prefácio

628 152 20
                                    

Mais um sexo terminado e você rola para longe de mim, agarrando o maço de cigarro na cabeceira da cama e levando um deles aos lábios. Cabeceira que teve minhas unhas cravadas na madeira há alguns minutos, enquanto sôfregos imploravamos um pelo outro. Lábios que antes estavam em minha pele, deslizando e percorrendo os detalhes negros que você tanto elogiou. Você traga a fumaça como tragou meus sentidos e os lançou aos lençóis quando gritei seu nome.

Eu observo seu maxilar, como ele se desenha de encontro aos seus olhos. Finjo até entender o que você murmura enquanto me conta amenidades do seu dia. Olhos que esvaziaram minha alma e aprionaram-na a necessidade de me deixar estar em sua cama todas as noites, para que esvaziessem algum dia em meu coração.

Deixo que lance a fumaça contra meu rosto, que ela se espalhe e encha ao redor como neblina. Uma luxúria cotidiana que me agarro cada vez que seu número aparece em meu telefone e você me busca. Busca para me lançar na rotina e depois fumar seu cigarro do outro lado da cama, saciado e cansado. Com nossos corpos nús cobertos apenas pela luz da sua cozinha, sinto enfim a vergonha.

E mais uma vez, me ergo correndo para que não perceba a dor que é deixá-lo, a dor que é retribuir seu uso. Mas espero ansiosa para que ligue amanhã e façamos sexo como tantas vezes em que imploramos um pelo outro e eu me permito o descarte.

• • •

A Todos os Amores da Sua Vida - RETORNO EM BREVEOnde histórias criam vida. Descubra agora