- Eu te entrevistei, há pouco tempo, para a...
- Mas é claro. – O sorriso dele se alargou. – Você é a Naná. Grande Naná Karabachian! – A voz dele era tão grave, que atraiu o olhar dos outros professores.
Adri abaixou a cabeça envergonhada, e pareceu escolher as palavras, antes de continuar o que pretendia fazer.
- Será que eu posso conversar com você a sós? – Disse, por fim.
Eles foram até o corredor, e ela não conseguia sustentar o olhar dele por muito tempo. Mas antes que suas pernas começassem a agir por conta própria e a fizessem ir embora correndo dali, ela falou rápido, despejando todas as informações em cima dele de uma só vez:
- O meu nome é Adriana Esteves, e eu sou professora aqui na Wolfmaya. A Naná Karabachian, jornalista, é minha amiga; minha comadre, na verdade. Eu substituí ela naquela entrevista, devido a alguns problemas pessoais dela. Olha, eu nem sei porque eu fiz aquilo. Eu nunca imaginei que você fosse aparecer novamente na minha vida, até o dia em que eu te vi subir ao palco, na festa de sábado.
Ele cruzara os braços e a encarava com uma expressão dura, enquanto ela explicava toda a história, desde o pedido desesperado de Naná, até o momento em que o diretor, Murilo, anunciou a vontade dele de realizar a palestra, e futuramente, de fazer parte do corpo docente da escola.
Quando ela terminou de falar, desviou o olhar, mordendo os lábios, e esperou que ele fosse explodir ou algo assim. Mas a reação dele foi completamente inusitada: ele riu. Ou melhor, ele gargalhou:
- Que trapalhada! Parece até um filme de comédia...
- Você não está bravo?
- Eu? Bravo? Por causa disso? Imagina!
- Pois não sabe o alívio que me dá, ouvir isso.
- Olha, Adriana. Eu não sou um grande fã de mentiras. Mas no pouco tempo em que passamos juntos no meu camarim, eu percebi que você é uma pessoa muito inteligente, simpática, educada, e... se me permite, muito linda.
- Obrigada! – Ela sentiu o rosto queimar.
- E eu também espero que nós possamos nos conhecer melhor no acampamento. Acho que vai ser uma oportunidade e tanto. Digo, acho que vai ser maravilhoso, todo o tempo que eu vou ter para socializar com os alunos, e com os demais professores. Você me entendeu, né?
Mas ela não teve tempo de responder, pois os outros professores também deixaram o auditório, com suas pastas nas mãos, conversando animados e os convidaram para um encontro em algum barzinho, no intuito de acertar os detalhes do acampamento, que teria início na próxima sexta-feira.
Às 22:00h, eles se encontraram na porta do Teto Solar, um barzinho no Botafogo. Adri, claro, estava atrasada.
Eu estava parada na frente do espelho de corpo inteiro, decididamente satisfeita com o meu vestido, depois de experimentar mais da metade do meu guarda-roupa, quando o Felipe irrompeu pelo quarto:
- Posso saber qual o motivo de toda essa felicidade, mãe? - Ele sempre foi muito desconfiado.
- Nenhum.
- Aham, sei. - Ele riu.
- Eu vou sair. Vou à um barzinho com os outros professores. Nós vamos conversar sobre o acampamento. – Expliquei, enquanto apanhava a minha bolsa e caminhava para fora do cômodo.
- Só isso? – Ele me seguia, decidido.
- E o Vladmir vai estar lá também.
Eu abri a porta, e saí sem esperar a resposta dele. Mas pelo que eu conheço do meu filho, sei que nesse exato momento, ele está ligando para a Naná. Aqueles dois juntos sempre foram impossíveis. Separados, eles já são bem difíceis de lidar, mas juntos, eles me deixam sem armas para lutar contra as maluquices que eles inventam.
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Sonhos de uma noite de verão
RomanceSonhos de uma noite de verão é uma história bastante alternativa de Adriana Esteves e Vladimir Brichta. O título é baseado na obra de Shakespeare, porém os rumos dessa história são total e completamente diferentes. Adriana é professora de Dramaturgi...