capítulo quatro

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❝ I don't wanna be your girl no more, no more

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❝ I don't wanna be your girl no more, no more.❞

As cores escuras que cobriam o entardecer no horizonte indicavam a chegada do inverno à Lincoln. O vento frio da praia também já refletia nas roupas de cada morador que cruzava a rua movimentada do centro da cidade, com casacos fechados longos. Massachussetes costumava seguir rigorosamente as aparentes regras de cada estação do ano: no verão, o estado era quente como um microondas ligado; no outono o céu adotava cores mais laranjas e as árvores praticamente se desfaziam; no inverno a brisa do mar trazia chuvas pesadas, mas era na primavera que tudo voltava a ter algumas cores mais alegres, como o rosa das flores. O céu parecia, dessa vez, apontar para uma gároa.

Steve e eu estávamos carregando algumas caixas de ferramentas para a caminhonete estacionada na frente da Lincoln Tool Rental após o final do expediente. Horas haviam se passado, e a maior parte delas eu passei na frente da tela do computador ora refazendo planilhas, ora observando se o chat de Hunter no Facebook estava na cor verde ou cinza. Era patético da minha parte ressuscitar uma conta desativada há dois anos atrás apenas para poder olhar suas últimas fotos em Cleveland, ou suas últimas interações com aquelas pessoas que eu nunca veria na vida. Tão patético que, quando meu pai retornou das entregas com Steve e nos pediu ajuda para carregar algumas caixas  da bagunça que ele mesmo havia feito no depósito atrás da loja, eu quase pulei de alegria. Ocupar minha mente não só me ajudaria, como me manteria distante de Hunter. Bom, distante da versão online dele, pelo menos.

Acho que eu já estava saindo com a sexta caixa do depósito quando ouvi uma movimentação estranha na entrada da loja. Dali dos fundos eu não conseguiria ver os rostos das pessoas que meu pai tanto cumprimentava animadamente, mas era uma distância suficiente para que meu cérebro reconhecesse suas vozes em meio às risadas. A mãe de Hunter, Paty, conversava com Steve de um lado da calçada, com seus cabelos curtos soltos nos ombros e com sacolas nas mãos, enquanto o próprio Hunter James abraçava meu pai em frente à porta do passageiro da caminhonete. O meu coração estava tão descompassado que precisei de alguns minutos, observando a cena a minha frente se desenrolar, antes de abraçar a caixa cheia de cordas enroladas dentro como se aqueles nós fossem um escudo protetor. Meu pai esperava pela caixa e não era como se eu pudesse me esconder de Hunter por muito tempo morando numa cidade minúscula como era Lincoln. Nós nos esbarrariamos eventualmente, mesmo eu não esperando que fosse tão cedo assim, a contar as poucas horas do nosso primeiro encontro. — ... Ah, não se preocupe. Acabamos de sair do mercado com alguns ingredientes para o jantar. — a voz de Paty se sobressaiu na conversa a medida em que eu me aproximava a passos lentos da situação constrangedora que poderia se formar no exato segundo que meu pai notasse meu desconforto. Ele com certeza soltaria alguma piada para quebrar o gelo e eu realmente preferiria enfiar a cabeça num buraco a passar por outro episódio turbulento com Hunter.

— Nós podemos marcar um almoço num domingo agora que Hunter está de volta à cidade. — Sugeriu meu pai quando eu já estava parada na porta de entrada da loja, tentando não desviar a atenção da caixa em meus braços para os olhares de Hunter em minha direção.

A Todos os Amores da Sua Vida - RETORNO EM BREVEOnde histórias criam vida. Descubra agora