Capítulo 2

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- Eu te entrevistei, há pouco tempo, para a...

- Mas é claro. – O sorriso dele se alargou. – Você é a Naná. Grande Naná Karabachian! – A voz dele era tão grave, que atraiu o olhar dos outros professores.

Adri abaixou a cabeça envergonhada, e pareceu escolher as palavras, antes de continuar o que pretendia fazer.

- Será que eu posso conversar com você a sós? – Disse, por fim.

Eles foram até o corredor, e ela não conseguia sustentar o olhar dele por muito tempo. Mas antes que suas pernas começassem a agir por conta própria e a fizessem ir embora correndo dali, ela falou rápido, despejando todas as informações em cima dele de uma só vez:

- O meu nome é Adriana Esteves, e eu sou professora aqui na Wolfmaya. A Naná Karabachian, jornalista, é minha amiga; minha comadre, na verdade. Eu substituí ela naquela entrevista, devido a alguns problemas pessoais dela. Olha, eu nem sei porque eu fiz aquilo. Eu nunca imaginei que você fosse aparecer novamente na minha vida, até o dia em que eu te vi subir ao palco, na festa de sábado.

Ele cruzara os braços e a encarava com uma expressão dura, enquanto ela explicava toda a história, desde o pedido desesperado de Naná, até o momento em que o diretor, Murilo, anunciou a vontade dele de realizar a palestra, e futuramente, de fazer parte do corpo docente da escola.

Quando ela terminou de falar, desviou o olhar, mordendo os lábios, e esperou que ele fosse explodir ou algo assim. Mas a reação dele foi completamente inusitada: ele riu. Ou melhor, ele gargalhou:

- Que trapalhada! Parece até um filme de comédia...

- Você não está bravo?

- Eu? Bravo? Por causa disso? Imagina!

- Pois não sabe o alívio que me dá, ouvir isso.

- Olha, Adriana. Eu não sou um grande fã de mentiras. Mas no pouco tempo em que passamos juntos no meu camarim, eu percebi que você é uma pessoa muito inteligente, simpática, educada, e... se me permite, muito linda.

- Obrigada! – Ela sentiu o rosto queimar.

- E eu também espero que nós possamos nos conhecer melhor no acampamento. Acho que vai ser uma oportunidade e tanto. Digo, acho que vai ser maravilhoso, todo o tempo que eu vou ter para socializar com os alunos, e com os demais professores. Você me entendeu, né?

Mas ela não teve tempo de responder, pois os outros professores também deixaram o auditório, com suas pastas nas mãos, conversando animados e os convidaram para um encontro em algum barzinho, no intuito de acertar os detalhes do acampamento, que teria início na próxima sexta-feira.

Às 22:00h, eles se encontraram na porta do Teto Solar, um barzinho no Botafogo. Adri, claro, estava atrasada.

Eu estava parada na frente do espelho de corpo inteiro, decididamente satisfeita com o meu vestido, depois de experimentar mais da metade do meu guarda-roupa, quando o Felipe irrompeu pelo quarto:

- Posso saber qual o motivo de toda essa felicidade, mãe? - Ele sempre foi muito desconfiado.

- Nenhum.

- Aham, sei. - Ele riu.

- Eu vou sair. Vou à um barzinho com os outros professores. Nós vamos conversar sobre o acampamento. – Expliquei, enquanto apanhava a minha bolsa e caminhava para fora do cômodo.

- Só isso? – Ele me seguia, decidido.

- E o Vladmir vai estar lá também.

Eu abri a porta, e saí sem esperar a resposta dele. Mas pelo que eu conheço do meu filho, sei que nesse exato momento, ele está ligando para a Naná. Aqueles dois juntos sempre foram impossíveis. Separados, eles já são bem difíceis de lidar, mas juntos, eles me deixam sem armas para lutar contra as maluquices que eles inventam.

Sonhos de uma noite de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora