1.3 - Pazes

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KARA PDV

No dia seguinte procurei Lena desesperada por toda a faculdade, cheguei mais cedo uma hora só pra isso. Eram exatamente seis da manhã, mas precisava falar com ela. Depois de praticamente ter revisto todos os banheiros, corredores e jardins. Esperei ela na entrada, deveria estar chegando ainda.

Finalmente a vi, ela me fitou estática, naturalmente com seus fones de ouvido e seu semblante sério. Tão linda... Ela tentou me driblar indo direto para a sala pela minha lateral direita, mas não permiti isso.

— Ah não, você não vai escapar de mim dessa vez — puxei-a pelo braço com um pouco mais de brutalidade do que planejava. 

Entramos na sala que por sorte estava com sorte e tranquei rapidamente, ficando na frente.

— O que está fazendo, Kara? — ela olhou pra mim surpresa. 

Ela não estava irritada, isso já era um bom sinal... eu acho. Aproximei-me lentamente e segurei seu rosto com carinho e respirei fundo. Imaginei esse discurso na minha cabeça milhões de vezes ontem a noite, mas sempre era mais difícil agir pessoalmente. 

— Por favor, não se afasta de mim, Lê, por favor — implorei sentindo meus olhos marejarem, ela franziu o cenho - você é a melhor amiga que eu tive em anos, eu entendo o seu lado...

— E-eu... — ela tentou me interromper, mas neguei com a cabeça rápido.

— Não diz nada — respondi puxando-a para mim e a abraçando com força — eu gosto tanto de você, está me machucando não te ter por perto, não te contar das coisas, não ouvir você falar sobre suas músicas. Apenas fique comigo, por favor — implorei e ela retribuiu o abraço. Senti meus olhos derramando lágrimas depressa.

Aos poucos ela também chorou. Soluçamos juntas e fizemos as pazes. 

***

Uns dias depois, nossa situação já estava melhor. Voltamos a nos falar intensamente como antes, Sam estava feliz por nós e eu também. Perder o namorado é ruim, mas perder a melhor amiga é o fim, fala sério?! Como hoje era sexta, no fim da aula a convidei pra ir até minha casa. Nós almoçamos e fomos até o meu quarto para assistir alguma coisa.

— Lê, vem cá — chamei ela que sentou-se do outro lado da cama — você sabe que não posso parar de ver meu namorado, não sabe? Ele sempre vai até a universidade... Espero que vocês ainda consigam ser amigos.

— Hm... sim eu sei - ela respondeu meio triste — é que é... complicado pra mim ver vocês... juntos — explicou — mas eu estou tentando aceitar — deu de ombros.

— Eu sei, desculpa não corresponder como você queria — eu digo mais pra mim mesma do que pra ela. Ela assentiu — estou tão feliz que você me perdoou.

— Eu também — ela sorriu de canto — e—eu senti sua falta —confessou timidamente. Sorri.

— Também senti a sua, Lê — respondi a abraçando.

***

Ficamos vendo a série que passava no netflix, mas não consegui prestar atenção. 

A razão pela qual perdi meus pensamentos era que de alguma forma, achei mais atrativo aos meus olhos observar as feições de Lena do que a TV. Era a primeira vez que a fitava sem que ela observasse. 

Eu abri um sorriso involuntário enquanto ela franzia o cenho levemente, olhando a série. Ela sempre fazia isso quando estava tensa de alguma forma. Ela tombou a cabeça para o lado involuntariamente como faz toda vez que esta completamente focada em algo, como quando ela escuta as músicas. 

Sem perceber meu riso alargou-se ainda mais. Era linda a paixão dela por música, chegava a ser invejável. 

Eu a fitava profundamente de soslaio, até decidir inclinar um pouco mais a cabeça em sua direção para olhá-la melhor.

Os cabelos estavam um pouco assanhados, por estarmos deitadas na cama. 

As sobrancelhas expressivas, demonstravam tudo que estava sentindo junto com seus olhos, e por mais que ela tentasse esconder, eu a conhecia demais agora para isso.

Os olhos brilhavam com a luminosidade da TV, deixando de ser totalmente verdes claros para se tornarem um azul celestial, lindo, impressionante. 

Como essa garota não havia arrumado uma namorada ainda? 

Depois, instintivamente, desci até sua boca, carnuda. Parecia tão macia.

Na verdade, ela era macia, eu já havia provado né...

Mas o que caralhos eu estou fazendo? Voltei os olhos pra TV assustada com meus devaneios.

***

SAD EYES - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora