Fala, Guga!
— Oi amor! — ele me abraçou.
— Bora lá pra cima?
— Opa, ainda bem que hoje eu caprichei no banho.
— Cala boca e vem.
Eu fui na frente e ele vinha atrás. Quando a gente entrou no quarto, ele me agarrou e me beijou, não teve como evitar.
— Tô ficando mal acostumado.
Como é que eu ia falar pra ele, que era apaixonado por mim, que eu tava apaixonado pelo Rodrigo?
— Tenho que te falar uma coisa.
— Vai lá, enfim tu vai me falar, né?
— Cara, é... — eu não sabia como falar aquilo.
— Cara, o que for, pode falar.
Eu respirei fundo.
— Eu tô apaixonado pelo Rodrigo! — falei aquilo muito rápido.
— O quê?
— Eu tô apaixonado.
— Não, eu ouvi o que tu falou. Isso é sacanagem, né?
Eu fiquei calado, até que ele gritou:
— Fala porra! Diz que isso é mentira!
— Não é mentira.
Foi quando ele veio pra cima de mim. Eu só fiz me encolher e ele começou a gritar.
— Tu acha que eu sou algum idiota, filho da puta? Pra ti me fazer de palhaço? – eu não tava reconhecendo o Gustavo, ele tava transtornado — Eu me declarei pra ti, disse o que eu sentia por ti, e tu falando que não curtiu, que a gente nunca ia ficar junto, e agora pra ti me dizer que tá apaixonado pelo filho da puta do Rodrigo?
Eu fiquei calado, nem tentei reagir. Ele era foda no jiu-jitsu.
— Responde, caralho!
Por algum momento eu pensei que ele fosse me bater, ele ficou andando pelo quarto, bufando de raiva, quando ele deu um soco na porta do banheiro. Eu tava com muito medo dele.
Ele sentou na cama e ficou olhando pro chão, balançando as pernas.
— Desculpa... – falei.
Ele não falou nada, fui chegando perto da cama, me sentei do lado dele, que parecia estar mais calmo.
— Guga, bora conversar?
Ele olhou pra mim com os olhos cheios d'água.
— Desde quando tu é a fim dele?
— Pouco tempo depois do aniversário da Júlia.
Ele voltou a olhar pro chão.
— Desculpa, não era pra eu ter gritado contigo, mas eu fiquei puto, ainda tô com o que tu falou — ele levantou da cama — tô indo nessa, tô precisando ficar só.
— Cara, bora conversar.
— Agora não, eu te procuro.
Ele saiu do meu quarto e eu fiquei lá parado. Caralho, era muita coisa pra menos de um dia!
II
Logo depois eu ouvi um barulho de pneu cantando no asfalto, corri pra janela e vi o carro do Gustavo indo embora. Me joguei na cama e respirei fundo, peguei meu celular e liguei pro Rafael.
— Tu pode vim aqui em casa?
— Claro, mas o que aconteceu?
— Vem aqui que eu te explico.
— Eita, tô indo aí.
Não demorou nem três minutos, ele tava tocando a campainha.
— Cara, o que aconteceu?
— Fudeu tudo, cara!
— Como assim, cara?
Contei tudo pra ele, desde as mensagens do Guga, quando ele disse que tava apaixonado por mim, do beijo e o que tinha acabado de acontecer.
— Caralho Vinícius, mas porque tu falou isso, cara?
— Eu e o Rodrigo, a gente passou a noite juntos!
— O quê, porra?
Eu expliquei tudo pra ele, disse que o Rodrigo tinha dito que também tava apaixonado por mim, que não queria mais ficar longe de mim...
— Tá de sacanagem, né? Puta que pariu!
— É, meu querido, minha vida tá de pernas pro ar...
— E agora? Como vão ser as coisas entre tu e o Rodrigo?
— Ele disse que mais tarde a gente vai sair pra poder conversar direito e tudo mais.
— Tu sabes que o que vocês decidirem não vai ser fácil, cara.
— Sei sim...
— Então, quer dizer que pra quem nem conseguia ficar perto um do outro sem sair porrada, os dois tão apaixonados? Sabia que isso era amor encubado.
— E não é, cara?
— Qualquer que seja a decisão de vocês pode contar comigo pra qualquer coisa, até porque eu sou quase o padrinho do rolo de vocês.
A gente riu, era bom ter alguém pra conversar, desabafar.
O Príncipe foi embora por volta das dez horas, fui deixar ele na rua. Quando a gente saiu, o Rodrigo tava na frente da casa dele. Ele me viu e deu um sorriso, eu sorri de volta pra ele.
— Precisa fazer essa cara de bobo?
— Vai tomar no cu, Príncipe!
— Chega aqui, Príncipe! Bora trocar uma ideia.
Ele foi lá com o Rodrigo e eu entrei em casa e fui comer algo, quando meu celular vibrou.
"nada de comer nada, a gente vai sair pra comer algo hoje".
Era do Rodrigo, eu sorri e respondi.
"Cara, eu ir comer nesse exato momento".
Ele respondeu de volta.
"eu imaginei isso, umas 11:30 a gente sai, pode ser?"
Caralho, ficar até 11:30 com fome? Claro que não, eu comi um pouco pra enganar a fome. Quando deu onze horas ele me mandou outra mensagem dizendo que era pra eu colocar só uma bermuda e camisa que não era nada formal. Tomei um banho caprichado, escolhi uma roupa legal, passei perfume e fiquei esperando ele.
"Tô te esperando aqui na esquina"
Fui andando com certo frio na barriga, parecia que tava fazendo algo errado. Eu vi o carro da mãe dele parado na esquina, meu coração acelerou. Cheguei perto do carro, a porta abriu e eu entrei; mal fechei a porta e ele me beijou. Cara, como era bom sentir ele o beijo dele! Era um beijo com pegada, firme, a gente terminou o beijo e um ficou rindo pro outro.
— Oi.
— Oi.
— Tá com fome?
— Depois desse beijo não — puxei ele e o beijei, agora era eu que comandava o beijo, segurava a nuca dele mordia a boca dele — Agora eu tô com fome!
— Vinícius, assim eu fico mal acostumado, cara!
— Pra onde a gente vai?
— Vou te levar pra um lugar que eu gosto de ficar só, meu refúgio — ele ligou o carro.
Ele dirigia e às vezes olhava pra mim rindo, era bom. A gente parou em frente a um prédio e eu olhei pra ele, a gente desceu do carro e foi entrando.
— Fala seu Juca! Vou lá, beleza?
— Vai lá! Tem a chave?
— Tenho sim.
A gente foi entrando, esperamos o elevador.
— Pra onde a gente vai? – perguntei.
— A gente vai ficar a sós.
— Mas de quem é esse apartamento?
— É do Renato.
— Cara, e o Renato? — Renato era irmão mais velho do Rodrigo, não morava mais em Belém.
— Tá lá no Rio fazendo o mestrado dele — o elevador chegou e ele apertou o 15° andar a gente chegou no ap. – Entra!
Eu entrei. A ap. era bem bonito, grande.
— Sempre venho aqui quando quero ficar só.
— E quando tu quer comer alguém né?
— Que nada, nunca trouxe ninguém aqui. Tu é o primeiro! – ele disse rindo, pegou o celular e pediu duas pizzas — Vem ver a vista daqui da sacada.
Ele pegou na minha mão e foi me levando, mas só teve um problema: tenho medo de altura! Hahaha! Eu falei pra ele que riu um monte de mim, mas a vista era linda mesmo, via a cidade toda. A gente foi pra sala e sentou no sofá.
— Tenho que te contar um coisa, Rodrigo.
— O que?
— É sobre o Guga.
Ele ficou sério nessa hora.
— Eu prefiro não saber.
— Mas tu tem que saber! – eu respirei fundo e contei tudo pra ele. Eu vi que ele ficou nervoso.
— Ele não te machucou, né?
— Não, mas sabe, eu entendo ele. Eu acho que ficaria do mesmo jeito que ele ficou.
— Eu vou ter que conversar com ele.
— Eu acho melhor dar um tempo, quando ele quiser conversar ele vem atrás.
— Tu tem o dom de arrumar confusão, né?
— Tenho nada, cara.
— Tem sim.
Ele pegou as minhas pernas e colocou em volta da cintura dele e começou a me beijar. Era nítida a diferença entre o beijo de homem e de mulher, o de homem tem mais pegada, pode usar força, firmeza, já se a gente for um pouco mais forte com a mulher ela logo reclama (claro que tem as que gostam). Ele começou a morder meu pescoço e eu fiquei arrepiado (acho que é universal) a barba dele tava meio que crescendo e isso ajudava mais.
— Faz isso não...
— O quê, Vinícius? – ele voltou a beijar meu pescoço.
— Isso! – falei meio gemendo. Ele riu e parou e ficou me olhando e eu reparei numa cicatriz pequena que ele tinha perto da sobrancelha — Que cicatriz foi essa aqui na tua sobrancelha?
— Quer fazer graça, né?
— Não, porque?
- Cara, foi tu que fez isso não lembra? A gente era moleque, a gente saiu na briga e tu me jogou uma pedra.
— Caralho, foi mesmo! Ah, ela deu um charme a mais em ti! – eu comecei a rir.
— Tu ri, é? – ele me abraçou e me deu um beijo.
— O que tu falou com o Príncipe?
— Ah, umas coisas sobre a gente.
— É, ele me falou.
— O quê?
— Calma, ele me falou antes da formatura dele. A gente teve uma conversa e ele me contou que tu tinha conversado com ele e falou o que rolou lá em Fortaleza.
O Rodrigo foi ficando vermelho de vergonha.
— Não acredito que tu ficou com vergonha!
— Fiquei nada.
— Tá bom, então.
Ele deitou com a cabeça no meu peito e eu fiquei passando a mão nos cabelos dele, fiquei imaginando coisas sobre a gente e acabei rindo.
— Do que tu tá rindo?
— Da gente aqui assim, não é normal.
— E tu acha que a gente é normal? – ele levantou — Nem perguntei, tu quer beber alguma coisa?
— Pode ser.
A gente foi pra cozinha e tinha cerveja, uísque, cachaça.
— Cara, comida que é bom nada, mas bebida não falta, né?
— Mais é claro!
Eu peguei uma latinha e ele também, a gente ficou conversando na sacada.
— Cara, a gente se conhece há anos e eu não sei nada de ti. Me diz o que tu curte fazer, filme preferido, cor, comida... — Rodrigo disse.
A gente ia falando o que um gostava pro outro e a gente percebeu que éramos muito parecidos. Rodrigo ria, e falava que era mentira, que a gente não podia ser tão parecidos, até que o interfone tocou. Ele levantou e foi atender. Eu fiquei sentado ali na sacada curtindo aquele vento.
— A pizza chegou. Vou lá em baixo pegar.
— Quer que eu vá junto?
— Não, mas pega prato, garfo, essas coisas, ali no armário.
Ele foi lá e eu fui pegar o que ele mandou. Coloquei em cima da mesa e me deu uma vontade de mijar, então fui atrás do banheiro, e com isso descobri que o ap. tinha três quartos e um banheiro. Eu entrei e mijei, quando ouvi a porta abrindo.
— Querido, cheguei!
Eu ri daquilo. Era estranho, ali eu realmente tava conhecendo o Rodrigo. Lavei minhas mãos e voltei pra sala.
— Fui no banheiro.
Ele veio até mim, me encostou na parede e me beijou. Terminou o beijo sorrindo e com o mesmo sorriso ele falou:
— Quer namorar comigo?
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Eu não sou gay, eu só me apaixonei por outro cara.
Short StoryHistória real, conto romântico homossexual contando a história de Vinicius e Rodrigo que de inimigos se tornaram namorados. É aquele velho ditado. Os opostos se atraem.