1.9 - Enraizado

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KARA

Uma semana juntas. 

Estávamos completando hoje, eu mal conseguia acreditar, eu me sentia tão feliz. Sempre que dava nos encontrávamos aqui no meu apartamento ou passávamos a tarde na casa da Lena, assistindo filmes, trocando beijos e cafunés, discutindo música durante horas dos quais ela adorava implicar comigo sobre meu gosto musical.

Falando sobre séries, fazendo piadas e cantadas sem graça uma para outra e até mesmo jogando coisas que eu não faço a mínima ideia de como faz e ela me ensina com a maior paciência do mundo - o que eu acho irresistível - porque ela é gamer.

Essa sensação de calor no peito - estranha e familiar ao mesmo tempo - temo que nunca a senti verdadeiramente com o Mike. 

Lena me deixa assim, boba, encantada e cada vez mais fascinada por ela. Clichê dizer que soa como mágico estar com ela e faz~e-la sorrir? É simplesmente a melhor coisa, saber que os sorrisos lindos dela são por minha causa e que seu coração acelerado e bochechas coradas também são. 

Ela fica tão adorável envergonhada, porém, ela retribui isso na mesma moeda, adora me ver assim.

Claro que em uma semana não era um avanço tão grande na relação. Não houve nada como "eu te amo" ou beijos mais vorazes e quentes, apenas estávamos indo devagar. Aproveitando e conhecendo de verdade uma a outra, eu não queria apressar tudo e Lena entendia isso perfeitamente, não pressionando-me em nada.

Porém, mesmo assim notei algumas mudanças como a que Lena estava cada vez mais transpassando alegria, seu semblante raramente agora ficava sério como das outras vezes, ela conversava e puxava assunto com a Sam de maneira descontraída. 

Isso definitivamente era um avanço.

- Dá para acreditar que faz uma semana? Parece até que foi ontem - ela comentou com um sorriso de canto - Você acha que somos almas gêmeas? - indagou me fitando de lado.

- Bem, é muito cedo para dizer, mas de uma coisa tenho certeza - respondi, virando-me de lado na cama.

- O quê? - ela se virou também.

- De que é a primeira vez que me sinto incrivelmente completa e que eu anseio cada vez mais isso do seu lado - falei com sinceridade - Lena Luthor, você é a peça que faltava em mim.

Seus olhos se iluminaram com aquele brilho. Céus! Aquele brilho, aqueles olhos... Podia suspirar durante horas por ele e juro que quando ela me beijou, o mundo poderia estar desmoronando que eu estaria tranquila porque sentia-me calma ao amolecer sob seus braços, segura quando suas mãos perdiam-se em meus cabelos e me puxavam mais para perto, e completamente apaixonada quando seus lábios pressionavam deliciosamente forte os meus. 

Nunca senti-me tão extasiada.

***

No domingo, para mudar um pouco nossa rotina, resolvemos sair para o mesmo parque em que tudo começou, era bom relembrar aquele momento e aquele local era como um marco, então adorávamos voltar até lá.

E mesmo com a nossa demonstração de amor sendo ínfima - nada além de selinhos, abraços e mãos entrelaçadas - as pessoas nos olhavam como se estivessem com limão na boca.

- Ignore-as raio de sol, apenas esqueça - Lena pediu para mim ao mesmo tempo que acariciava meus cachos dourados.

- É difícil esquecer quando tem mais da metade dos olhos do mundo te olhando com desprezo ou curiosidade - respondi baixinho.

- Infelizmente você vai ter que se acostumar - respondeu soltando um suspiro - às vezes ser quem você é pode deixar as pessoas surpresas. O diferente sempre assusta as pessoas de mente fechada - ela deu de ombros.

Não respondi, apenas assenti,, sentindo-me como uma presa vulnerável em meio aos predadores, como se a qualquer momento estivessem prontos para pular em minha garganta. 

Suspirei, levemente ansiosa em querer acabar com essa sensação que tomava meu peito. Lena percebeu que eu não estava bem e puxou meu rosto delicadamente, colando nossas testas.

- Vou te ajudar a focar em outra coisa - ela sorriu de canto, retribui. 

Selamos nossos lábios em um beijo carinhoso e terno, ela sugava meu lábio inferior com cuidado, os lábios deslizavam já conhecendo-se bem, se encaixando como faziam perfeitamente. 

E embora não fosse nenhum beijo de novela, nada demais, quando voltei a olhar os arredores, lá estavam os malditos afrontosos, nos encarando como se fossemos o próprio anticristo. 

Queria dizer a Lena que a distração dela não estava adiantando, que eu sentia-me cada vez mais sufocada e retraída, coisas que eu odiava sentir e que 

Mas tudo que limitei-me a fazer foi abraçá-la de lado e fechar os olhos para tentar aproveitar um momento com minha garota.

Fechar os olhos para não visualizar aquelas pessoas, fechar os olhos para a situação desagradável que não só nós passávamos, mas outros diversos casais também. Fechei os olhos para a realidade do mundo, para ficar mais fácil para mim. 

Um erro achar que isso amenizaria a situação.

***

E foi na semana seguinte, eu não aguentava mais aqueles olhares, sugando toda e qualquer energia boa que eu tinha. Fazendo-me escrava da minha própria consciência como se a decisão que eu tivesse tomado sobre mim estivesse completamente errada e incomodando a todos, como se coubesse a eles decidir isso: opinar sobre a minha própria vida.

Como se meu relacionamento fosse um erro irracional, impensado.

Inevitavelmente, isso fez eu questionar a mim mesma e sem que Lena percebesse, rompi nosso abraço pela cintra e nossas mãos entrelaçadas chegando à conclusão de que talvez fosse melhor não demonstrar nada em público. Talvez as pessoas parassem com essa mania de julgar.

Minha teoria não aconteceu.

Durante alguns vários dias, permaneci quebrando nosso contato, até que quando chegamos em meu apartamento, Lena suspirou e quis uma explicação, obviamente.

- Kara, fazem dias que você não me dá um abraço na frente de todo mundo - ela pronunciou com um tom de chateação na voz- o que aconteceu, raio de sol? Está com vergonha de mim?

- Não, Lê, claro que não... - suspirei - E-eu apenas não sei se aguento essa pressão, quero dizer é horrível ser observada dessa maneira, parece que tem holofotes em mim ou algo assim.

- Eu te disse, infelizmente você precisa se acostumar - ela respondeu um tanto triste e neguei veemente com a cabeça.

- E por que eu deveria me acostumar a ser tratada desse jeito? Como eu posso ter orgulho de mim mesma sendo vista como uma aberração, sentindo-me estranha a cada olhar sujo que me lançam? - indaguei de volta, um pouco irritada, ficando cabisbaixa.

- Eu não quis dizer isso, Kah, desculpe...

- É difícil demais, Lê, eu não imaginei que seria tão desgastante assim - a interrompi.

Um breve silêncio se fez sobre nós, não obtive resposta e estranhei. Quando voltei meus olhos aos de Lena, os dela estavam vermelhos. Entreabri os lábios para tentar me explicar, sabendo que havia me expressado errado de novo, no entanto ela foi mais rápida.

- Oh... então estar comigo é desgastante? - indagou com um sorriso sem humor.

- Não, Lena, espere...- tentei me aproximar, mas ela apenas ergueu a mão com um "pare".

- Foi o que você acabou de dizer! Esquece, depois nos falamos - respondeu pegando seu casaco ao lado do sofá e fitando-me com os olhos levemente marejados - quando você tiver coragem para isso - pronunciou ríspida antes de fechar a porta com força.

Deitei no sofá, colocando a mão sob a testa em desespero, o que eu fiz?

 Tantos jeitos de conversar e eu fui invasiva dessa maneira, meu corpo já emitia sinais de ansiedade, sentindo um sufocar familiar e desagradável no peito enquanto eu pensava ardorosamente em como eu iria reverter essa situação.

***

Twitter: @Lwriterx

SAD EYES - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora