Rodrigo Aff.

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O Rodrigo chamava a galera. Passei a mão na minha cabeça e senti um galo na parte de trás e a outra mão doía muito.
— Aii...
— Fica quieto, vai.
— Meu pulso tá doendo.
E fui tentar me levantar.
— Já disse, caralho, fica quieto!
O Rodrigo me deitou ali no chão e saiu do banheiro quando o Fábio entrou correndo.
— Caralho, Vinícius, o que foi?
— Não sei, acho que escorreguei e caí.
Nisso o Príncipe entrou no banheiro.
— Me ajuda aqui Rafael!
Ele veio junto com o Fábio e me levantaram.
— Ai, caralho, minha mão!
Eles me levaram pra Unimed. Chegando lá, eu bati um raio X da mão. Resumindo: eu tinha quebrado dois dedos e torcido o pulso. Eles me levaram em casa, quando a mamãe me viu veio logo falando:
— Tu e o Rodrigo já brigaram de novo?
O Fabio disse:
— Não tia, dessa vez foi acidente mesmo, ele caiu no banheiro e quebro dois dedos.
Pra quê? Ela mudou na hora, veio me abraçando, me beijando, fazendo aquele drama que toda mãe sabe fazer. Fui pro meu quarto, tirei a roupa e fui pro banho, pensa num banho escroto aquele, mas enfim, vesti só uma samba canção e me deitei na cama. Quando tava quase dormindo dei falta do meu celular. Puta que pariu! Tinha perdido ele! Fiquei pensando mais um pouco e dormi. No outro dia eu acordei com dor aonde eu não sabia que existia. Passei o dia na cama, à noite o Príncipe apareceu lá por casa.
— Aí, pronto pra outra?
— Sempre!
— Eu vim mais pra te devolver isso! – ele tirou do bolso o meu celular.
— Valeu! Foi tu que pegou?
— Não, foi o Rodrigo que achou e mandou eu devolver.
— Pelo menos ele serve pra alguma coisa!
— Porra, tá ae, nunca eu consegui entender o motivo de vocês nunca terem se dado bem.
— Simples, porque eu nunca fui com a cara dele. Maior idiota, sempre se achando o fodão melhor de todos, um babaca, isso sim é o que ele é!
— Só me convida pro casamento!
— Olha, não te dou-lhe um soco, porque eu tô nesse estado!
A gente começou a rir. O Príncipe tinha 25 anos e desde mais novo a gente se deu bem, mesmo com essa diferença de idade.
— Bom, já vi que tu vai sobreviver, vou indo nessa. Tenho que dar uma ajeitada no TCC ainda.
— Vai lá e brigadão pelo celular!
— Tu não tem que me agradecer e sim ao Rodrigo, não só pelo celular e sim por ele ter te ajudado no banheiro.
— Falou, Rafael, vai estudar, vai!
Ele riu e foi embora. Peguei meu celular e vi que ele estava arranhado certamente por causa da queda.
Passei a quinta, sexta, sábado e domingo em casa. Na segunda voltei à vida normal, à noite fui pra faculdade, sorte que a mão machucada não foi a que eu escrevia. No intervalo entre a segunda e a terceira aula eu fui à cantina comprar um suco, fiquei lá esperando a moça trazer, quando eu olhei pro fundo vi o Rodrigo só, lendo alguma coisa. Não sei por que me veio na cabeça o Príncipe falando que eu deveria agradecer por ele ter me ajudado. Meus pensamentos foram interrompidos pela moça com o meu suco, eu peguei e fiquei pensando se ia ou não ia, até que engoli em seco e fui andando até ele. Sabe quando tu não quer fazer aquilo mesmo sabendo que é certo? Era isso que eu sentia. Quando tava chegando ele olhou pra mim, deixou o livro em cima da mesa e se virou. Parei na frente dele e fiquei mudo, até que ele falou:
— A que devo a sua digníssima presença aqui?
Eu respirei fundo e dei um sorriso.
— Só vim te agradecer, por te me ajudado no banheiro e por te achado meu celular.
Ele começou a rir, aquilo me deu uma raiva!
— Porra, tu não cresce mesmo! Bem, já agradeci, mas se tu é tão idiota e não quer meu agradecimento, foda-se.
Ele parou de rir.
— Eu só fiz o que eu faria por qualquer pessoa no teu lugar. — ele ficou me olhando.
— Brigado, mais uma vez! — saí e deixei ele lá — Idiota, idiota! — só isso que me vinha na cabeça. Voltei pra sala e assisti a mais uma aula, quando saí tava uma chuva desgraçada. Peguei meu celular e liguei pro papai e só dava desligado e o da mamãe também. Liguei pro Fábio.
— Fala!
— Fabinho, vem me buscar na faculdade, por favor!
— Caralho Vinícius, hoje não rolar! – ele começou a rir.
— Porra Fábio, o celular da mamãe o do papai só dão desligado. Tu tá aê no condomínio?
— Não, deixa eu desligar que tu tá atrapalhando a minha foda!
Ele riu e desligou. Aí que eu me toquei e comecei a rir também. É, o jeito era esperar a chuva parar e ver se alguém aparecia. Continuava ligando pra eles, já tava ficando triste ali esperando e pra completar meu celular descarregou.
— Puta que pariu, era só o que me faltava!
Até que o Guga apareceu.
— Tá fazendo o que aqui?
— Porra, cara, ainda bem que tu apareceu! Me dá uma carona até em casa?
— Claro! Pow fiquei sabendo do teu tombo no banheiro, como o senhor tá?
— Porra, tá foda, viu, foi logo a mão que eu bato umazinha! - a gente começou a rir juntos.
Fomos andando pro estacionamento e conversando até chegar no carro dele.
— Tu tá devendo uma pro Rodrigo, né?
— Tô nada. — a gente entrou no carro.
— Como não? O cara te ajudou e tudo, tu tem que retribuir. — ele falava meio que irônico.
— Já agradeci por ele te me ajudado e isso já basta!
— Mas falando sério agora, ele ficou preocupadaço contigo. Ele me falou que quando te viu caído ali no chão ele ficou sem saber o que fazer, pensou que tu tivesse morrido.
— Tu mente mal pra caralho, Gustavo!
— Sério, porra!
A gente ficou conversando, ele me deixou na porta de casa.
— Valeu, mano.
— Que isso, precisando é só chamar.
Eu ia saindo do carro quando ele falou:
— Tá ficando com alguém, cara?
Eu olhei pra ele sem entender o motivo da pergunta do nada.
— Não mano, tô só! Ninguém me quer!
— Qual é? Tá foda mesmo tu sem ninguém te querer!
Eu comecei a rir.
— Pow, me avisa quem é que tá afim de mim que tamo aí cara, mas deixa eu ir, brigadão mesmo!
Eu saí do carro dele correndo por que ainda chovia. Não tinha ninguém em casa, fui direto pro meu quarto, tomei um banho e fiquei vendo tv até que meu celular vibrou. Peguei ele e li a seguinte mensagem:
"Como eu queria estar contigo nessa noite de chuva, cuidando de ti, mas um dia isso vai ser possível"
Eu li aquilo e comecei a rir, juro! Que coisa mais brega, eu pensei. Peguei meu celular e liguei para aquele número e só chamou. Desliguei a tv e fui dormir.
Os dias foram passando normais. Depois de quase 20 dias minha mão já estava melhor. Era um domingo, se eu não me engano, tava em casa quando ouvi um barulho de gente falando alto, olhei da sacada do meu quarto e vi um monte de gente na frente de casa, melhor dizendo na frente da casa do Rodrigo. Sim ele morava na casa que ficava em frente da minha, bem, não só ele, como o Fábio, o Príncipe, a Vanessa e outros que ainda vão aparecer, quando o Fábio me viu e gritou:
— Vinícius, desce aê e chega aqui!
— Tá ficando doido, né?
— Para de frescura e vem logo!
— Deixa eu voltar a estudar.
Eu entrei em casa, e dez minutos depois recebi uma mensagem:
"Só de te ver, meu dia ficou feliz"
"Porra, é o Fábio que me manda essas mensagens?" — me levantei, desci e fiquei olhando da janela pra casa do Rodrigo. Fiquei olhando pro Fábio e liguei pra aquele número e começou a chamar, e nada de ele fazer algo que desse a entender que era ele. Desliguei.
"Porra!"
Fiquei o resto da tarde estudando e o som torando na casa do Rodrigo. Lá pelas seis da tarde, como tava quente, eu fui numa sorveteria que tinha perto de casa. Quando eu saí na porta, os malucos começaram a gritar meu nome:
— VINÍCIUS, VINÍCIUS !
Eu só ri. Passei e parei pra falar com eles e fiquei um tempo conversando, quando o Rodrigo surge com um cordão de prata gigante no pescoço, com uma bermuda estilo surfista aparecendo metade da cueca e com um copo na mão. Ele me olhou e deu uma balançada com a cabeça tipo me saudando, eu fiz o mesmo. Deixa eu explicar uma coisa que eu não disse no primeiro texto: sempre era assim, em festa ou uma social qualquer, que a gente se "falava". Até hoje eu não sei o porquê disso, mas era só isso, eu acho que era uma forma de respeito, sabe?
Eu disse que tinha sair e fui à sorveteria, comprei meu sorvete e voltei pra casa. Quando eu entrei no condomínio, eu ouvi o funk torando alto e a galera gritando.
— Eita, alguém tá dando um show! — pensei comigo. Fui chegando perto e vi tipo um círculo quase no meio da rua, e a galera lá gritando. Foi quando eu vi o Rodrigo dançar, era uma música do Mr. Catra, eu parei e fiquei olhando aquilo, tipo, que porra é essa? Ele me viu ali e parou.
— Gostou do que viu?
— Me erra, cara! — eu comecei a andar, mas ele correu e ficou na minha frente.
— Qual é a tua, hein?
— Sai da frente, Rodrigo! — eu fui me desviar dele, mas ele se meteu na frente.
— Hein, caralho, qual é a tua, porra?
Ele falou aquilo gritando, tipo, eu não tinha feito nada pra ele.
— Não tô a fim de confusão Rodrigo, sai da frente, caralho!
— E se eu não sair, vai fazer o que? Chamar a mamãe?
— Não, vou quebrar a tua cara mais uma vez!
Ele veio pra cima de mim, mas só que como a galera tava perto não deixaram ter confusão.
— Idiota, vai lá fudido, vai pau no cu!
— Isso não vai ficar assim, eu vou te pegar filho da puta!
Ele queria por que queria brigar comigo. Os amigos dele seguravam ele, mas ele parecia um bicho. O Fábio veio até mim.
— Que porra foi essa?
— Sei lá Fábio, eu não fiz nada pra ele, tu viu.
— A galera viu, ele pirou do nada.
— Deixa eu entrar, que eu ganho mais.
Fui chegando na porta de casa quando ele gritou:
— Isso, foge mais uma vez, tu sempre foge, né ?
Eu entrei em casa, mas fiquei pensando: o que ele quis dizer com fugir? Depois que eu entrei, a festa acabou.
Acho que uns dois meses depois as mensagens continuavam e o Rodrigo meio que pediu desculpas pelo o que tinha feito.
No final de maio uma amiga nossa ia fazer 19 anos então ela ia fazer uma festa no estilo anos 50, sabe. Comprei uma roupa igual a daquela época e fui, tava de calça jeans, camisa básica branca pra dentro, uma jaqueta de couro preta e o cabelo com um quilo de gel. Era essa a roupa dos homens, já as meninas estavam com uns vestidos, a maioria era de bolinha. Enfim, fui ao bar pegar uma bebida e pra chegar lá a gente passava por uma lambreta, que quem quisesse bater foto, podia. Lá era meio escuro e não tinha ninguém, eu tava mexendo no meu celular, quando eu escutei alguém falando:
— Tá a fim de da uma volta broto?
Eu olhei e era o Rodrigo, ele tava muito engraçado mesmo, parecia que tinha saído de um filme (jaqueta jeans, o cabelo cheio de gel, óculos escuros, camisa branca e etc.) eu ri com o que ele tinha falado.
— Contigo eu não vou nem pro inferno!
— Essa foi foda, viu!
Nessa hora meu celular apitou, era uma mensagem:
"não aceito ninguém perto de ti, muito menos essa idiota".
Já tava ficando puto com isso.
— Caralho, tá perdendo a graça, essa porra! – e fiquei olhando pra ver seu achava alguém. Uma coisa eu sabia, era alguém do nosso meio.
— Eita, pelo visto a mensagem não foi boa!
— Um filho da puta tá há quase dois meses me mandando mensagem, dizendo que é a fim de mim e o caralho, isso já perdeu a graça.
— Posso ver?
Eu olhei pra ele e dei o celular, ele leu a mensagem e ficou sério.
— Esse filho da puta tá falando de mim?
— Me dá meu celular?
Ele ficou segurando meu celular e olhando pra mim.
— É alguém do nosso meio, né?
— É, tô desconfiando de alguém, mas não tenho como provar! — peguei o celular da mão dele. Ele começou a rir.
— Primeira vez que eu me lembre que a gente tem uma conversa normal!
— E tu sabe o que é ter uma conversa normal?
— Caralho, depois que eu quebro a tua cara...
Outra mensagem chegou:
"por que tu tá dando trela pra ele?"
—Caralho, quem é tu, porra? — fiquei olhando pra ver ser achava quem era, mas a maioria tava com o celular na mão.
— O que ele escreveu dessa vez?
— Nada não!
— Tá falando de mim?
— Tchau, Rodrigo! — eu dei as costas pra ele, mas ele segurou meu braço e me encostou na parede numa parte mais escura de onde a gente tava.
— Me deixa ver!
A gente tava tão perto que deu pra sentir o hálito dele no meu nariz. Ele largou meu braço e quando eu senti os dedos dele descendo pelo meu braço até chegar na minha mão...

Eu não sou gay, eu só me apaixonei por outro cara. Onde histórias criam vida. Descubra agora